quarta-feira, 15 de maio de 2024
Risco de ataques a escolas virarem rotina no Brasil é real

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Risco de ataques a escolas virarem rotina no Brasil é real

Aproximadamente, dois meses após o ataque a creche em Blumenau, no dia 19 de junho, segunda-feira, tragédia semelhante se repete. Dessa vez, em Cambé, norte do Paraná, resultou na morte de dois adolescentes. Novamente, muita tristeza e comoção popular. Porém, se bem observarmos, praticamente, já havíamos esquecido o ataque em Blumenau, na esperança, talvez, de que fosse o último no país. Mas, não foi. Aconteceu, de novo, em Cambé e não seria pessimismo ou disseminação de pânico cogitar que possam acontecer novos ataques a escolas.

Pessimismo x realismo

Existe uma grande diferença entre pessimismo e realismo. A julgar pelo cenário atual no país é inegável que há uma tendência comportamental para a repetição de ataques semelhantes. O apoio que perversos como esses criminosos encontram na internet é grande e incontrolável. Dois suspeitos foram presos neste caso de Cambé, que teriam ajudado, apoiado, o atirador de alguma forma. Um deles, foi preso em Pernambuco. Até quando a sociedade apenas vai reagir com tristeza e indignação, estando de mãos atadas a espera de que as autoridades façam algo de mais contundente para prevenir novos ataques?

Dessensibilização

É muito preocupante a repetição de ataques a escolas em intervalos tão curtos de tempo. Há o risco de dessensibilização da sociedade, da opinião pública. Tudo o que vira rotina é muito perigoso. Já não se dá mais a devida atenção. É o que ocorre com a corrupção, a violência urbana, os acidentes de trânsito e tantas desgraças comuns e rotineiras no país. Chega um momento em que a população se acostuma e passa a não dar mais a devida importância. A própria imprensa tende a não dar mais tanto destaque e a promover tantos debates quando um fato não se revela mais tão inusitado. Não podemos deixar que o problema da violência nas escolas caia na vala comum dos tantos casos de violência generalizada no país. São vidas de crianças, de adolescentes, de educadores, de servidores da educação, de pessoas cujas vidas não valem mais do que a de ninguém, pois, toda vida humana tem valor, igualmente. Mas, por se tratar de um espaço “sagrado” onde a educação e formação de futuros adultos estão em jogo, demanda um tratamento de maior sensibilidade, de apreço e valorização. A escola precisa revelar-se a extensão de um lar, de um ambiente familiar acolhedor, seguro e estável para seres humanos ainda em desenvolvimento. É algo relacionado a muita vulnerabilidade, pois, são menores de idade ainda sem a devida maturidade para lidarem com situações tão estressantes como a suscetibilidade a ataques violentos e quaisquer situações que possam acarretar insegurança física e psicológica.

Prevenção

É preciso mais realismo e menos otimismo para lidar com esse problema. Torcer e rezar pela segurança nas escolas é sempre válido, mas, não se pode contar com somente ajuda espiritual. Buscar a prevenção de todas as formas possíveis é fundamental. No caso de Cambé, o ex-aluno não deveria ter sua entrada permitida. Ele pediu para ir ao banheiro e não foi impedido. Houve, sim, negligência da escola ao permitir a entrada de uma pessoa que não faz mais parte da comunidade escolar. Inclusive, este sujeito já havia cometido agressão ou ameaça de agressão a outra escola. O que fez a polícia, a Justiça? Quantas vezes mais crimes, assim, vão se repetir até que as autoridades caiam na real que investir em segurança nas escolas e prevenção ao planejamento desses crimes não é gasto supérfluo? A matança só não foi pior porque o “botão do pânico” foi acionado levando a polícia a chegar ao local em três minutos. A ação de um verdadeiro herói que imobilizou o bandido também foi decisiva. Joel Oliveira é o nome do herói que entrou na escola ao ouvir os tiros e conseguiu imobilizar o atirador. Ele contou a imprensa que trabalha numa clínica próxima a escola e entrou na instituição assim que ouviu os tiros. O atirador foi preso e logo encontrado morto, por enforcamento, na prisão. Segundo investigação da polícia, o criminoso deixou vestígios do quê pretendia fazer nas redes sociais e que teria a intenção de matar ao menos vinte alunos da escola em que já foi estudante no passado, por ter sofrido bullying. Alegou ser esquizofrênico e estar sem medicação.

Se não estivesse morto, não seria improvável que o atirador fosse enviado a um hospital de custódia para criminosos considerados inimputáveis. Dentro de pouco tempo, estaria solto para continuar matando.

Soltura de criminosos em hospitais de custódia

Afinal, recente resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta para a soltura gradual, no prazo de dois anos, de todos os presos, cerca de 5 mil, em hospitais de custódia por todo o país. Os nossos mais “ilustres” magistrados querem que esses criminosos “se tratem” pelo SUS, normalmente, em atendimentos psiquiátricos sem necessidade de reclusão total. Definitivamente, a sociedade não pode contar com o Poder Judiciário para nada de construtivo ao país. Resta cobrar dos políticos, tanto dos poderes Executivo como Legislativo, medidas rigorosas para combater e prevenir a violência nas escolas. Antes que isso comece a virar rotina e caia no esquecimento e apatia da população. Só não esquecerão, jamais, os pais e entes queridos de tantas vítimas inocentes.

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