domingo, 28 de abril de 2024
Amadorismo político de Sérgio Moro o coloca em risco de perda de credibilidade

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Amadorismo político de Sérgio Moro o coloca em risco de perda de credibilidade

A tentativa de Sérgio Moro em iniciar uma carreira política tem sido sabotada de todas as formas. O último revés partiu do TRE de São Paulo, que indeferiu a troca de domicílio eleitoral para São Paulo, em resposta a recurso do PT. O ex-juiz iria lançar uma candidatura ao Senado por São Paulo. Muito embora, haja fundamentação jurídica, a negativa terá de valer para todos os candidatos que trocaram de domicílio eleitoral. Do contrário, a perseguição política se tornará mais do que evidente.

Moro disse ter se surpreendido com a recusa do TRE mas, que não vai recorrer da decisão. Ele tem sido aconselhado pelo seu partido, o União Brasil, a concorrer pelo Paraná, a uma vaga no Senado ou na Câmara dos Deputados. Na Câmara, seria o mais aconselhável. Aliás, o partido vai encomendar pesquisa eleitoral para melhor avaliar as chances do ex-juiz e ex-ministro.

Cúpula do União Brasil

No Paraná, Moro terá de buscar apoio da cúpula do União Brasil, repleta de bolsonaristas. Se concorrer ao Senado, por exemplo, poderá ficar numa saia-justa com o senador Álvaro Dias, do Podemos, que, possivelmente, busque uma nova reeleição. Alvaro foi um dos maiores incentivadores de Moro a ingressar no Podemos para lançar uma candidatura à Presidência da República. O senador buscava apoio do governador Ratinho Júnior para sua reeleição, mas, o governador deverá apoiar a reeleição do presidente Bolsonaro, que tem no deputado federal Paulo Martins seu candidato ao Senado. Uma possibilidade que se especula é Dias lançar uma candidatura ao governo do estado, com o apoio de Moro, que se lançaria ao Senado.

A realidade é que a situação de Sérgio Moro não é nada confortável desde que resolveu ingressar na política, quando se filiou ao Podemos, em novembro do ano passado. Quatro meses depois, já saiu do partido e filiou-se ao União Brasil, mesmo sem garantias de que obteria apoio para lançar uma candidatura à Presidência da República.

A impressão que se tem, a quem não tem conhecimento dos bastidores, é que Moro tem sido humilhado dentro do União Brasil, feito de joguete, jogado pra lá e pra cá, e que só querem usar seu nome como puxador de votos em alguma candidatura que seja do interesse do partido e não para atender aos interesses dele próprio e do eleitorado. Moro contava com 10% das intenções de voto para presidente e seu eleitorado o queria, de fato, era como candidato a presidente da República.

Perda de credibilidade

O ex-juiz da Lava-Jato corre um sério risco de perder toda sua credibilidade como figura pública se não conseguir formular boas estratégias e compor com aliados a fim de pavimentar sua carreira política. Vai, infelizmente, passar atestado de incapacidade e falta de perfil para a política. A política, realmente, não é para amadores. Mas, ninguém deixa de ser amador se não começar a “meter a cara”. Contudo, convém não errar demais no início para não “queimar o filme” de vez.

Ingenuidade de amador

É muito provável que Sérgio Moro tenha sido ingênuo e “certinho” demais nesses primeiros meses de atuação política. Confiar em palavras vindas de grupos políticos como o do União Brasil, uma junção do DEM e do PSL, talvez, não tenha sido um bom negócio. O Luciano Bivar, ex-aliado do Bolsonaro, foi quem terminou por lançar uma candidatura à Presidência da República pelo União Brasil. Para quê, afinal? Se não foi, apenas, para atrapalhar os planos de Moro? Talvez, tivesse Moro feito melhor se ficasse no Podemos, a despeito de uma suposta falta de apoio e de recursos financeiros. Ao menos, não estaria sendo humilhado e usado como fazem com ele no União Brasil. Moro foi obrigado a apoiar a patética candidatura de Bivar a presidente da República…

Puxador de votos

Realmente, é lamentável verificar que não há interesse de quase ninguém que Moro entre para a política, a não ser para angariar votos a partidos. Mas, sejamos realistas: a quem, da velha política, interessa Moro presidente da República? O ex-juiz conta com uma horda de adversários, tanto na direita como na esquerda. Tanto a esquerda quanto o bolsonarismo, quanto boa parte do centrão, quer mais é que ele se dane. De apoio, mesmo, ele só tem seu eleitorado em potencial, os lava-jatistas.

Política é construção

Se o ex-ministro do Bolsonaro quiser, mesmo, insistir na política, terá de se conscientizar de que política é uma construção que leva tempo. Ascensões meteóricas não costumam dar muito certo, não se sustentam. Melhor ir devagar e sempre. Concorrer a Câmara dos Deputados já está de bom tamanho a quem está começando. Se Moro não conseguiu apoio em nenhum partido para lançar uma candidatura à Presidência o que o faz pensar que teria apoio para governar caso fosse eleito presidente? Ninguém faz política sozinho, é preciso saber compor, dialogar e unir forças e interesses. Dizer que só o apoio do povo basta é uma visão romântica e demagógica. Na prática, a política faz as coisas acontecerem como resultado de um trabalho de grupo. Esses resultados vão sendo alcançados com o tempo e muita conversa e articulação entre as partes.

Moro, talvez, não tenha esse perfil para a política. Mas, se quiser realmente aprender, o melhor a fazer é começar pelo parlamento, onde encontrará uma verdadeira escola da “arte” de fazer política. Se não tiver essa paciência, é melhor desistir e voltar para os EUA, onde estava muito bem empregado e longe de tantos dissabores que a política nacional costuma oferecer.

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