segunda-feira, 20 de maio de 2024
Votação para ampliação dos colégios cívico-militares pode se revelar termômetro da popularidade de Ratinho Junior

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Votação para ampliação dos colégios cívico-militares pode se revelar termômetro da popularidade de Ratinho Junior

O governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) decidiu investir significativamente no modelo educacional dos colégios cívico-militares. No dia 13, segunda-feira, publicou, no Diário Oficial do Paraná, uma lista de 127 escolas da rede estadual (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio), que poderão ser convertidas ao modelo cívico-militar a partir de 2024, abrangendo 80 mil alunos. A meta é alcançar, gradualmente, 400 instituições neste modelo em todo o estado. Atualmente, são 206 escolas cívico-militares.

Desde que o Ministério da Educação(MEC) do governo Lula decidiu, em julho, descontinuar, a partir de 2024, o programa federal lançado em setembro de 2019 pelo então governo Bolsonaro, o governador Ratinho Junior já havia anunciado, junto a outros governadores, que manteria o projeto, a ser assumido pelo governo estadual. Assim, o governo do Paraná deverá assumir as doze escolas federais, somando 206 escolas cívico-militares administradas pelo Governo do Estado.

A proposta do governo de ampliação, naturalmente, está sob consulta à comunidade escolar. Uma votação deverá decidir se mais 127 escolas (27 em Curitiba) serão transformadas no modelo cívico-militar. Nos dias 28 e 29 de novembro próximos, uma votação (50% mais um voto) deverá ser realizada junto à comunidade escolar para definir o interesse ou não pela mudança. O resultado da consulta pública deverá ser divulgado no próximo dia 5 de dezembro.

Na contramão do MEC

Esta é uma decisão arrojada do governo Ratinho Junior, uma vez que aparta-se à decisão do Ministério da Educação, que optou pela extinção do programa criado no governo Bolsonaro. Acredito que a decisão do governador só desagrada àqueles que têm ranço a militares, associando essa modalidade de ensino à militarização das escolas e a uma doutrinação supostamente “fascista”. Um grande equívoco. Afinal, há uma parceria entre civis e militares na gestão e organização das escolas. Sendo que a direção pedagógica continua a cargo dos educadores civis. São diferentes das escolas oficiais do Exército, onde toda a gestão e direção pedagógica ficam a cargos dos militares.

Programa federal e programa estadual

No governo Bolsonaro, foram criadas 216 escolas cívico-militares no país, dentro do programa federal. Com a implantação, a nível estadual, do Programa Colégio Cívico-Miliar do Paraná, em 2021, o estado atingiu o número de 194 colégios funcionando nesta modalidade a partir do modelo estadual. Há ainda doze escolas cívico-militares com o modelo do programa nacional. Somando as cívico-militares do modelo estadual e as doze do modelo nacional, são aproximadamente 121 mil alunos matriculados em todo o Paraná. O que é um número considerável, sinalizando que boa parcela da comunidade escolar no estado aprova este modelo de ensino.

Melhores índices do Ideb

Razões para aprovação não faltam, aliás. Dados apontam que há modificações, inclusive, no entorno das escolas, a exemplo da diminuição da violência e do tráfico de drogas. Menor evasão escolar e maior engajamento dos alunos ao ensino também são verificados. Sem falarmos nos índices do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que costuma aumentar consideravelmente. De acordo com os dados da Seed (Secretaria de Estado da Educação), as escolas cívico-militares tiveram um avanço maior nas notas do Ideb, entre 2019 e 2021, na comparação com o desempenho das escolas regulares e integrais no mesmo período. Outro diferencial, é a carga horária curricular. Há aulas extras de Português e Matemática, além de aulas de Civismo e de Cidadania. Uniformes específicos do programa estadual são entregues aos alunos e há a presença na escola de monitores ligados ao “Corpo de Militares Estaduais Inativos Voluntários”.

Indisciplina e violência nas escolas

Vivemos tempos bárbaros na educação em nosso país, onde a decadência na qualidade do ensino vem acrescida de crescentes indisciplina e desrespeito a professores, bem como desrespeito mútuo entre alunos. Toda essa degradação representa um caldeirão fervente para o eclodir de trágicos episódios de violência extrema envolvendo o protagonismo de alunos e ex-alunos contra colegas estudantes, professores e funcionários vistos recentemente na imprensa. O clima tem sido de tensão e preocupação, entre pais, alunos e educadores.

Doutrinação ideológica

Outro ponto favorável ao modelo cívico-militar são as expressivas acusações de doutrinação ideológica de esquerda nas escolas por parte dos educadores, conforme alegam pais, responsáveis e, até, alguns alunos já alertados em casa para ficarem atentos a eventuais vieses colocados, ou, mesmo, impostos, durante as aulas. Grande parte da população brasileira é conservadora e não quer seus filhos doutrinados ideologicamente para interpretarem a realidade sob uma ótica progressista. Desde discussões sob a instalação de banheiros mistos (sem gênero) nas escolas, passando pelo uso da linguagem neutra até questões mais profundas como legalização do aborto, feminismo e “luta de classes” e “vitimização de bandidos” estão entre as reclamações de muitos pais conservadores a respeito da referida “doutrinação ideológica” nas escolas.

Pré-candidatura

Como estamos numa democracia, é muito importante a consulta à comunidade. E o melhor de tudo é que ninguém é obrigado a estudar numa escola cívico-militar. Alunos e pais que não concordam, não apreciam ou, sequer, respeitam essa modalidade de ensino, contam com a opção do ensino “regular” em outras escolas. A diversidade de modelos é benéfica, atendendo às necessidades de cada família conforme valores, moral, ética e objetivos próprios. No próximo dia 5, saberemos qual é a vontade da maioria da comunidade em cada escola. Se o objetivo do governador Ratinho Junior de transformar 127 escolas em todo o estado no modelo cívico-militar for alcançado, pode-se dizer que capitalizou um ganho político expressivo, podendo se consolidar como um nome forte da direita para uma pré-candidatura à presidência da República.

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2 respostas

  1. Alguém consultou sobre a implantação de viés ideológico progressista nos conteúdos ensinados nas escolas? Houve alguma consulta junto aos pais sobre a implantação de banheiros mistos? E sobre aulas ensinando como ser trans? E outros ensinamentos que destróem a família, a cultura, o convívio social, enfim, uma sociedade inteira?
    Então, por que consultar sobre algo que garante essa sociedade?

  2. Sou totalmente a favor,estudei em escola cívico militar vou votar sim para o colégio protacio de carvalho no CIC se tornar cívico militar

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