quarta-feira, 8 de maio de 2024
Tendência é terceira via deixar de ser levada a sério pelo eleitorado diante de tanta inconsistência

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Tendência é terceira via deixar de ser levada a sério pelo eleitorado diante de tanta inconsistência

A “terceira via“ para a Presidência da República parece estar determinada a auto-implodir-se, realmente. No dia 23, segunda-feira, mais um pré-candidato, depois de Sérgio Moro, foi boicotado: o ex-governador de São Paulo João Dória. O tucano anunciou sua desistência de concorrer à Presidência da República por não encontrar apoio suficiente dentro do PSDB.

Dória sofreu enorme pressão do partido para desistir em nome de uma aliança com o MDB e o Cidadania. O nome da terceira via, a partir dessa aliança, seria o de Simone Tebet, a senadora do Mato Grosso do Sul que destacou-se na CPI da Covid-19.

Falta de tempo hábil

O nome de Tebet, inclusive, já foi anunciado pelo MDB como pré -candidata da terceira via. Contudo, ainda é temerário afirmar que se consolidará. O desafio é fazer sua candidatura decolar. As próximas pesquisas eleitorais darão um norte às decisões partidárias, pois, a senadora aparece com um percentual muito baixo nas intenções de voto, cerca de 1%.

“Mulher vota em mulher”

Ainda há tempo da pré-candidata crescer nas intenções de voto? Acredito ser muito difícil, a pouco mais de quatro meses das eleições. E a julgar pelo discurso inicial da senadora, já começa mal quando apela a questões de gênero para conquistar o eleitorado. Disse a senadora que “mulher vota em mulher”, tentando cativar o eleitorado feminino. E partiu para aquele velho discurso da esquerda sobre dar poder às mulheres a fim de garantir políticas públicas voltadas a elas, enfim, um mote bastante clichê e surrado que, possivelmente, não comova nem a esquerda – que já tem seu candidato favorito – e, muito menos, a direita, que não tolera política identitária. Quer dizer… Tebet poderia ter surpreendido, mas, incorreu, talvez, em dicas sopradas por algum marqueteiro completamente descolado da realidade brasileira. O eleitorado feminino estaria interessado em votar numa candidata só porque ela é mulher? Conheço muitas eleitoras que não escolhem candidato por gênero, raça ou orientação sexual, por exemplo. O fato de ser mulher seria garantia de competência, honestidade e compromisso com o bem comum, tanto de homens como de mulheres?

Inconsistência

Uma pena a senadora ter perdido a oportunidade de iniciar a pré-campanha com um discurso diferenciado, impactante e encorpado por propostas consistentes… Por falar em propostas, já se sabe que ela afirma ser liberal na economia mas, contra a privatização da Petrobrás.

Estranho, também, é a emedebista defender a dignidade das mulheres, mas ter se calado na CPI da Covid-19 quando houve humilhação e desrespeito a depoentes mulheres como a Dra. Nise Yamaguchi. A médica, por mais que possa estar errada em seus posicionamentos científicos, não deveria ter sido tratada daquela forma aviltante, afrontosa, por membros da CPI. A senadora não disse uma palavra em defesa de um tratamento mais respeitoso a médica.

Falta de consenso

Comenta-se que, ainda, não há consenso dentro do MDB de que a candidatura de Tebet será referendada na convenção. Há setores do MDB que querem ir com Lula, e outros, no sul, com Bolsonaro. Possivelmente, as pesquisas de intenção de voto podem definir se vale a pena investir na candidatura da senadora. Até, porque, o dinheiro do partido não deve ser desperdiçado com propostas inviáveis. A senadora diz ter certeza do apoio do PSDB, também. Entretanto, não há esse clima de consenso no tucanato. A ala do Aécio Neves gostaria de lançar Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul, à Presidente da República. Mas, o gaúcho afirma não ter interesse, no momento.

Piada

Tudo o que se sabe, ao certo, é que a intenção de lançar uma candidatura de terceira via realmente forte virou piada. Ninguém mais leva à sério a chamada terceira via, diante de tanta confusão, reviravoltas, interesses pessoais e falta de vontade política. Sabotaram Sérgio Moro, sabotaram Dória, e não há um nome promissor. E, principalmente, não há tempo para fortalecer candidatura alguma. A senadora é uma ilustre desconhecida do grande público. Só obteve seus “quinze minutos” de fama na CPI. E quem verdadeiramente acompanhou a CPI? Apenas, o eleitorado mais politizado, desde que anti-Bolsonaro. Pois, os bolsonaristas fizeram questão de não acompanhar o chamado “circo” com que apelidaram a comissão.

Polarização

Do jeito que está, o cenário para as eleições presidenciais só faz consolidar a polarização, cristalizando votos em torno de Lula ou Bolsonaro. Dificilmente, os dois não estarão no segundo turno. Para não dizer que não existe algum candidato capaz de crescer e poder fazer frente a Lula ou Bolsonaro, há o Ciro Gomes. O pedetista ainda pode crescer bem mais, e acredito que deverá atrair votos tanto de liberais de direita arrependidos de terem votado em Bolsonaro, quanto da esquerda desiludida com o PT. Mas, somente uma virada histórica poderia colocá-lo no segundo turno, em tão pouco tempo.

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