quarta-feira, 15 de maio de 2024
Presidente do Brasil, Lula compra briga com bancada do agro ao vetar Marco Temporal

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Presidente do Brasil, Lula compra briga com bancada do agro ao vetar Marco Temporal

Sem causar nenhuma surpresa, o presidente Lula vetou, parcialmente, no último dia 20, o Projeto de Lei aprovado no Congresso Nacional que estabelece o Marco Temporal para demarcação das terras indígenas.

O principal item do projeto, o referido ‘Marco Temporal’ (que estabelece a data de 05 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal) foi vetado. A decisão do presidente da República pode gerar uma crise sem precedentes com a poderosa bancada ruralista no Congresso Nacional. A bancada, somada a outras frentes ligadas à oposição ao governo, promete aprovar a derrubada do veto presidencial. O Congresso tem até três meses para apreciar os vetos, mas, de acordo com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o objetivo é derrubar os vetos o quanto antes.

Para derrubar vetos presidenciais, são necessários os votos de pelo menos 257 deputados federais e 41 senadores. ”A Frente Parlamentar da Agropecuária, bancada temática e suprapartidária informa que os vetos realizados pela Presidência da República à Lei do Marco Temporal serão objeto de derrubada em sessão do Congresso Nacional”, disse a Frente, em nota.

Crise Congresso X STF

A tese do Marco Temporal tem sido o pivô da crise instalada entre Congresso Nacional, de um lado, e o STF e governo Lula, de outro.

O tema vinha sendo debatido no Congresso e no STF, paralelamente. Segundo a tese do Marco Temporal, a demarcação de terras indígenas só pode ocorrer em comunidades já ocupadas por indígenas quando a Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988. Ambientalistas e lideranças indígenas a rejeitam sob o argumento de que muitas comunidades foram expulsas de seus territórios originais antes de 1988. Já os proprietários de terras, alegam que o não estabelecimento de um Marco Temporal pode causar insegurança jurídica, abrindo precedentes para que áreas ocupadas por não-indígenas possam ser reivindicadas como terras indígenas mesmo que elas não estivessem sendo ocupadas por povos originários antes da promulgação da Constituição.

Lula sob pressão

O presidente Lula foi muito pressionado por ambientalistas e movimentos indígenas para que vetasse integralmente o projeto. Mas, também havia pressão dos parlamentares da base governista, que aconselharam o presidente a não gerar mais atrito ainda com a bancada do agro. Contudo, em campanha, Lula havia se comprometido com a causa indígena e ambientalista.

Itens vetados

O petista também vetou outros itens aprovados pelo Congresso, a exemplo do item que prevê a possibilidade de arrendamento de terras indígenas para não-indígenas; além do item que permite o cultivo de alimentos transgênicos nessas áreas e o que abre brechas na política de não contato com indígenas isolados.

O presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), criticou os vetos de Lula e avisou que a bancada ruralista está pronta para mais um embate com a ala governista. Classificou de desrespeitosa à maioria do Congresso Nacional a decisão dos vetos. Segundo o parlamentar, já há os votos necessários para derrubada dos vetos.

Propostas de Emendas à Constituição

Além de se mobilizar para derrubar os vetos, a FPA deverá tentar acelerar a tramitação de duas propostas de emendas à Constituição (PECs) que tratam do assunto. Uma delas, a PEC 48, restabelece a tese do Marco Temporal. A outra, a PEC 132, prevê o pagamento de indenização a proprietários que tenham suas terras convertidas em terras indígenas. Por se tratar de uma PEC, as mudanças propostas não estariam sujeitas à sanção presidencial e abririam menos margem para contestação junto ao STF, uma vez que alterariam o texto constitucional.

Invasões de propriedades rurais

Enquanto isso, proprietários de terra temem perder suas propriedades e se preparam para uma “guerra no campo”, se necessário. Teme-se inclusive, o uso dos indígenas pelo MST para promoção de invasões de propriedades.

Desta vez, o presidente Lula comprou uma briga feia com a bancada mais poderosa no Congresso. Um desgaste desnecessário, uma vez que seu governo já se encontra refém do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Centrão, cujo apetite por cargos parece insaciável. E sem o oferecimento da garantia de “amor eterno” e fidelidade ao governo “pro que der e vier” mesmo quando este apetite é saciado, temporariamente.

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