terça-feira, 21 de maio de 2024
“Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo”, diz Gilmar Mendes

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

“Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo”, diz Gilmar Mendes

A declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, durante entrevista ao programa Roda Viva, no último dia 8, deu-se em contexto em que tecia críticas a operação Lava-Jato. E causou indignação popular, gerando manifestações públicas de políticos como o deputado federal Deltan Dallagnol, o deputado estadual Ney Leprevost e o governador Ratinho Junior.

Ofensa e preconceito

Não é preciso ser curitibano para perceber como ofensiva e descabida a afirmação do magistrado, basta admitir que, no cerne dela, encontra-se um rancor absolutamente pessoal e político contra a operação Lava-Jato, que cometeu a “ousadia” de julgar, condenar e colocar na prisão políticos e empresários pertencentes a uma poderosa quadrilha que assaltou os cofres públicos com o aval do eleitorado. Prender criminosos de crimes do “colarinho branco” pela primeira vez na História do país deve ter causado muito ressentimento a Gilmar Mendes, o ministro especialista em soltar bandidos e anular sentenças com base nas conveniências políticas do momento.

“Conveniências“ políticas

Estranhamente, lá pelos idos de 2015, no auge da Lava-Jato, Mendes chegava a elogiar a operação nascida na “República de Curitiba”. Era, inclusive, bastante dúbio, oscilante, em relação a prisão após condenação em segunda instância. Houve momentos em que se mostrava favorável a prisão após condenação em segunda instância. Com o passar dos anos, foi se tornando um crítico atroz, contumaz, da operação Lava-Jato. O que teria feito de Gilmar Mendes um convicto desmoralizador da Lava-Jato nos últimos anos? Tanta parcialidade em seus julgamentos a corruptos, sempre concedendo-lhes todas as regalias possíveis, faria do ministro a pessoa mais adequada para acusar a Lava-Jato de uma operação ”política” e “parcial”? Logo ele, tão dedicado a posicionar-se ao sabor das conveniências políticas de seus “protegidos”?

“Canceladores“ calados

Apesar da indignação popular diante de declaração tão preconceituosa, rançosa, sobre Curitiba, não se viu grandes manifestações da imprensa, de influenciadores digitais, de artistas e de toda a patota militante nas redes sociais, sequer, insinuando revolta e horror contra o teor do que foi dito. Pensávamos que atribuir “fascismo” a um grupo populacional fosse um xingamento bastante ofensivo para essa turma sempre a postos para lançar novos “cancelamentos” a qualquer um que cometa algum deslize para além das estreitas linhas ditadas pelo politicamente correto. Nenhum movimento de iniciativa da Rede Globo, por exemplo, para cancelarmos Gilmar Mendes por declaração tão desrespeitosa, ofensiva, preconceituosa, intolerante e racista. Afinal, xingar um povo inteiro de “fascista” é uma forma de racismo, pois, emite um juízo de valor pejorativo a toda população de uma cidade.

Indignação seletiva

Mas, imaginemos se fosse o contrário. Se fosse o ministro ”terrivelmente evangélico” André Mendonça, indicado por Bolsonaro, a dizer, por exemplo, que a Bahia gerou Lula e a esquerda. Que a Bahia contém o germe da esquerda, do comunismo. Teríamos certeza que a fala seria reproduzida a exaustão na imprensa e nas redes sociais pela militância, por influenciadores digitais como Felipe Neto, que estariam fazendo um estardalhaço viralizante pedindo o cancelamento do “ministro terrivelmente evangélico” do Bolsonaro. Mendonça seria acusado de racista, preconceituoso, fascista, elitista, e uma multidão de esquerdistas estaria pedindo sua cabeça, alegando que não tem respeito a liturgia do cargo, não estando apto a permanecer no cargo de ministro da mais alta corte do país. Seria visto como um crime hediondo, inafiançável, tachar os baianos de “comunistas” e de responsáveis por todas as práticas criminosas durante os governos do PT. Por muito menos, sulistas já foram tachados de “preconceituosos, racistas e fascistas” apenas por reclamarem de uma maioria de votos a Lula no Nordeste…

Generalizações

Realmente, são dois pesos e duas medidas quando se trata de “cancelamentos”. É digno de cancelamento apenas o que não se coaduna aos interesses da esquerda. Gilmar Mendes deu-se conta da “mancada” no Roda Viva e pediu desculpas, no dia seguinte. Disse que não queria ofender os curitibanos. Porém, o estrago já foi feito. Não apenas pela generalização estúpida, ao tentar incutir a ideia de homogeneidade de pensamento a toda uma população, mas, porque seu raciocínio é uma inverdade. É fato que Bolsonaro surfou na onda do antipetismo trazido pela Lava-Jato, mas, o bolsonarismo vai muito além do combate a corrupção e da aversão ao PT. Foi um movimento muito mais centrado no conservadorismo com pitadas de messianismo político em torno da figura de um líder.

Simplismo

Atribuir a “República de Curitiba” a causa do surgimento do bolsonarismo é de um simplismo irresponsável. O bolsonarismo foi um movimento muito mais complexo. Bolsonaro teve um alto percentual de votos em Curitiba e Região porque se trata de um povo, em geral, que repudia a corrupção e que preza por valores conservadores como, trabalho, família, patriotismo, a livre iniciativa privada, a liberdade de expressão e a fé religiosa. O curitibano típico apoia a meritocracia porque acredita no valor dos esforços pessoais para se adquirir melhores condições de vida, de prosperidade, de progresso e desenvolvimento. Seus antepassados imigrantes e migrantes assim os ensinaram. E isso não tem nada a ver com fascismo. Mas, para a esquerda, enfim, tudo o que é contra seus interesses é rotulado de “fascismo”.

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