Lula busca aparar arestas com setor ambiental ao mesmo tempo em que acena para o agronegócio
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Lula busca aparar arestas com setor ambiental ao mesmo tempo em que acena para o agronegócio

O presidente Lula, nos últimos dias, tem demonstrado empenho em aparar arestas com setores onde havia desgaste e mal-estar. Na segunda-feira, dia 5, em evento de comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, buscou reparar perdas e danos com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a militância ambientalista, que anda indignada com determinadas medidas do governo contra a agenda ambiental.

Um exemplo foi o esvaziamento da pasta de Marina que, na MP dos Ministérios, perdeu para outras pastas atribuições fundamentais, a exemplo da gestão dos recursos hídricos e fiscalização do cumprimento do Código Florestal em propriedades privadas, a gestão do CAR – Cadastro Ambiental Rural.

Combate ao desmatamento

Para atenuar as insatisfações com a falta de uma agenda ambiental mais consistente e comprometida com promessas de campanha, Lula assinou, no evento, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. O Plano, criado por Marina em 2004, quando de sua passagem pelo mesmo Ministério, havia sido abandonado no governo Bolsonaro. O Plano promete fechar o cerco a desmatadores ilegais e o embargo imediato de metade das áreas devastadas em unidades de conservação federais. Tem ainda por objetivo zerar o desmatamento ilegal até 2030. O presidente também vetou a MP aprovada no Congresso Nacional que afrouxa a proteção a Mata Atlântica. E prometeu reverter o esvaziamento da pasta do Meio Ambiente pela aprovação da MP dos Ministérios, trabalhando no Congresso Nacional para esse intuito.

Agronegócio e PIB

Se as metas apresentadas no pacote ambiental se mostrarão utópicas ou viáveis, é uma grande dúvida no país do “PIB do agronegócio”… Por falar em “agro”, este foi outro setor com o qual o presidente Lula começa a buscar reconciliação, visando aparar arestas. Talvez, a reconciliação seja um pouquinho mais difícil, considerando o bolsonarismo reinante entre essa parcela do eleitorado apelidada de “dona do PIB nacional”. Aliás, o IBGE trouxe uma boa notícia no último dia 1, quando apontou o crescimento de 1,9% do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, bem acima das expectativas projetadas. O bom resultado deveu-se, em especial, ao desempenho na Agropecuária, com alta expressiva de 21,6%, a maior alta do segmento desde o quarto trimestre de 1996. O grande destaque foi a produção de soja.

Aceno ao agronegócio

O petista sinalizou essa intenção de “fazer as pazes” com o pessoal do agronegócio a partir de sua presença e discurso em reduto bolsonarista no oeste da Bahia. Lula foi, no dia 6, ao ‘Bahia Farm Show’, no município de Luis Eduardo Magalhães, um dos dois únicos municípios da Bahia onde Bolsonaro obteve mais votos que Lula. A feira é a maior do Norte e Nordeste, no setor agropecuário. Foi vaiado, na entrada, por bolsonaristas que o xingaram de “ladrão”. Mas, não deixou de discursar em favor de “jogar o ódio no lixo“, referindo-se a má vontade de bolsonaristas em aceitar o resultado das eleições.

“Polêmica maluca”

Ainda disse que vê como “polêmica maluca” a disputa entre pequenos agricultores e os grandes do agronegócio, pois, o Brasil precisa de ambos. E falou bem, também, quando disse que há um discurso ignorante e preconceituoso que estabelece uma rivalidade entre a agricultura familiar e o agronegócio. Disse, ainda, que quer lançar linhas de crédito melhores que o governo Bolsonaro, lembrando, acertadamente, que o agronegócio também precisa do Estado a partir dos financiamentos liberados.

“Lulinha paz e amor“

Como se viu nessa semana, a impressão é que um “Lulinha Paz e Amor” está ressurgindo das cinzas. Se a impressão não for passageira, o governo e o país agradecem. Depois de muitas semanas tensas e de dificuldades nas relações com diversas alas do governo e players na política em Brasília, o presidente Lula necessita demonstrar que tem as rédeas do governo nas mãos e que suas emoções estão sob controle. Revanchismo e “discurso de nós contra eles” não estava combinando com quem dizia que “o amor venceu” quando da eleição de Lula em 2022.

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