terça-feira, 14 de maio de 2024
STF promove verdadeiro escárnio com anulação das condenações de Lula

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

STF promove verdadeiro escárnio com anulação das condenações de Lula

Vem da Roma Antiga a expressão “Panem et circenses” para designar a política de “pão e circo“ concedida pelos imperadores romanos a plebe, a fim de que ela não se revoltasse contra seus governantes. No Brasil, essa política foi bastante empregada em governos anteriores, com suas políticas de concessão de bolsas e auxílios, acompanhadas de investimentos em estádios de futebol, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e trilhões de recursos desviados para abastecer o caixa de muitos bam-bam-bans da política e do grande empresariado.

Por longos anos, o povo brasileiro contentou-se com essa política, muito bem acomodado em sua zona de conforto. Porém, veio o impeachment da presidente Dilma, a eleição de Bolsonaro e a pandemia. Muitos brasileiros, cansados de um passado de governos esquerdistas acreditavam que as coisas iriam melhorar com um governo de direita, a partir da eleição de Bolsonaro. Claro, a pandemia tem atrapalhado em muito o governo, em grande parte, até, pela política empreendida pelo próprio presidente da República. Contudo, como se não bastasse a grave crise econômica e de saúde pública provocada pela Covid-19, temos uma série de atores no cenário nacional que só contribuem para agravar barbaramente a crise, retirando todas as esperanças dos brasileiros em um país melhor.

Vejamos a palhaçada que tem sido a atuação do STF, mais recentemente, inclusive, beirando a um teatro do absurdo, a um espetáculo farsesco, grotesco e cínico. A decisão do plenário do STF de anular quatro condenações do ex-presidente Lula, indo de encontro ao julgamento monocrático do ministro Edson Fachin, foi de um escárnio absoluto com o povo. Como bem disse o jornalista Guilherme Fiuza, foi uma humilhação descarada ao povo brasileiro que clama por justiça e o combate a corrupção. O cinismo dos “nobres” togados chegou ao auge com a declaração da ministra Rosa Weber, que avaliou ausência de indícios de que o dinheiro “lavado“ saiu da Petrobrás. Ora, ora, a Lava Jato teve o grande mérito de destrinchar o caminho do dinheiro a partir de sua trajetória nas mãos dos doleiros, intermediários típicos em operações de lavagem envolvendo recursos públicos. A partir daí, toda a teia foi desvendada em suas negociatas com empreiteiros, políticos, partidos e a Petrobrás.

Terrivelmente, constata-se, cada vez mais sem disfarces, que o STF, em sua imensa maioria de seus membros, está a serviço da criminalidade e do acobertamento da corrupção. A elegibilidade de Lula, para piorar, pode abrir precedentes para a anulação de outras condenações de corruptos já condenados. E tudo isso acontecendo num cenário de maior gravidade da pandemia, quando o povo tem de lidar com questões mais vitais relacionadas a sua própria sobrevivência: garantir a comida na mesa e se proteger do vírus. Além do massacre físico para garantir sua sobrevivência na pandemia, o povo brasileiro tem sofrido um massacre moral com essa decisão do STF.

Lula, por sua vez, aproveita que está elegível para fazer campanha. Disse que é inocente, expressou condolências às famílias pelas mais de 4 mil mortes por Covid, dias atrás, e não perde uma oportunidade para criticar o governo Bolsonaro. Em algumas críticas, ele tem razão, a exemplo da incompetência na compra de vacinas. Mas, que moral o ex-presidente tem para criticar, se desviou tantos recursos que poderiam ter sido investidos em saúde? Tenha a santa paciência… Demagogia também deveria ter limites.

Enfim, quase todos os políticos não deixam de politizar tudo em relação a pandemia. O Dória, apesar do mérito de ter trazido a Coronavac, imunizante responsável pela maioria das vacinações, também vai capitalizar a exaustão esse feito como presidenciável, pensando nas eleições de 2022.

E o pobre povo brasileiro como fica no meio desse verdadeiro circo de horrores? Não pode ir às ruas protestar contra o STF por causa da pandemia. Não há dúvidas de que o STF aproveitou-se desse momento “imperdível”, em que o povo não pode se aglomerar, para tornar Lula elegível… Por falar em “pão e circo”, o grave problema é que o pão já acabou para muitos, e quanto a circo, só resta o de horrores em Brasília. Quando a população, então, irá se revoltar e sair de sua zona de conforto?

O presidente Bolsonaro, aliás, tem incitado seus apoiadores a se rebelarem contra o STF. Mas, principalmente, no tocante a obediência aos lockdowns. Na semana passada, falou que o país caminha para uma grave crise social, devido a fome, o desemprego, e que o país não aguenta mais lockdown.Que a economia está parada, que produtores agrícolas têm segurado a produção por não haver mais restaurantes pra vender, que o desemprego aumenta e que a recuperação da economia será muito difícil e demorada se continuarmos assim. Entretanto, não mencionou que não fez seu dever de casa quando era o momento de comprar mais vacinas. E agora quer seus apoiadores “partindo para a briga” contra os decretos municipais.

É preocupante demais perceber que não contamos com as maiores autoridades nacionais realmente empenhadas em tirar o país desse atoleiro, seja econômico, na saúde pública e a nível moral, em termos de justiça. A exceção são alguns poucos parlamentares em Brasília dedicados a ajudar, ao invés de atrapalhar. O STF merecia, sim, um belo protesto nas ruas contra essa decisão em favor do Lula. Mas, o presidente da República demonstra que sua maior preocupação é incitar o povo contra o STF em seu benefício, por estar sendo colocada por aquela corte a hipótese dele ser um genocida. E por não aceitar a autonomia de prefeitos e governadores para emitir decretos fechando o comércio.

Em resumo, nem “pão e circo” temos mais, restando o “circo de horrores“ da política, e sem a possibilidade de protestos nas ruas. A que ponto chegamos… O povo brasileiro humilhado moralmente, morrendo de fome ou de Covid-19, sem poder se revoltar para além das redes sociais. Resta torcer para que possamos acertar nas escolhas em 2022.

No Pará, por exemplo, a escolha do eleitorado resultou péssima. O noticiário informa que havia respiradores escondidos e que não foram usados. Até quando ficarão impunes todos os responsáveis por esse morticínio provocado pela Covid-19? Que a CPI da pandemia sirva para apurar irregularidades assim, também, e vá além da politicagem para apear Bolsonaro do poder.

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