segunda-feira, 20 de maio de 2024
Governo Federal se preocupa com alta do diesel e inflação às portas das eleições presidenciais

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Governo Federal se preocupa com alta do diesel e inflação às portas das eleições presidenciais

A cerca de cinco meses das eleições presidenciais, a Petrobrás anunciou mais um aumento no valor do diesel, de 8,87%. A medida provocou alvoroço no Palácio do Planalto e entre líderes caminhoneiros que ameaçaram paralisação e disseram que a alta deverá ser repassada para o valor do frete, repercutindo nos preços ao consumidor.

Numa tentativa de descolar-se das sucessivas altas nos preços praticados pela Petrobrás, o Governo Federal anunciou a exoneração, supostamente, ”a pedido”, do ministro das Minas e Energias, Almirante Bento Albuquerque. Em seu lugar, entra o braço direito do ministro Paulo Guedes, Adolfo Sachsida. O novo ministro já anunciou que tem intenção de privatizar a Petrobrás e a estatal do pré-sal.

“Estupro” e “crime”

Com a troca de ministro, seguida das críticas a Petrobrás feitas na live da quinta-feira anterior ao anúncio de mais uma alta no diesel, o presidente tenta repassar a responsabilidade integralmente à estatal. Na live, Bolsonaro fez um apelo para que a empresa não aumente mais os preços do diesel, sob pena de quebrar o país. Também, classificou de “crime” e “estupro” os sucessivos aumentos nos preços, lembrando dos lucros recordes batidos pela empresa no último trimestre. Porém, não mencionou que o governo é o maior acionista da empresa e que 30% desses lucros vão para os cofres públicos. Faltou, ainda, esclarecer ao público de suas lives que o presidente da República tem poder de nomear toda a diretoria da empresa, bem como tem maioria no Conselho de Administração da estatal. Quer dizer, isentar-se da responsabilidade pelo problema, talvez, só convença seu séquito de apoiadores mais devotados.

Política de preços do governo Temer

Outro dado importante é a política de preços adotada pela Petrobrás desde outubro de 2016, no governo Temer, atrelada aos preços do mercado internacional e ao dólar. Anteriormente, nos governos do PT, em especial, os preços eram mais controlados pelo governo, o que, também, não se constituía na melhor política. Afinal, toda empresa tem de gerar lucros e “segurar” preços, como medida populista, do jeito que Dilma vinha fazendo, estava longe de ser a solução. Contudo, recentemente, Bolsonaro caiu em contradição ao dizer que a Paridade de Preços Internacional (PPI) era a responsável pelas sucessivas altas, uma medida adotada “lá por 2016 no governo Dilma”. Enfim, não foi no governo Dilma, bem como Bolsonaro sempre foi um crítico da política de “segurar” preços. Ao menos, era crítico.

Ano eleitoral

O preocupante para o governo é que as sucessivas altas nos preços da Petrobrás e a inflação, em geral, têm acontecido justamente em ano eleitoral, de forma mais impactante. Nos últimos doze meses, a inflação (índice IPCA) atingiu um percentual de cerca de 12%, o que fez o salário mínimo desvalorizar em seu poder de compra, podendo impactar fortemente a percepção do eleitorado de menor poder aquisitivo. E se os mais pobres sentem no bolso, na mesa do dia-a-dia, a crise econômica, tendem a ficar apreensivos.

“De quem é a culpa”

O presidente, por sua vez, tem repetido constantemente que a inflação é mundial, resultante da pandemia e da guerra na Ucrânia. De fato, os dois acontecimentos estão repercutindo na alta dos preços em diversos países, inclusive, nos desenvolvidos, como EUA, Inglaterra, Canadá. Houve, ainda, problemas climáticos, que afetaram safras. Bolsonaro não cansa de repetir que a inflação tem sido, também, resultado do “fique em casa e a economia a gente vê depois”, responsabilizando governadores e prefeitos que emitiram decretos de fechamento de comércio e serviços como medidas de prevenção a Covid-19. Mas, de forma contraditória, durante a pandemia, lembrava que, felizmente, o agronegócio não parava e que estava sustentando o país. Então, não dá para afirmar, agora, que a inflação dos alimentos é resultado do comércio e dos serviços que pararam parcial e temporariamente. Além disso, temos de lembrar que o Brasil nem chegou a fazer lockdowns, a exemplo de países da Europa, da China e Canadá, onde as pessoas mal podiam sair de casa, com paralisação das atividades muito mais severa e prolongada.

Terceirização de problemas

A percepção é a de que o presidente da República tem procurado repassar a responsabilidade por toda essa crise econômica a terceiros, como se um chefe do Poder Executivo, no Governo Federal, não pudesse fazer nada. Ou como se o ministro Paulo Guedes, da Economia, não tivesse nada a ver com a inflação no país. Tanto tem a ver que mexeu, recentemente, na taxa de juros, encarecendo-a para conter a inflação. O Governo Federal, também, resolveu zerar a taxa de importação de sete itens alimentícios, a exemplo do trigo e da carne vermelha, a fim de ajudar a baratear os preços ao consumidor. Agora, os comerciantes poderão importar alguns tipos de carne congelada, a exemplo de carne bovina desossada. O que não deixa de ser uma triste ironia no país do agronegócio, um grande produtor de carne bovina.

Recordes de exportações

Inclusive, uma das causas da inflação são as exportações de alimentos, que têm batido recordes. Num cenário de desvalorização do real em relação ao dólar, as exportações tornam-se vantajosas para o Brasil, em detrimento do consumo interno. O resultado é que diminui a oferta de produtos para o consumo interno, favorecendo a inflação, dentro da lei da oferta e procura.

“Fique em casa”

Acredito que a tática do presidente Jair Messias Bolsonaro de repetir a exaustão que tudo é culpa do “fique em casa” e da guerra é perigosa. Pois, não deve conseguir convencer grande parte de bens informados de que o governo está de mãos atadas quanto a adotar medidas para minimizar a repercussão de problemas de um cenário mundial. Tanto que o governo vem tomando providências, como a diminuição do IPI para o aço e para um insumo de fertilizantes. Lamentavelmente, medidas preventivas não foram tomadas antes. Seria uma forma populista de “resolver” problemas?

A dúvida é se o novo ministro das Minas e Energias deverá “segurar” os preços da Petrobrás até as eleições, repetindo a tão criticada estratégia de Dilma Rousseff.

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