quinta-feira, 9 de maio de 2024
Indicações de Haddad e Mercadante deixam mercado nervoso e sinalizam guinada a esquerda na economia

João Aloysio Correa Ramos

Diretor dos jornais do Grupo Paraná Comunicação: A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias

Indicações de Haddad e Mercadante deixam mercado nervoso e sinalizam guinada a esquerda na economia

Agora, está explicado por que Lula não quis anunciar nenhum possível nome para o Ministério da Fazenda antes das eleições. Era para não assustar o mercado, que ficou muito nervoso com a confirmação do nome de Fernando Haddad para a pasta. A reação do mercado não foi nada boa, diante da incerteza que o nome do petista, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, traz.

Afinal, a campanha de Lula recebeu apoio de economistas liberais como, Armínio Fraga, Henrique Meirelles, André Lara Rezende, economistas considerados mais pró-mercado financeiro, ou seja, defensores da economia liberal, onde o respeito a certas regras de mercado e a responsabilidade fiscal estejam em pauta.

“Poste” do Lula

Haddad é mestre em Economia, mas não tem experiência na área como gestor. Além disso, muito já vem se comentando na imprensa que a escolha de seu nome é para exercer a função de “poste” do próprio Lula, que é quem deverá ditar as regras sobre a política econômica. O ex-prefeito de São Paulo, pessimamente avaliado quando deixou a Prefeitura, por sinal, não há dúvidas de que representa uma indicação meramente política, feita para moldar-se aos planos do presidente eleito. Haddad, além de petista -raiz, embora, considerado não muito radical, demonstrou ótima capacidade de articulação política quando ministro da Educação, no Congresso Nacional. Conseguia conquistar votos até de parlamentares tucanos. Essa habilidade deve ter sido o principal critério, além de ser uma pessoa de confiança do Lula, obviamente.

Aumento de impostos

Enfim, se o mercado esperava um governo de viés mais liberal na economia, creio que caiu do cavalo. Pois, tudo indica que as decisões econômicas deverão ganhar uma diretriz mais alinhada a esquerda, com os interesses do Estado no centro de tudo. Uma reforma tributária virá e Haddad já disse que não descarta aumento de tributos (impostos, taxas e contribuições).

Financiamento a parceiros

Outro nome que demonstra que Lula, em seu terceiro mandato, retorna mais a esquerda do que nunca, é a indicação de Aloizio Mercadante para o BNDES, aquele banco que liberou dinheiro à rodo para “empresários amigos” e ajudou a financiar obras em ditaduras de esquerda como Cuba. Mercadante no comando do banco também não agrada ao mercado. A indicação de seu nome já provocou queda no valor das ações da Petrobrás. Mais um fiel petista no comando de um posto-chave do governo. A sensação é a de que já vimos esse filme, afinal, Mercadante deteve um protagonismo muito importante no governo Dilma, ajudando-a a afundar a economia e a adotar ações irresponsáveis do ponto de vista fiscal. A época, não foi bem avaliado pelo mercado.

Desenvolvimentismo

O futuro presidente do BNDES é considerado um economista afeito a políticas de caráter desenvolvimentista, o que implica priorizar o financiamento a juros abaixo do valor de mercado promovendo um forte endividamento do governo. De 2008 a 2018, o BNDES acumulou com a União uma dívida de R$650 bi a partir de aportes do Tesouro Nacional. Só que, agora, o momento é outro. Não há mais recursos para sustentar endividamento do BNDES.

Mercado ignorado

Lula, após eleito, tem demonstrado não estar minimamente preocupado com regras fiscais e leis de mercado. Parece estar pouco se importando com os interesses do mercado financeiro. Um governo que se desenha muito diferente de seus dois mandatos anteriores, quando escolheu o vice José Alencar para acalmar investidores e escreveu até uma “cartinha” simpática para não assustá-los.

Durante a campanha, alguns eleitores do Lula alegavam que não haveria chances de alguma guinada radical na economia porque Alckmin, um tucano de ideias mais liberais, estaria na presidência. Pouco mais de um mês após as eleições, essa percepção já está se modificando com as indicações desses dois nomes para postos-chave.

Contudo, Lula, talvez, não esteja se dando conta de que adotou um caminho perigoso não somente para a economia, mas, também, no sentido político. Ignorar regras fiscais básicas, ignorar o mercado não refletem boas escolhas. A aprovação da PEC da Transição, por exemplo, não está sendo tão fácil, assim, no Congresso Nacional. Comenta-se que ele ainda não tem votos suficientes, um total de 308. Na imprensa, já saiu uma lista de parlamentares que votarão contra a PEC, cerca de 70 deputados. Alguns, dizem que já chega a cem deles. Tanto que a votação deverá ficar para a próxima semana.

“Toma-lá-dá-cá”

Lula sabe que precisa do presidente da Câmara, Arthur Lira, para conquistar os votos necessários. Lira já veio com uma proposta “indecorosa”: consegue 150 votos em troca do Ministério da Saúde para partidos do Centrão, entre eles, PP, União Brasil, PSDB, Cidadania… O “toma-lá-dá-cá”, conforme o esperado, já começou. Porém, dizem que Lula já bateu o martelo para o comando da pasta. Ele quer a presidente da Fiocruz, Nisia Trindade, para ministra da Saúde. O fato é que Lula não foi eleito sozinho. Uma grande coligação o apoiou. Dar as costas para esse pessoal pode lhe custar caro, politicamente. Assim como dar as costas para o mercado, que teve liberais de peso a favor de sua eleição.

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