quinta-feira, 9 de maio de 2024
Destruição em Brasília possivelmente inaugura era de repressão sem precedentes

João Aloysio Correa Ramos

Diretor dos jornais do Grupo Paraná Comunicação: A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias

Destruição em Brasília possivelmente inaugura era de repressão sem precedentes

Domingo, dia 8 de janeiro de 2023, talvez, tenha sido o dia mais triste da História do Brasil, desde a redemocratização. As cenas de vandalismo na sede dos Três Poderes foram deploráveis. O extremismo praticado pelos manifestantes que inicialmente faziam uma manifestação pacífica foi tão inacreditável que há muitos a duvidar que tenham sido protagonizados por conservadores.

Afinal, todas as manifestações populares da direita conservadora, até então, haviam se distinguido por características pacíficas e ordeiras. Muito se comenta sobre uma suposta presença de “infiltrados” ao movimento que teriam sido os responsáveis por desvirtuar a proposta da manifestação.

Povo “varrido” pelas forças de segurança

Mas, enquanto nada se consegue comprovar, naturalmente, todos os que participavam da manifestação foram “varridos” pelas Forças de Segurança e levados para detenção na sede da Polícia Federal. Independentemente de ideologias, o evidente é que se tratam de atos extremistas o que vimos no domingo. Práticas criminosas que merecem adequada punição.

Mais evidente, ainda, é o grande erro de cálculo dos manifestantes ao apostarem em um apoio das Forças Armadas a quaisquer atos que se revelassem atentados a ordem democrática. É muito lamentável a rede de desinformação que foi criada para iludir e dar esperanças aos manifestantes de que haveria possibilidade de um golpe de Estado contra o presidente Lula. As redes sociais, canais e perfis bolsonaristas na internet devem ser responsabilizadas juntamente com os financiadores deste movimento ilusionista em que manifestantes foram levados a acreditar que haveria possibilidade de Lula não subir a rampa do Palácio do Planalto. Após a posse, uma horda de influenciadores digitais continuou a incitar a resistência dos acampados a frente dos quartéis, sempre ancorados em fake news que levavam a crer que os militares estariam do lado deles. Mais de dois meses passaram-se e … nada. Lula já estava governando o país, enquanto Bolsonaro de férias na Flórida, e o povo acampado perdendo a paciência e a esperança. Deu no que deu. Resolveram partir para o tudo ou nada, usando a manifestação de domingo como última cartada. Muitos deles estavam otimistas, acreditando que sairiam vencedores e impunes, conforme viu-se em vídeos gravados por eles mesmos em seus celulares e que caíram nas redes sociais.

Influenciadores digitais criminosos

De onde viria tanta certeza e autoconfiança senão das mensagens de incentivo e apoio de influenciadores digitais empenhados em insuflar a revolta e indignação contra a eleição de Lula a partir de uma imensa campanha de desinformação repassada a esses seguidores extremistas? É muito triste verificar que o povo que estava nos acampamentos e na manifestação foi utilizado como massa de manobra por gente que quis capitalizar em cima da revolta de cidadãos, pais e mães de família, trabalhadores, pagadores de impostos, pessoas que estavam nas ruas, nas estradas, nos acampamentos, por indignação com o resultado das eleições. Patriotas que foram usados e descartados por tais insufladores da revolta depois que o caldo entornou e acabaram detidos.

Caçada a financiadores

A caçada aos financiadores do ato em Brasília, aliás, é outro capítulo dessa tragédia nacional. Foram centenas de ônibus fretados para Brasília. É claro que há empresários e, possivelmente, políticos que bancaram a viagem. Não haveria problema algum se a manifestação tivesse sido pacífica. É de direito do povo brasileiro a livre manifestação em locais públicos, desde que para fins pacíficos e democráticos e com aviso prévio do local, data, horário, enfim. Motivos para indignação com a atuação dos Três Poderes é o que não falta, em especial, com relação ao STF.

Upgrade no governo Lula

A única certeza é que o grande beneficiado foi o governo Lula, que obteve solidariedade e apoio de importantes lideranças nacionais e internacionais, além de grande parte da opinião pública. Um governo que começava meio cambaleante, gerando desconfianças no mercado, e até, ganhando algumas críticas comedidas de alguns setores da imprensa por uma ministra suspeita de envolvimento com milicianos, terminou por ganhar um upgrade perante a opinião pública após o domingo de terror em Brasília.

Imprudência

Lula disse que o que aconteceu em Brasília pegou o governo de surpresa. Disse que ninguém do governo esperava que a coisa fosse descambar para a violência. E a imprensa já noticiou que o presidente não está muito satisfeito com o trabalho do Ministro da Justiça Flávio Dino, após esse episódio. Mas, o que também se comenta é que o ato de domingo já estava sendo marcado e combinado pelas redes sociais dias antes. Não houve segurança reforçada de forma preventiva. Talvez, pela tradição dos conservadores em fazer manifestações pacíficas. Mas, em se tratando de manifestação, agora, de oposição ao Governo Federal, foi, no mínimo, uma imprudência. A suspeita é de que a PM do Distrito Federal até teria dado guarida aos manifestantes. Afinal, inicialmente, o clima era de paz. A responsabilidade recaiu para o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e seu secretário de Segurança, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que estava de férias na Flórida e nem havia assumido o cargo, ainda. O secretário foi exonerado e o governador afastado.

Punições proporcionais

Mais de mil manifestantes foram detidos, sem que ainda se tenha identificado quem realmente participou do vandalismo e depredação do patrimônio público e quem somente encontrava-se lá de forma pacífica. Invasão de prédios públicos em manifestações seria motivo para detenções arbitrárias como as que vimos? Não se trata de defender vandalismo, destruição e roubo de patrimônio público, porém, questionamos a resposta desproporcional das forças policiais aos atos.

Vandalismo de esquerda

Esta não foi a primeira vez que houve invasão e vandalismo em equipamentos públicos durante manifestações. A esquerda já participou de muitos atos que resultaram em violência e depredação de patrimônio. Mas, foi a primeira vez na História do Brasil que vimos manifestantes populares serem detidos pelas Forças de Segurança de forma tão ostensiva e arbitrária, instaurando-se a atuação embrionária de uma “polícia política” no governo Lula. Todos “catalogados “como vândalos, golpistas e terroristas. Que a justiça seja feita. Que os responsáveis pela destruição do nosso patrimônio público sejam identificados e duramente punidos. Mas, que a aplicação da lei seja proporcional ao ato individual de cada manifestante. Ao invés de ficharem todos como “terroristas”.

Saudosismo do governo militar

Quanto às intenções golpistas, acredito que os verdadeiros responsáveis foram os insufladores desses manifestantes, muitos desses manifestantes, sem grande conhecimento e informação de que se trata de crime. Os “cabeças” desse movimento são os que merecem dura punição, pois, utilizaram-se de um genuíno saudosismo do governo militar contido ainda no imaginário dos conservadores brasileiros para alimentarem tolas esperanças em pessoas que não se deram conta, ainda, de que os tempos mudaram desde a redemocratização. E que o Brasil do passado não volta mais.

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