sábado, 18 de maio de 2024
Cultura de violência nas escolas reflete problemas familiares

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Cultura de violência nas escolas reflete problemas familiares

O ataque na escola estadual da zona oeste de São Paulo, que resultou na morte de uma professora de 71 anos, tem deixado a sociedade perplexa, buscando entender como é que chegamos a esse ponto. Porém, o caso ganhou maior repercussão por ter resultado na morte de uma professora. Pois, esta não foi a primeira vez que um aluno esfaqueia professor no ambiente escolar.

Já houve um caso em 2019, também, no estado de São Paulo, em que um estudante esfaqueou professor dentro da sala de aula, e outro, há cerca de um ano, em Caraguatatuba, litoral do mesmo estado, quando um aluno esfaqueou a diretora da instituição de ensino. Felizmente, nestes dois casos, não houve mortes. Os casos ganharam pouca repercussão na mídia. De modo diferente da grande repercussão de grandes atentados com armas de fogo como o de Suzano e o do Espírito Santo, este último, no ano passado.

Sociedade, poder público e imprensa omissos

Quer dizer, precisa morrer alguém para chamar a atenção da imprensa e das autoridades públicas. A impressão é que somente quando vidas são perdidas que a sociedade acorda para a grave realidade vivenciada no dia-a-dia das escolas públicas, em especial. É quando se passa a debater as possíveis causas e motivações para crimes dessa natureza, cometidos por pessoas tão jovens, menores de idade, mas, dispostas a matar e até morrer em crimes perpetrados com premeditação e planejamento.

Bullying e outros fatores

O bullying, certamente, costuma estar por detrás de vários desses atentados. Mas, o bullying seria a única motivação? Desde tempos remotos, essa prática de fazer chacotas, provocações, perseguição e uso de apelidos tem acontecido nas escolas. Sem ter repercutido em consequências de violência física extrema. Obviamente, o bullying deve ser combatido nas escolas, não se deve naturalizá-lo, nem minimizar-se suas consequências psicológicas a todos os envolvidos. Mas, a presença do bullying, em si, não explica o nível de violência a que chegamos nas escolas. Nossa sociedade atual conta com outros elementos muito mais graves e preocupantes que estão servindo de ingredientes para esse caldeirão fervente em que se encontra o clima nas escolas, e na mente de alguns (ou muitos?) estudantes.

Famílias disfuncionais

Famílias um tanto desestruturadas, disfuncionais, pais omissos, pouco presentes, a permissividade atual de pais ou responsáveis pelas crianças e jovens, todo esse quadro disfuncional pesa e junta-se formando uma realidade muito diferente da dos jovens do passado.

Comunidades nas redes sociais

A internet, as redes sociais compõem este cenário desfavorável, também, na medida em que tem sido comum jovens reunirem-se em comunidades para objetivos variados, dentre eles, a troca de ideias e informações, o partilhar de experiências envolvendo comportamentos antissociais ou de discurso de ódio contra grupos ou pessoas. O incentivo a determinados comportamentos delituosos não é raro nestes grupos. Isso quando não estão envolvidas as comunidades de finalidades ideológicas extremistas, a exemplo de grupos supremacistas de inspiração neonazista. Vale ressaltar que a máscara de caveira utilizada pelo adolescente autor do atentado na escola de São Paulo tem as mesmas características das usadas pelos autores do massacre no Espírito Santo e em Suzano. Trata-se da máscara característica de um grupo supremacista dos EUA, o Attomwaffen, de inspiração neonazista. O próprio autor do ataque já havia cometido crime de injúria racial contra colega da escola.

Ausência de providências

Enfim… Histórico de violência e agressividade já havia, inclusive, Boletim de Ocorrência contra o menor feito pela escola anterior onde estava matriculado. O motivo foi o compartilhamento de imagens de armas de fogo nas redes sociais. Aliás, há cerca de um mês, o garoto postava ”avisos” nas redes sociais sobre ter a intenção de cometer um massacre, um atentado, algo desta natureza, na escola.

Responsabilidade da família

Colocar toda responsabilidade nas escolas, no estado, no poder público por crimes tão complexos, que envolvem uma conjunção de circunstâncias, pode ser mais fácil. Mas, não é a solução. Evidentemente, cabe ao poder público fazer sua parte, tanto a escola como a polícia. Mas, algo de muito preocupante deve estar acontecendo em algumas famílias para que adolescentes cheguem a esse ponto de planejar e executar atentados bárbaros como esse e tantos outros. A escola tem o dever de ensinar e transmitir conhecimentos, estimular o desenvolvimento intelectual e social. Mas, quem tem o dever de educar de forma integral uma criança, um adolescente, são as famílias. A transmissão de valores, de bons princípios e comportamentos é prerrogativa dos pais ou responsáveis. Bem como oferecer todo o suporte para uma educação emocional, moral e afetiva satisfatórios.

Educação dos filhos

Ao que tudo indica, tem sido complicado para tantas famílias. Os piores reflexos de tanto despreparo, talvez, até, omissão e descaso dos pais, costumam aparecer nas escolas. Alunos ameaçando colegas e professores, praticando bullying, envolvendo-se em brigas, esfaqueando educadores a quem deveriam, pelo menos, demonstrar respeito. Contudo, atualmente, o bom e velho respeito não tem sido ensinado e cobrado nem aos pais, imaginem, aos professores.

Saúde mental dos menores

As consequências estão aí, a cada dia, causando mais perplexidade. Filhos “educados” pelas telas, sem a menor supervisão dos pais, sempre cansados pelas duplas, triplas jornadas. Talvez, ausência de diálogo e de um olhar mais atento dos pais devido a rotinas atribuladas e estressantes… Enquanto isso, os transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes atingem níveis epidêmicos: ansiedade, depressão, uso de drogas e álcool em excesso, transtorno borderline, bipolaridade, transtorno antissocial, transtorno narcisista…

Este já não é mais um problema das famílias, mas, das escolas e de toda a sociedade. Afinal, tem passado de todos os limites do aceitável. Tem matado, tem tirado vidas de alunos e de trabalhadores dedicados ao ensino, como a referida professora que, aos 71 anos, ainda queria servir a sociedade trabalhando na escola. Que esta morte sirva para novas ações e programas concretos a fim de mitigar esse grande mal nas escolas.

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