Nos últimos dias, muitas coisas estão acontecendo na pré-campanha presidencial. Provavelmente deve ter acendido o botão vermelho, ou pelo menos amarelo, para Lula e sua equipe em decorrência, especialmente, de dois levantamentos de intenções de voto feitos pelo Instituto Paraná Pesquisas. Estes apontam o crescimento das intenções de voto em Bolsonaro, que dá sinais de vida ao aproximar-se de seu principal adversário político.
Bolsonaro cresce em São Paulo
O primeiro levantamento que pode estar preocupando a equipe de campanha de Lula foi divulgado no final de semana, no qual aponta os números em São Paulo, um dos estados-chave, assim como Minas Gerais, em corridas à Presidência da República. A pesquisa mostra que Bolsonaro ultrapassa Lula, pela primeira vez no estado, alcançando 35,8% das intenções de voto contra 34,9% do petista. De 31% em pesquisa de um mês atrás, Bolsonaro passou para mais de 35%, enquanto Lula contava com 34,1%. As entrevistas foram feitas entre 24 e 29 de abril.
Empate técnico
Já o levantamento feito entre os dias 28/04 e 3/05 foi divulgado na quarta-feira, dia 4, e mostra um empate técnico entre os dois candidatos na pesquisa espontânea, num cenário simulado para todo o país. Na espontânea, o entrevistador não mostra nenhum nome como opção de candidato, deixando o entrevistado responder espontaneamente em quem deverá votar. Nesta pesquisa, Lula aparece com 27,6% e Bolsonaro com 25,2%. Um empate técnico, considerando a margem de erro de 2,2% para mais ou para menos. Bolsonaro conseguiu cravar a menor distância de Lula também na pesquisa estimulada, quando os nomes dos candidatos são apresentados, com 35,2% contra 40% de Lula. O presidente da República subiu 2,5% no cenário nacional, desde o último levantamento. Outros pré-candidatos também ganharam pontos, a exemplo de Ciro Gomes, que subiu de 5,4% para 7,4% e João Dória que foi de 2,3% para 3,2%. A pesquisa foi realizada com dois mil e vinte eleitores em 166 municípios de todos os estados do país.
Lula tropeça nas falas
A campanha ainda nem começou para valer e já podemos verificar que o cenário é bastante mutável. Creio que nenhum dos dois candidatos deve entrar em clima de “já ganhou”, pois, qualquer deslize pode comprometer os resultados. A própria entrevista que o colocou na capa da revista Time gerou-lhe uma saia-justa. Para Lula, o presidente da Ucrânia quis a guerra por não se esforçar em negociar com Putin. A declaração repercutiu, também, na embaixada da Ucrânia, que o convidou para uma visita. Pegou mal palpitar sobre política externa de forma inconsequente, desrespeitosa para com um país invadido. Muito provável é que a declaração tenha sido em decorrência de uma simpatia, mesmo, de Lula por Putin, lembrando, ainda, que no governo Lula houve esforços decisivos para a formação do Brics, bloco econômico de países o qual Rússia e Brasil passaram a integrá-lo. De qualquer forma, a fala demonstra o quanto é importante ater-se a absolutamente tudo o que é dito durante uma campanha a fim de não causar um estrago irremediável. Sérgio Moro, General Heleno, João Dória e Ciro Gomes não perderam a oportunidade de criticar a declaração de Lula.
“Gol contra”
Bolsonaro, por sua vez, tem ficado mais atento para não fazer “gol contra“ em suas declarações. Ao contrário, o caso Daniel Silveira só o ajudou a recuperar a sua imagem. A pandemia, saindo de cena, tem deixado esquecidas as declarações mais polêmicas sobre isolamento social, fechamento de comércio e vacinas. A CPI da Covid-19 não deu em nada, conforme previsto. Apesar dos esforços da oposição, não se conseguiu provas de corrupção ou má-fé nas denúncias apresentadas. Muito tempo e dinheiro perdido para tentar derrubar um presidente, sem fatos concretos. Nem os holofotes para palanques futuros, talvez, não rendam. A candidatura da senadora emedebista Simone Tebet a presidente da República, tudo leva a crer, não vai vingar…
Auxílio-emergencial
Também, está favorável a reeleição de Bolsonaro o pagamento do auxílio-emergencial, e a geração de empregos, que, apesar da pandemia, continua crescendo. O grande desafio é a inflação. A desistência de Sérgio Moro ainda promete beneficiar o presidente. Sem Moro na disputa, a tendência de parte de seu eleitorado é migrar para Bolsonaro, principalmente, num eventual segundo turno com Lula. Evidentemente, há aqueles moristas que irão votar nulo, ou, talvez, em Ciro ou Dória. Contudo, é quase impossível um eleitor de Moro migrar para Lula. Uma vez que o réu da Lava-Jato era o PT e, não, Bolsonaro e seu grupo político.
Falas improvisadas
Essas mudanças nas intenções de voto demonstram que eleição não se ganha de véspera. Que, somente quando a campanha começa pra valer que se vai, gradualmente, obtendo melhor definição. Enquanto isso, cabe aos candidatos e respectivos staffs fazer de tudo para acertar e, ao menos, não errar, com declarações e falas constrangedoras ou polêmicas. Os planos de governo são importantes, mas, a maioria do eleitorado, infelizmente, não presta atenção em plano de governo, atendo-se mais a recortes de falas viralizadas nas mídias. E eis, aí, um ponto em que tanto Lula quanto Bolsonaro têm de cuidar muito, pois, ambos têm tendência a falar de improviso, de forma espontânea.