O governador Ratinho Jr. (PSD) endureceu as medidas sanitárias de combate a pandemia de Covid-19, na sexta-feira (26), a partir de novo decreto estadual. A beira de um colapso no sistema de saúde, com lotação em torno de 94% dos leitos Covid em todo o estado, o Paraná encontra-se no limite de sua capacidade de atendimento. Entre as novas medidas, acatadas integralmente por Curitiba e Pinhais, por exemplo, está o toque de recolher mais cedo, a partir das 20 horas até às cinco horas. O Decreto entra em vigor a partir da zero hora do dia 27 e vai até 8 de março.
Serviços não-essenciais como, shoppings centers e academias, deverão permanecer fechados, sendo permitidos apenas o funcionamento de padarias, postos de combustíveis, farmácias, supermercados e afins, desde que respeitem o horário do toque de recolher. Essas e outras medidas mais rígidas têm por objetivo, também, aliviar a sobrecarga de trabalho nos hospitais e pronto-atendimentos da rede pública e privada. Não apenas para atendimento a Covid-19, mas, a atendimentos para outras doenças e vítimas de acidentes de trânsito, traumas e outros. Não somente a capacidade de infraestrutura do sistema de saúde está prestes a sofrer um colapso, mas, a capacidade humana. Afinal, há um limite de profissionais de saúde disponíveis para trabalhar, seja no enfrentamento à Covid-19 ou nos atendimentos gerais. Com a diminuição da circulação de pessoas nas ruas, espaços públicos e no trânsito, caem também os acidentes de trânsito, as brigas que resultam em traumas físicos e ferimentos à bala e outras situações que possam gerar demanda nos hospitais e pronto-atendimentos. Em Curitiba, na quarta-feira à noite, três pronto-atendimentos de hospitais haviam fechado por esgotamento da capacidade de atendimento: Hospital Evangélico Mackenzie, Hospital do Trabalhador e Hospital Cajuru. Não havia mais leitos disponíveis. Houve falta de ambulâncias no Hospital do Trabalhador e até vítimas de acidentes de trânsito precisaram ficar esperando do lado de fora na ambulância porque o hospital havia chegado ao seu limite na capacidade de atendimento.
AÇÕES IMEDIATAS
Diante desse quadro alarmante, o governador Ratinho Jr., segundo apurou reportagem da RIC Notícias, viu-se pressionado pelos Ministério Público Federal, Estadual, do Trabalho e Defensorias Públicas do estado a tomar providências, uma vez que estes órgãos encaminharam recomendação conjunta ao Governo do Estado para que tomasse ações imediatas para conter o avanço da pandemia. Tais recomendações teriam motivado uma reunião de emergência na noite de quinta-feira (25) entre o governador e representantes dos municípios do estado para decidir o que fazer. E na sexta-feira, em coletiva de imprensa, Ratinho Jr. afirmou que a fiscalização será bastante rígida a quem descumprir o decreto, com previsão de punições, multa e até prisão, principalmente, a festas e eventos que promovam aglomerações. As polícias militar e civil já estão a postos para efetuar a fiscalização e eventuais punições.
De fato, a fiscalização necessita ser bastante rígida e as punições severas a quem promover festas e aglomerações. Quem acompanha no Instagram a página ”brasilfedecovid” tem visto os descalabros ocorridos no país inteiro, a partir de festas, shows e eventos com grande aglomeração de pessoas desde dezembro. A página recebe vídeos todos os dias de denúncias de aglomerações desta natureza. Localidades no Nordeste, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo estão entre as mais notórias, devido ao turismo de verão. Uma semana depois do Carnaval, o caldo entornou. Coincidência? Não, mesmo. Boa parte da população passou a viver como se não houvesse mais o vírus e foi viajar, foi curtir praias, bares e restaurantes no extenso litoral brasileiro, afrouxando os cuidados. Frequentar praias não é um grande problema, assim como parques, por ser ao ar livre, havendo bastante espaço para todos. Mas, o problema são as aglomerações em que a máscara costuma ser retirada como em bares, festas e restaurantes lotados. Outra fonte de contágio muito comum são os encontros e reuniões entre amigos e familiares. Nestas ocasiões, muito dificilmente as pessoas usam máscara o tempo todo, além de se encontrarem muito próximas fisicamente umas das outras. Comer e beber na mesma mesa, numa reunião familiar ou entre amigos, já resultou em muitas pessoas infectadas, a exemplo de tantas reportagens dando conta do perigo das festas de aniversário, visitas a amigos e parentes, e churrascadas. Muitas histórias tristes de familiares mortos por Covid foram resultantes de “inocentes” festas de aniversário e churrascadas. A própria atriz Nicette Bruno, falecida recentemente, pegou Covid assim, ao receber a visita de um único parente que estava infectado e não sabia.
CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
As medidas do novo decreto são, indiscutivelmente, providenciais, considerando-se a iminência de um colapso no setor de saúde. Contudo, jamais serão suficientes se não houver conscientização da população a médio e longo prazo. Todos precisam trabalhar e para isso, a manutenção do comércio funcionando é essencial. Quando este decreto for substituído por outro com medidas mais brandas, o comércio terá de voltar a funcionar. Se todos usarem máscara e limitarem a entrada de pessoas nos estabelecimentos comerciais, muito dificilmente alguém será infectado ao entrar numa loja ou outro local de vendas ou prestação de serviços. Mas, é fundamental que haja colaboração de todos. Os proprietários dos estabelecimentos devem ser rigorosos quanto ao uso adequado das máscaras (sem o nariz para fora) e a limitar o número de clientes por vez, disponibilizando sempre álcool em gel, também.
JOVENS NÃO ESTÃO IMUNES
Mas, lamentavelmente, os comerciantes responsáveis pagam pelos irresponsáveis, que são aqueles que têm permitido aglomerações e clientes sem máscara, e em especial, aqueles que promoveram festas e eventos clandestinos, ou não, durante a temporada de verão. Muitos brasileiros ainda terão de aprender que a responsabilidade é de todos com muita dor, pois se recusaram a aprender pela conscientização e responsabilidade com a coletividade. Quantos têm permitido que seus filhos frequentem festinhas e rolês, quantos enfiaram-se em muvucas desnecessárias em bares e casas noturnas? A conta chegou. E não tem penalizado só os idosos e doentes crônicos. Os mais jovens estão sendo hospitalizados e morrendo. A própria secretária de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, alertou que a idade média dos novos casos de Covid-19 tem caído, atingindo pacientes mais jovens necessitados de hospitalização. E essa mudança de perfil tem acontecido no país todo. Em São Paulo, a doença está atingindo, agora, a quem tem menos de 45 anos, gerando necessidade de hospitalizações a esses jovens. Há as novas variantes, também, mais infecciosas e de mais fácil contágio, como a cepa brasileira, que já é de transmissão comunitária em Curitiba e Região. Não há como fugir da responsabilidade individual. Quanto mais o vírus se dissemina, mais tende a sofrer mutações, gerando novas cepas cada vez mais infecciosas e resistentes. Não há como fugir da responsabilidade individual neste cenário de caos. Governantes não têm super-poderes para darem conta de fiscalizar milhares ou milhões de pessoas ao mesmo tempo. O povo brasileiro precisa amadurecer e entender que tem sua corresponsabilidade neste trágico quadro da pandemia a que chegamos.