segunda-feira, 20 de maio de 2024
Paraná endurece nas medidas sanitárias, mas, sem colaboração da população caos não terá fim

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Paraná endurece nas medidas sanitárias, mas, sem colaboração da população caos não terá fim

O governador Ratinho Jr. (PSD) endureceu as medidas sanitárias de combate a pandemia de Covid-19, na sexta-feira (26), a partir de novo decreto estadual. A beira de um colapso no sistema de saúde, com lotação em torno de 94% dos leitos Covid em todo o estado, o Paraná encontra-se no limite de sua capacidade de atendimento. Entre as novas medidas, acatadas integralmente por Curitiba e Pinhais, por exemplo, está o toque de recolher mais cedo, a partir das 20 horas até às cinco horas. O Decreto entra em vigor a partir da zero hora do dia 27 e vai até 8 de março.

Serviços não-essenciais como, shoppings centers e academias, deverão permanecer fechados, sendo permitidos apenas o funcionamento de padarias, postos de combustíveis, farmácias, supermercados e afins, desde que respeitem o horário do toque de recolher. Essas e outras medidas mais rígidas têm por objetivo, também, aliviar a sobrecarga de trabalho nos hospitais e pronto-atendimentos da rede pública e privada. Não apenas para atendimento a Covid-19, mas, a atendimentos para outras doenças e vítimas de acidentes de trânsito, traumas e outros. Não somente a capacidade de infraestrutura do sistema de saúde está prestes a sofrer um colapso, mas, a capacidade humana. Afinal, há um limite de profissionais de saúde disponíveis para trabalhar, seja no enfrentamento à Covid-19 ou nos atendimentos gerais. Com a diminuição da circulação de pessoas nas ruas, espaços públicos e no trânsito, caem também os acidentes de trânsito, as brigas que resultam em traumas físicos e ferimentos à bala e outras situações que possam gerar demanda nos hospitais e pronto-atendimentos. Em Curitiba, na quarta-feira à noite, três pronto-atendimentos de hospitais haviam fechado por esgotamento da capacidade de atendimento: Hospital Evangélico Mackenzie, Hospital do Trabalhador e Hospital Cajuru. Não havia mais leitos disponíveis. Houve falta de ambulâncias no Hospital do Trabalhador e até vítimas de acidentes de trânsito precisaram ficar esperando do lado de fora na ambulância porque o hospital havia chegado ao seu limite na capacidade de atendimento.

AÇÕES IMEDIATAS

Diante desse quadro alarmante, o governador Ratinho Jr., segundo apurou reportagem da RIC Notícias, viu-se pressionado pelos Ministério Público Federal, Estadual, do Trabalho e Defensorias Públicas do estado a tomar providências, uma vez que estes órgãos encaminharam recomendação conjunta ao Governo do Estado para que tomasse ações imediatas para conter o avanço da pandemia. Tais recomendações teriam motivado uma reunião de emergência na noite de quinta-feira (25) entre o governador e representantes dos municípios do estado para decidir o que fazer. E na sexta-feira, em coletiva de imprensa, Ratinho Jr. afirmou que a fiscalização será bastante rígida a quem descumprir o decreto, com previsão de punições, multa e até prisão, principalmente, a festas e eventos que promovam aglomerações. As polícias militar e civil já estão a postos para efetuar a fiscalização e eventuais punições.

De fato, a fiscalização necessita ser bastante rígida e as punições severas a quem promover festas e aglomerações. Quem acompanha no Instagram a página ”brasilfedecovid” tem visto os descalabros ocorridos no país inteiro, a partir de festas, shows e eventos com grande aglomeração de pessoas desde dezembro. A página recebe vídeos todos os dias de denúncias de aglomerações desta natureza. Localidades no Nordeste, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo estão entre as mais notórias, devido ao turismo de verão. Uma semana depois do Carnaval, o caldo entornou. Coincidência? Não, mesmo. Boa parte da população passou a viver como se não houvesse mais o vírus e foi viajar, foi curtir praias, bares e restaurantes no extenso litoral brasileiro, afrouxando os cuidados. Frequentar praias não é um grande problema, assim como parques, por ser ao ar livre, havendo bastante espaço para todos. Mas, o problema são as aglomerações em que a máscara costuma ser retirada como em bares, festas e restaurantes lotados. Outra fonte de contágio muito comum são os encontros e reuniões entre amigos e familiares. Nestas ocasiões, muito dificilmente as pessoas usam máscara o tempo todo, além de se encontrarem muito próximas fisicamente umas das outras. Comer e beber na mesma mesa, numa reunião familiar ou entre amigos, já resultou em muitas pessoas infectadas, a exemplo de tantas reportagens dando conta do perigo das festas de aniversário, visitas a amigos e parentes, e churrascadas. Muitas histórias tristes de familiares mortos por Covid foram resultantes de “inocentes” festas de aniversário e churrascadas. A própria atriz Nicette Bruno, falecida recentemente, pegou Covid assim, ao receber a visita de um único parente que estava infectado e não sabia.

CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

As medidas do novo decreto são, indiscutivelmente, providenciais, considerando-se a iminência de um colapso no setor de saúde. Contudo, jamais serão suficientes se não houver conscientização da população a médio e longo prazo. Todos precisam trabalhar e para isso, a manutenção do comércio funcionando é essencial. Quando este decreto for substituído por outro com medidas mais brandas, o comércio terá de voltar a funcionar. Se todos usarem máscara e limitarem a entrada de pessoas nos estabelecimentos comerciais, muito dificilmente alguém será infectado ao entrar numa loja ou outro local de vendas ou prestação de serviços. Mas, é fundamental que haja colaboração de todos. Os proprietários dos estabelecimentos devem ser rigorosos quanto ao uso adequado das máscaras (sem o nariz para fora) e a limitar o número de clientes por vez, disponibilizando sempre álcool em gel, também.

JOVENS NÃO ESTÃO IMUNES

Mas, lamentavelmente, os comerciantes responsáveis pagam pelos irresponsáveis, que são aqueles que têm permitido aglomerações e clientes sem máscara, e em especial, aqueles que promoveram festas e eventos clandestinos, ou não, durante a temporada de verão. Muitos brasileiros ainda terão de aprender que a responsabilidade é de todos com muita dor, pois se recusaram a aprender pela conscientização e responsabilidade com a coletividade. Quantos têm permitido que seus filhos frequentem festinhas e rolês, quantos enfiaram-se em muvucas desnecessárias em bares e casas noturnas? A conta chegou. E não tem penalizado só os idosos e doentes crônicos. Os mais jovens estão sendo hospitalizados e morrendo. A própria secretária de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, alertou que a idade média dos novos casos de Covid-19 tem caído, atingindo pacientes mais jovens necessitados de hospitalização. E essa mudança de perfil tem acontecido no país todo. Em São Paulo, a doença está atingindo, agora, a quem tem menos de 45 anos, gerando necessidade de hospitalizações a esses jovens. Há as novas variantes, também, mais infecciosas e de mais fácil contágio, como a cepa brasileira, que já é de transmissão comunitária em Curitiba e Região. Não há como fugir da responsabilidade individual. Quanto mais o vírus se dissemina, mais tende a sofrer mutações, gerando novas cepas cada vez mais infecciosas e resistentes. Não há como fugir da responsabilidade individual neste cenário de caos. Governantes não têm super-poderes para darem conta de fiscalizar milhares ou milhões de pessoas ao mesmo tempo. O povo brasileiro precisa amadurecer e entender que tem sua corresponsabilidade neste trágico quadro da pandemia a que chegamos.

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