Na Semana Santa, às vésperas do feriado de Páscoa, mais uma escola é invadida e atacada, desta vez, em Blumenau, deixando um rastro de terror e mortes. A tragédia comove o país. Quatro crianças mortas, outras feridas, algumas hospitalizadas em estado grave, passando por cirurgias. Uma situação em que faltam palavras, o raciocínio desgoverna-se e tentativas de compreensão falham. Por que crianças inocentes, tão pequenas, indefesas, motivariam um “monstro“ a matá-las?
Luto e lamentos oficiais
O país está de luto, senão oficialmente, ao menos nos corações de todos os brasileiros que, por empatia e solidariedade, sentem essa tragédia como parte, um pouco, da vida de todos nós. Presidente da República, ministros de Estado, deputados, lideranças, políticos em geral, o ex-presidente Bolsonaro, todos, independente de partidos ou ideologias, manifestaram-se sobre o massacre em Blumenau. Até quando continuaremos apenas lamentando? Não há mais segurança em lugar algum. Não há mais proteção nem mesmo aos mais puros e inocentes, crianças de creche, da Educação Infantil, sequer, numa instituição de ensino da iniciativa privada, cercada de muros e grades.
“Coincidências”
Nas últimas semanas, após a morte da professora esfaqueada por aluno, em São Paulo, pipocaram casos de ameaças de ataques a escolas em diversas localidades do país. Coincidência? De ameaça em ameaça, chegamos a uma chacina, de fato, em Blumenau. Isso não pode ser coincidência… Uma nítida cultura de violência envolvendo escolas tem se formado e se disseminado. O massacre na escola de Columbine, EUA, foi icônico, retratado em filme longa-metragem, até. De lá para cá, somente no Brasil, já somam-se 24 ataques a escolas em 22 anos. Não se pode mais jogar essa sujeira para debaixo do tapete e dizer que se tratam de “casos isolados”. Há uma cultura de banalização da violência por detrás de tantos ataques torpes, brutais e insanos nas escolas.
Desafio de “game”
A imprensa local de Blumenau e do Vale do Itajaí tem trazido informações mais detalhadas sobre possíveis motivações para a chacina na creche em Blumenau. O assassino teria confessado a polícia que as mortes seriam parte do último desafio de um “game” que ele jogava. E ainda teria dito que mais quatro ataques assim estariam sendo planejados em Blumenau, entre jogadores do referido videogame. Na grande imprensa, nacional, essas informações ainda não ganharam o devido destaque, possivelmente, por cautela, preferindo-se aguardar as investigações da polícia, que busca por outros prováveis participantes do crime, por meio de planejamento e incentivo. A divisão de crimes cibernéticos entra em ação, investigando possíveis ligações com atividades na internet, em especial, na deep web, dark web.
Revolta do povo
A população brasileira revolta-se, sofre, teme, e pede dura punição. As defesas da pena de morte, da prisão perpétua, voltam com força total. Uma única certeza: o país demanda leis muito mais duras contra criminosos, em especial, os que atentam contra a vida de menores, de crianças, em crimes hediondos, onde não há possibilidade alguma de defesa das vítimas. O mais revoltante é saber que, com o Código Penal atual, este criminoso poderá estar livre em poucos anos.
Detalhe: o assassino de Blumenau já contava com passagem pela polícia por outros crimes. E ainda temos de ouvir o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, dizer que este crime é reflexo de toda uma sociedade doente. Vamos dividir essa culpa com toda a sociedade? O assassino, de 25 anos, adulto, já fichado na polícia, não tem nem a desculpa de ser um menor de idade vítima de bullying. Se for para dividir a culpa, que seja com os governantes que fazem e aprovam leis brandas. E com magistrados que facilitam a vida de bandidos concedendo liberdade a criminosos, até, de alta periculosidade.
Mobilização nacional
Quanto a medidas preventivas, é preciso uma mobilização nacional de combate à violência nas escolas. A elaboração de protocolos de segurança seria providencial. Reforço em segurança privada e pública nas escolas, a partir da presença de policiais militares, guardas municipais, seguranças particulares e câmeras nos entornos das instituições de ensino, também. Pois, contra a perversidade humana, a que nenhum outro animal consegue equiparar-se, é preciso muita prevenção. E não subestimar quaisquer ameaças, sinais, indícios.
Cobertura da imprensa
Outro ponto importante é repensar a cobertura na imprensa sobre esses casos. Alguns veículos, como o Estadão, optaram por não divulgar imagens, nome, e fotografia do criminoso e das cenas do crime. Há estudos sobre comunicação e violência que demonstram um efeito-contágio a quem planeja esses ataques, servindo de incentivo, estímulo e encorajamento a possíveis novos atos. A grande repercussão na mídia é vista como um “troféu” por essas mentes doentias. Conforme colocado no início desta reflexão, não seria coincidência ameaças e novos ataques após a morte da professora idosa… Há um efeito-cascata evidenciando-se. A imprensa deve zelar pela ética na cobertura de casos tão delicados.