segunda-feira, 20 de maio de 2024
STF põe fogo no país ao derrubar tese do Marco Temporal

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

STF põe fogo no país ao derrubar tese do Marco Temporal

O STF (Supremo Tribunal Federal) definitivamente demonstrou que quer tacar fogo no país, durante esta semana, a partir do julgamento da constitucionalidade da tese do Marco Temporal. Na quinta-feira, o placar de votação formou maioria de 9 a 2 contra o Marco Temporal. Apenas, os ministros indicados por Bolsonaro, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, votaram favoravelmente a tese. Resta, ainda, ao Supremo, deliberar sobre as indenizações das terras de agricultores que possam vir a ser desapropriadas para que a posse seja concedida aos indígenas e a propriedade transmitida à União.

Demarcação de terras indígenas

Estima-se que mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas estejam pendentes. Ou seja, haverá muita briga por terras, muita disputa, entre os chamados “povos originários” e agricultores. Trabalho não faltará a advogados. Já para os agricultores, é possível que percam suas terras, seu trabalho, sua casa. Quando se fala em agronegócio, costuma-se associá-lo a, apenas, fazendeiros ricos, milionários, grandes produtores. Mas, não serão apenas grileiros, invasores de terras, exploradores ilegais de mineração, desmatadores, que estão ameaçados, que correm o risco de terem suas áreas reivindicadas por povos indígenas.

Pequenos e médios produtores

Há muitas famílias de pequenos e médios agricultores que estão muito apreensivos, pois, sabem que as terras onde trabalham, vivem e produzem alimentos para abastecer a população, estão ameaçadas. Gente trabalhadora que comprou sua terra. Não roubou, não invadiu nenhuma área. Trabalhadores rurais, enfim, que ajudam a movimentar a economia local e nacional com muito trabalho honesto e dos mais dignos, abastecendo as cidades, contribuindo para a cadeia produtiva de alimentos. Há famílias nesta situação em Santa Catarina, no Mato Grosso do Sul e em outras localidades do país.

Representantes do “agro” em todo o país têm alertado para o risco de insegurança alimentar caso haja entrega destas terras produtivas aos índios. Prefeitos e governadores estão preocupados com as possíveis indenizações que terão de pagar pelas desapropriações. Em resumo, a derrubada do Marco Temporal deverá gerar o caos no país. Insegurança alimentar e insegurança jurídica é o que se tem apontado. Fere-se inclusive o direito a propriedade previsto na Constituição Federal.

Papel do Senado

Se o Congresso Nacional não tomar imediata providência contra a decisão do STF, seria menos vergonhoso fechar as portas e deixar a mais alta corte judiciária legislar sozinha. Conforme o senador Sérgio Moro disse: ”é melhor fechar o Congresso Nacional, se o Senado não fizer nada”.

Aprovação do Marco Temporal na Câmara dos Deputados

Meses atrás, a Câmara dos Deputados aprovou Projeto de Lei estabelecendo Marco Temporal. A vitória foi folgada, com o apoio do presidente da Casa, Arthur Lira: 283 a 155 votos. O texto foi para o Senado e teve análise adiada, na CCJ, a pedido da base governista. No próximo dia 27, a CCJ volta a analisar o projeto de lei. Enquanto isso, o STF começou a julgar a constitucionalidade da tese do Marco Temporal, que estabelece a data da promulgação da Constituição Federal como limite para reivindicação de terras pelos povos originários. Ou seja, somente aquelas terras que, em 5 de outubro de 1988 já estavam de posse dos índios, ou em disputa judicial, podem ser reivindicadas. Mas, o STF declara essa tese inconstitucional, abrindo a possibilidade de os povos originários reivindicarem a posse de quaisquer terras, em tese, alegando que a posse, algum tempo, lá trás, no passado remoto, histórico, já foi deles.

Interpretação capciosa

Em teoria, essa interpretação pode dar margem a propagação da ideia de que o território nacional inteiro, um dia, num distante passado, já foi pertencente aos povos indígenas. E, de fato, foi, realmente. Porém, se levada ao extremo, teríamos de sermos, os brancos e afrodescendentes, todos expulsos do país, deixando tudo para os índios. Mas, quem, entre nós, brasileiros não teria indígenas entre seus ancestrais, também? Somos uma salada mista de etnias e raças, afinal. Então, a interpretação do STF revela-se bastante capciosa, feita para confundir, gerar discórdia e caos, mesmo. Os “povos originários” detêm a posse de 13% do território nacional. Será que todos os povos indígenas atualmente querem viver de modo primitivo, em aldeias, produzindo, plantando? Ou estariam apenas servindo de massa de manobra de políticos e Ongs, enquanto andam de carro e conversam em telefones celulares, alguns outros cobrando pedágio nas estradas da região Norte, por exemplo?

“Agro” e o PIB

É muito preocupante, grave, mesmo, esta última decisão do STF. A agropecuária é o que tem segurado nossa economia. Segundo dados divulgados nesta semana, há previsão de crescimento do PIB acima das expectativas, ultrapassando os 3% até o final do ano, graças ao bom desempenho do agronegócio. A única saída é o Congresso Nacional colocar em pauta uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional).Do contrário, o Congresso pode conseguir aprovar um projeto de lei, mas, o STF consegue invalidá-lo, declarando-o inconstitucional. A queda-de-braço está lançada entre ruralistas e os ministros togados. Dessa vez, o STF mexeu com gente muito poderosa, que possivelmente não deixará “barato” a derrubada do Marco Temporal.

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Uma resposta

  1. Se os grandes e milionários produtores que lá atrás tomaram muita terra (e regularizaram pela influência política ou pela violência – não mencionando o coronélismo -tirem as próprias conclusões a partir da recordação do voto de cabresto) e hoje são referência em produção agrícola – inclusive explorando o pequeno produtor ou utilizando trabalhadores com condições análogas à escravidão – estão preocupados, quer dizer que o Marco está no caminho certo. Querem defender o pequeno produtor e, ao mesmo tempo, atacar invasor e grileiro, essa conta não está fechando, meus queridos!! E o grande produtor nessa história, os quais são os mais interessados? Os 2 ministros que mencionaram na matéria, que piada!! Não sei se é ingênua ou tendenciosa essa matéria.

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