Perto de um ano das eleições presidenciais, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, desembarcou no Brasil, na quinta-feira (23/09), para decidir seu futuro político. Apontado como um dos prováveis pré-candidatos à presidente da República, em 2022, sendo colocado como a principal aposta da terceira via, para fazer frente à polarização Lula/Bolsonaro que se cogita, o ex-ministro tem encontros marcados com lideranças políticas e empresariais em Brasília, São Paulo e Curitiba. O partido em que deverá se filiar é o Podemos, no qual, de acordo com o senador Alvaro Dias, ele comprometeu-se a ingressar.
Mas, há rumores entre membros do partido de que, talvez, não venha a candidatar-se a presidente da República, mas, sim, a uma vaga para o Senado. Comenta-se, inclusive, que Moro teria se arrependido em largar a carreira de juiz para assumir o ministério do governo Bolsonaro. Atualmente, está morando nos Estados Unidos, onde trabalha em uma empresa privada. Também, outro comentário, é o de que a família do ex-juiz não gostaria que ele se candidatasse à Presidência da República.
Uma aposta de alto risco
Assim como arriscou-se bastante ao abandonar a carreira de juiz para assumir uma pasta no governo Bolsonaro, possivelmente, Moro e a família considerem outro risco que não vale a pena, o de candidatar-se à Presidência da República. Obviamente, porque o risco de perder as eleições não é pequeno. Não se trata de subestimar os méritos e capacidades do ex-juiz, seu potencial eleitoral. Mas, de enxergar com lucidez que o ex-juiz que ganhou fama e colheu os louros com a Lava Jato já não conta mais com tanta popularidade, assim.
Imagem desgastada
Lamentavelmente, sua saída do Ministério da Justiça gerou um desgaste imenso a sua imagem. Não por culpa de sua postura, mas por conta da perda de popularidade entre bolsonaristas, que passaram a xingá-lo de “traidor” e outros adjetivos nada nobres. O resultado é que Moro passou a não ser somente odiado pela esquerda, mas, também, pela direita bolsonarista que, até então, o tinha como um paladino da moral e de conduta ilibada.
Odiado pela esquerda e pela direita bolsonarista
Depois de sair do ministério com aquele estardalhaço todo, convocando uma coletiva de imprensa, infelizmente, o bolsonarismo passou a não mais vê-lo como uma pessoa confiável. Tanto que, mimetizando a esquerda, o bolsonarismo passou a viralizar uma penca de fake news contra o ex-ministro. Desde ter sido treinado pela CIA até uma das últimas fake news, em que o aponta como aliado de João Doria, tendo inclusive passado documentos secretos ao governador de São Paulo. Em resumo, tanto esquerdistas como bolsonaristas acham que ele trabalha para o PSDB. E o PSDB, todos sabem, vive na mira de esquerdistas e bolsonaristas. Todas essas teorias são pura conspiração fantasiosa, porém, não se pode subestimar o poder das fake news. É terrível, mas é a realidade: fake news provocam um estrago imenso à imagem das pessoas e instituições e são capazes de decidir uma eleição.
Moro teria perfil para a política?
Pessoalmente, creio que, talvez, Sérgio Moro não tenha perfil para a política. E que jamais deveria ter largado a carreira de juiz para assumir um ministério. Isso não significa que não tenha boas chances de ser eleito presidente da República. Acredito que há um potencial eleitoral considerável, nada desprezível, para a escolha de um candidato da terceira via. É bem provável que as pesquisas de intenção de votos ainda não estejam retratando com fidelidade a parcela de eleitores absolutamente insatisfeitos com a polarização Lula/Bolsonaro. Uma parcela que não aparece nas pesquisas, talvez, porque os institutos tenham interesse em manipular dados para estimular a polarização. Bem como porque ainda não há um candidato forte da terceira via que empolgue o eleitorado ao ponto dele sair dizendo nas pesquisas que votaria em tal nome. Moro pode ser esse candidato.
Contudo, o que parece bastante incerto é sobre a capacidade de Sérgio Moro lidar com a política do dia-a-dia, caso seja eleito presidente da República. O jogo é pesado em Brasília. Requer muita habilidade, capacidade de articulação, não é para amadores. Moro é completamente inexperiente nesse quesito. O mesmo se falava de Bolsonaro quando candidato, que não teria capacidade em negociar com o Congresso, de bem administrar os embates decorrentes da pluralidade de ideias e forças políticas constantes que compõem o cenário nacional. Entretanto, Bolsonaro já vinha de trinta anos de atividade política no Poder Legislativo. E, ainda, assim, debateu-se bastante quando assumiu a Presidência da República. Aos trancos e barrancos, conseguiu formar uma base aliada, depois de muito apanhar. Não é o caso de Moro, que está completamente cru, ainda. Possivelmente, uma entrada pelas portas do Poder Legislativo lhe seja mais benéfica. Pois, esta é uma verdadeira escola do fazer político diário.
Chefa de “salvadores da pátria”
É importante, ainda, ressaltar que não deveria haver mais espaço no país para “salvadores da pátria”. É preciso maturidade para não enxergar o então “herói” da Lava Jato como um salvador da pátria. Será que não aprendemos ainda com tantos erros, ilusões e messianismo? Será que há ainda quem aguente esse slogan, esse discurso? Está na hora do eleitorado amadurecer e se dar conta de que ninguém vai salvar o país de uma hora para outra, em quatro anos de mandato, nem tem a capacidade de fazer milagres. Um bom candidato de terceira via, seja Moro ou outro, precisa ser lançado, mas não para prometer mundos e fundos, mas para começar a dar os primeiros passos a um Brasil melhor, mais ético, mais justo, próspero, digno, a partir de uma liderança democrática e humanista, que saiba bem equilibrar as demandas de todas as parcelas da sociedade com civilidade e competência. Sobriedade, seriedade, capacidade, honestidade e compromisso com o povo é o que se espera. Chega de messianismo, populismo, fanatismo ideológico e truculência. Política só funciona com diálogo e diplomacia.