Desde que desenvolvemos a linguagem, passamos a valorizar os grandes oradores. Na escola, os melhores alunos são os que dão as melhores respostas. Nas organizações não é diferente. Quem fala bem, se dá bem. Admiramos e promovemos líderes capazes de comunicar com clareza uma mensagem, envolver, cativar e persuadir outros por meio de sua linguagem.
O que tenho observado é que a habilidade que mais faz falta nas pessoas, especialmente nos líderes que acompanho é a escuta. Dada nossa educação, não é difícil perceber porque a escuta ainda não é valorizada, portanto não é desenvolvida. Nas empresas, executivos e executivas são valorizados pela arte da fala, tornam-se grandes contadores de histórias ou grandes negociadores.
São homens e mulheres reconhecidos por sua incrível capacidade de influenciar pessoas pela arte da fala. Sua capacidade de escutar fica em segundo plano. Sequer percebem que não sabem escutar. Sabem ouvir, mas alguns estão longe de saberem escutar.
Em minha trajetória, percebo que aprender a ter boa oratória é muito mais fácil que aprender a escutar. Porém, existe uma saída, pois aos poucos esse jogo está mudando. Para algumas organizações a empatia na liderança é uma habilidade valorizada.
Fala-se cada vez mais de uma liderança humanizada. Isso significa uma liderança que gosta e cuida de gente. E o que seria da empatia sem a escuta? Se não soubermos escutar, não poderemos compreender o que a outra pessoa está experienciando.
Escutar é difícil. Por si só, a escuta já é um problema. Para o filósofo chileno Rafael Echeverría, escutar é igual a “ouvir + interpretar”. A nossa capacidade de processar, interpretar e julgar a informação é nossa principal aliada e ao mesmo tempo nossa principal inimiga na escuta. Ao escutarmos, podemos acessar o mundo do outro. Por isso, a escuta é tão poderosa.
E ao escutarmos, interpretando o mundo do outro, podemos nos afastar do nosso. Nossa interpretação pode ser o oposto do que o outro tem a nos dizer. Contudo, se escutarmos bem, corremos o risco de aprender e de nos transformar pela fala do outro.
Quando escutamos verdadeiramente, mudamos. Não é possível sair da mesma forma que entramos em uma conversa, se nossa escuta for genuína. O que o outro fala, me impacta de diversas maneiras. Como o outro fala pode me levar a diversos lugares, dependendo da minha forma de ver o mundo.
Se conseguirmos suspender, por alguns minutos, nossa forma de ver o mundo para colocar a lente do outro, uma conversa se torna um portal aberto para novas possibilidades de ver, de ser e de fazer. Se somos capazes de escutar e perceber esse lugar de onde o outro fala, não tem erro. Sairemos transformados.
É por isso que nossa escuta é tão importante. Nos aproxima de qualquer pessoa, por mais diferente que esta pessoa seja de nós. Mas isso só é possível se tivermos interesse, se conseguirmos desapegar e estivermos suficientemente curiosos para conhecer até aquilo que achamos que já sabemos.
Esse é meu convite para você: escute de verdade. Seu mundo nunca mais será o mesmo.
Roberta Perdomo é especialista em Gestão Estratégica de Pessoas e autora do livro “Eu não nasci para liderar”.