domingo, 19 de maio de 2024
Relatório do PISA 2022 não surpreende sobre baixa qualidade do ensino no país

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Relatório do PISA 2022 não surpreende sobre baixa qualidade do ensino no país

O relatório 2022 do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apontou o Brasil em uma posição bastante preocupante no ranking de desempenho dos estudantes participantes. Em Matemática, sete em cada dez (74%) estudantes participantes não alcançaram o patamar mínimo exigido, relacionado a cálculos simples como, conversão de moedas e fazer comparativos de distância entre duas rotas. O relatório avalia o desempenho de alunos de quinze anos em Matemática, Leitura e Ciências e é realizado a cada três anos, desde 2000.

Participação de 81 países

A avaliação contou com a participação de quase 700 mil estudantes de 81 países, sendo 37 países-membros da OCDE e 44 países parceiros. No Brasil, foram 10.798 participantes de 599 escolas, representando cerca de 2.263.000 alunos desta faixa etária. Em Matemática, o Brasil ficou entre os vinte países com piores resultados. A avaliação, considerada a maior e mais importante a nível internacional, ainda aponta um desempenho brasileiro bastante fraco em Leitura e Ciências, também, com 50% apresentando dificuldades em interpretação de textos simples e 55% em Ciências, com a proficiência mantendo-se estável em relação a 2018, ano da última avaliação. A média dos países-membros da OCDE é de 31% de baixo desempenho para Matemática, 26% em Leitura e 24% em Ciências.

Menor queda durante pandemia

Se há uma notícia relativamente boa neste último relatório é a de que o Brasil caiu cerca de 5 pontos, apenas, em Matemática, em relação a 2018, enquanto países ricos perderam cerca de 10 a 15 pontos, considerando Matemática, Leitura e Ciências. No levantamento de 2022, o Brasil ficou na posição 65 em Matemática, 52 em Leitura e 61 em Ciências.

Queda histórica dos ricos, durante pandemia

A pandemia foi apontada como um dos fatores, mas, não o único, para a queda no desempenho dos estudantes, inclusive, de países ricos, onde houve um declínio acentuado, sem precedentes. Contudo, apesar da pandemia, países asiáticos conquistaram os maiores patamares, ficando entre os cinco primeiros. Singapura, uma cidade-Estado composta por um arquipélago de 63 ilhas, no sudeste asiático, com cerca de 6 milhões de habitantes, foi o país de melhor desempenho nas três áreas de conhecimento. Na América do Sul, apenas Paraguai e Argentina obtiveram desempenho mais baixo que o Brasil em Matemática.

Estes números relatados da avaliação internacional fornecem alguns dados importantes para nortear políticas públicas de educação. Contudo, não se pode considerá-los a única fonte de dados a nortear decisões, uma vez que se tratam de países com realidades completamente distintas. A pandemia não pode ser apontada como a única responsável pelas quedas, conforme o relatório avalia. Principalmente, no Brasil, quando desde o início de sua participação no PISA, em 2002, já não se obtinha melhoras significativas nas notas, de modo consistente. Em resumo, o país tem apresentado um quadro de estagnação que demanda a implantação de políticas públicas de Estado, indo além de um governo.

Desafios do ensino remoto

Durante a pandemia, é importante lembrar que muitos estudantes brasileiros encontraram imensa dificuldade em estudar em casa, a partir do ensino remoto, via internet. Seja por desafios no ambiente familiar como, contar com um local tranquilo, silencioso e confortável para estudar, até, dificuldades em garantir acesso a serviço de internet de forma estável e prolongada. Nossa realidade é muito mais desafiadora ao ensino remoto em comparação a de estudantes de países ricos.

Intervalo de quatro anos

O PISA de 2021 foi adiado por causa da pandemia, tendo sido feito em 2022, quatro anos depois do último, em 2018. Neste intervalo, foi precisamente o período do governo Bolsonaro, onde críticos apressam-se em culpar o governo do ex-presidente pela queda no desempenho. Em certa medida, o Ministério da Educação, no último governo, realmente passou por episódios lamentáveis, com trocas de ministros, polêmicas ideológicas, falta de uma política pública bem definida para a educação e, até, escândalo de corrupção envolvendo a pasta. O único avanço foi o programa nacional de implantação de escolas cívico -militares, mas, que não chegou a ser implantado na maioria das escolas do país, não sendo capaz de produzir resultados gerais em rankings de avaliações onde participam alunos de instituições diversas.

Política pública de Estado

É necessário que se faça uma análise muito mais aprofundada sobre o quadro educacional brasileiro que vá além de governos. Pois, considerando-se somente o PISA, o Brasil vinha melhorando um pouquinho seu desempenho de 2002 a 2012. Passou a apresentar estagnação de 2012 a 2018. O que significa que a estagnação tem sido a grande característica de nosso sistema educacional.

Municípios e estados

Ainda é importante colocar que nem tudo depende do MEC, as políticas públicas municipais e estaduais fazem muita diferença. Outro fator nada desprezível é o de que investimentos em educação não podem se restringir a construção de mais escolas, de ampliação das vagas e contratação de mais professores. O essencial são os investimentos em qualificação do sistema de ensino e dos educadores. E é estritamente necessário pensar num modelo de ensino que realmente seja eficiente, o que faz toda a diferença. Que possibilite o verdadeiro aprendizado, sem indulgências com estudantes que não alcançam notas suficientes para aprovação final.

Modelos de sucesso

Buscar aprender com modelos de sucesso, a exemplo de países asiáticos, seria bastante interessante. Sabe-se que, em muitos destes países, os estudantes contam com cargas horárias de aulas muito maiores que a média de quatro horas do Brasil. Alunos asiáticos costumam contar com cerca de oito, nove horas por dia, de aulas. Então, não há como comparar estudantes brasileiros com estudantes destes países. É uma outra realidade completamente diferente, sem comparação…

Ensino em tempo integral

Uma esperança seria o avanço na implantação das escolas integrais no país. Assim como o avanço no programa de escolas cívico-militares. Ambos os modelos oferecem maiores cargas horárias de aulas, diariamente. Entretanto, garantir a qualidade da proposta pedagógica é fundamental. Mais do que ampliar o tempo passado na escola, é urgente melhorar a qualidade desse tempo, buscando-se o aproveitamento do ensino, verdadeiramente.

publicidade

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress