segunda-feira, 6 de maio de 2024
Por que nos alimentamos por prazer?

Por que nos alimentamos por prazer?

por Dr. André Fuck | CRM-PR 24137  || www.programaact4.com.br

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Os seres humanos se alimentam por dois motivos, necessidade fisiológica e prazer. O primeiro deles é um sistema complexo desenvolvido para suprir nossas demandas energéticas e manter nosso corpo em equilíbrio. O outro é o sistema de prazer e recompensa – mais simples no conceito, mas muito complexo no entendimento – e é sobre ele que falaremos um pouco neste texto.

Alimentar-se por prazer ou de forma a buscar algum tipo de recompensa no alimento é um dos principais causadores do ganho de peso epidêmico na população mundial, muito porque acaba se tornando um hábito. Muitas vezes essa busca por alimento se apresenta de forma semelhante ao vício, como no uso de drogas, por exemplo. Em geral, envolve uma busca por alimentos saborosos e calóricos, sem respeitar muito quais as reais necessidades do organismo.

Um dos principais mediadores neurais envolvidos nesse contexto é a dopamina. Esse neurotransmissor atua no cérebro ativando mecanismos de motivação e recompensa, em uma região conhecida como núcleo accumbens. Já foi comprovado que lesões nessa região ou a falta de produção de dopamina diminuem consideravelmente a busca e ingestão de alimentos.

Outro sistema envolvido no prazer é o endocanabinoide, o mesmo que é ativado pelo uso da maconha. A ativação desse sistema provoca aumento do apetite e do desejo por alimentos mais palatáveis. Esse sistema, além de aumentar a busca por alimentos prazerosos, inibe a ativação de vias anorexígenas, ou seja, que iriam diminuir o apetite e aumentar a saciedade.

Ainda neste contexto temos o sistema opioide, que, quando ativado, também está associado ao aumento da busca por alimentos prazerosos e a serotonina, principal neurotransmissor relacionado ao prazer.

O grande problema do sistema do prazer e recompensa é que os seus mediadores (dopamina, endocanabinoides, opioides e serotonina) não “respeitam” ou até mesmo “burlam” nosso sistema de controle e regulação do apetite, localizado no hipotálamo. Quando nos alimentamos apenas por prazer, o estímulo para comer é mantido ativado pela recompensa que o sabor nos traz, em detrimento das nossas necessidade biológicas.

Atualmente a ciência tenta desvendar melhor esse sistema complexo com o objetivo de desenvolver tratamentos que atuem de forma a quebrar esse ciclo vicioso. Como esse sistema evoluiu ao longo de milhares de anos, nossa compreensão ainda é muito superficial e pouco efetiva ou sustentável apenas com medicamentos. A mudança comportamental é fundamental, pois alterando nossos hábitos, conseguimos modificar esses estímulos e, enfim, mudar essa realidade.

Fonte: Tratado de Obesidade – Segunda Edição – 2015

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