Monark, Kataguiri e Adrilles e as duras lições sobre a responsabilidade dos formadores de opinião
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Monark, Kataguiri e Adrilles e as duras lições sobre a responsabilidade dos formadores de opinião

A ‘cultura do cancelamento‘ chegou ao auge durante a semana a partir da demissão do apresentador “Monark” do programa Flow, de podcast. Em um debate com os deputados federais Kim Kataguiri e Tábata Amaral, ”Monark” disse que a criação de um partido nazista deveria ser liberada no Brasil. O apresentador não estava defendendo o Nazismo, mas, sim, a liberdade de expressão e de ideias, seja de quem for. Ainda defendeu a liberdade das pessoas de serem contrárias “às ideias dos judeus”.

O deputado Kim Kataguiri também se deu muito mal nesse bate-papo do programa que mais parecia uma conversa de bêbados de boteco, realizada com muita displicência e irresponsabilidade. Ao ser interpelado pela deputada Tábata Amaral se o Nazismo não deveria ter sido criminalizado na Alemanha, respondeu que achava que não deveria ter sido criminalizado. Pois, segundo seu raciocínio, até mesmo as ideias mais idiotas e nefastas não deveriam ser proibidas porque, somente assim, a sociedade poderia discuti-las e mostrar o quanto elas são nocivas. A repercussão do programa foi bombástica e nunca o Nazismo foi tão debatido no país nas últimas décadas. Só se fala nisso nas mídias sociais. Como Kataguiri tem foro privilegiado, o procurador geral da República, Augusto Aras, já tomou providências sobre o caso. O PT e o senador Renan Calheiros pedem a cassação do mandato. Parlamentares bolsonaristas pedem a renúncia ao mandato.

“Liberdade de expressão” a qualquer preço

Honestamente, é impossível tachar “Monark” e Kataguiri como apologistas do Nazismo. A conversa no podcast deixa claro que ambos não estavam defendendo ideias nazistas, mas, sim, a “liberdade de expressão” a qualquer custo, de forma irrestrita. O problema é que ambos foram absolutamente irresponsáveis e ignorantes sobre o tema, tanto sobre Nazismo como sobre liberdade de expressão. Nazismo já foi debatido amplamente nas últimas décadas e não há dúvidas de que se trata de crime hediondo. Liberdade de expressão não pode ser irrestrita, principalmente, quando atenta contra a democracia e a vida de pessoas ou de grupos étnico-raciais. Seria o mesmo que defender que é preciso liberar e debater o direito das pessoas tentarem cometer assassinatos ou roubos pois só assim elas verão que é errado.

O nível da argumentação do debate foi muito baixo, absurdo, vergonhoso. Os defensores dos “cancelados” alegam que a intenção dos dois não foi defender o Nazismo, ao contrário, mas, sim, a liberdade de expressão e de pensamento. Ora, e eu diria ”de boas intenções, o inferno está cheio”…

Conversa de “moleques”

O primeiro ponto a ressaltar é a falta de noção de responsabilidade como comunicadores que os dois demonstraram. Ali no podcast, não se tratava de uma conversa de boteco, entre íntimos num ambiente privado. Tratava-se de um programa midiático de grande repercussão popular, aliás. Onde estava o profissionalismo? O próprio Monark pediu desculpas dizendo que estava bêbado e não pensou bem no que falou. Mais espantoso foi o comentário do Kataguiri, um político já tarimbado e supostamente bastante esperto e bem informado. Como pôde dizer algo tão sem sentido e sem consistência argumentativa? Queria apenas confrontar a Tábata Amaral com reatividade defendendo a liberdade de expressão em suas últimas consequências?

Irresponsabilidade dos formadores de opinião

O triste episódio deixou claro o nível de infantilidade, irresponsabilidade e mediocridade dos dois formadores de opinião. Um deputado, qualquer político, inclusive, necessita ter mais consciência da repercussão de tudo o que diz e faz… E mesmo o apresentador, uma figura pública que influencia milhares, até milhões de pessoas, precisa ter essa consciência, também, de medir as palavras, saber expressar-se corretamente bem como entender a fundo sobre o que está opinando. Quando Monark disse que as pessoas têm direito de ser contrárias “às ideias dos judeus”, disse como se um grupo étnico fosse o mesmo que uma ideologia, e como se todos os judeus tivessem uma forma de pensamento, um ideário, homogêneo. Pareceu não entender que Nazismo defende o extermínio de um grupo étnico e, não, apenas, “o combate a ideias dos judeus”. Vergonhosa a demonstração de absoluto desconhecimento do assunto. A citação do escritor José Saramago é perfeita para esse caso: ”O problema não é que as pessoas tenham opiniões. O problema é que elas tenham opiniões sobre assuntos que não conhecem”. Foi exatamente o que aconteceu com Monark.

Foro privilegiado

Já sobre Kataguiri, é difícil supor que um deputado não entenda o que é o Nazismo. O que deve ter ocorrido foi uma reatividade imensa a qualquer criminalização da liberdade de expressão. Quis ser libertário ao extremo sem pensar nas consequências. Ao menos, o deputado não pára de pedir desculpas a semana inteira, buscando esclarecer que não soube se expressar, que errou ao dizer tamanho disparate.

Flertando com o crime

Para completar o festival de asneiras a flertarem com o crime, o apresentador de um programa da Jovem Pam News, Adrilles Jorge, ao repercutir o caso encerrou sua fala com a reconhecida saudação nazista a Hitler denominada ‘Sig Heil’, em ar de deboche, completando com uma risadinha ‘engraçadinha’. O apresentador, muito embora, tenha se oposto a qualquer apologia nazista, finaliza com um gesto contrário a tudo o que disse. Como quem faz uma provocação a esquerda, que mais tem atacado Kim e Monark. Quis “pagar” de irônico e sarcástico e também se deu mal. Foi sumariamente demitido do grupo Jovem Pan.

Mediocridade do debate

O que se pode extrair destes tristes episódios é a mediocridade em que caiu o nível do debate desta verdadeira guerra cultural entre direita e esquerda. É a “banalidade do mal” definida pela filósofa Hannah Arendt. O mal está sendo tão banalizado em nome de uma disputa ideológica que se passa a defender, até, a liberdade de ser nazista para contrapor-se ao comunismo, ou melhor, o progressismo, em curso. Não seria mais sensato criminalizar o comunismo, também, como defendeu o presidente Bolsonaro, ao comentar o caso? Afinal, embora não se trate de uma ideologia de teor racista, ditaduras comunistas dizimaram muitos milhões de vidas humanas, num período de tempo mais longo que o Nazismo.

publicidade

Compartilhe:

Uma resposta

  1. Acho muito engraçado que políticos e figuras publicas, formadores de opinião defendam, Che, Stalin, Mao… ainda hj, o regime comunista chinês está exterminando Uigur e temos todos esses “pensadores” defendendo a China e seu regime… Che matou homossexuais e negros, os classificando como menores… E o que dizer dos ditadores da antiga URSS?
    E sabe pq ninguém criminaliza também o comunismo e sim, somente o nazismo (não estou defendo em nada a ideia do nazismo)? Pq eles não venceram a guerra… Quem conta a história, foram os escritores que venceram a 2 Guerra e por isso, das 2 ideias autoritárias, totalitárias, assassinas, somente uma foi banida do discurso e a outra exaltada!
    Pq então não seguimos o exemplo polonês q sofreu com ambas ideologias facínoras e proibimos o nazismo e o comunismo?
    Hoje, essa cultura do cancelamento, emburrece mais o discurso que qualifica.
    Acredito que educação, cultura, conhecimento e debate, enriquecem e qualificam as pessoas a terem pensamento critico… conhecer a história nos faz perceber que erramos e nos ensina a não cometer novamente os mesmos erros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress