“Se todos os economistas fossem postos lado a lado, nunca chegariam a uma conclusão”, disse o escritor, dramaturgo e jornalista irlandês George Bernard Shaw. A célebre citação me faz refletir sobre o enfoque que a imprensa, de modo geral, tem dado às ditas estimativas sobre a economia, como se o pessimismo fosse a única tônica em relação ao Brasil. De acordo com a cobertura da nossa grande imprensa, parece que há um único consenso, recitado em coro uníssono: nada vai melhorar e tudo tende a piorar em nossa economia.
Um exemplo foi matéria que vi, recentemente, na CNN ou BandNews, apontando estimativas para a inflação em 2022. A reportagem falava de uma estimativa um tanto vaga, afirmando que a inflação em 2022 tenderá a cair no período eleitoral para depois voltar a subir, novamente. Como se fazer “previsões” sobre um cenário de meses à frente fosse algo muito preciso e indiscutível. Acredito que a função do jornalismo é abordar fatos e assuntos que estão acontecendo na atualidade, ou seja, no momento. Ou abordar fatos passados com um viés de comparação com o presente. Mas, vejo alguns jornalistas especializados e economistas extrapolando em “certezas” sobre suas projeções, muitas delas tratando de um futuro ainda muito distante, para cerca de um ano à frente. Penso que já é um pouco demais para meros mortais desprovidos de quaisquer dons de adivinhação e de predição do futuro. Muitas vezes tenho a impressão que muitos estão torcendo para que nada dê certo.
Guedes contraria previsão do FMI
O pessimismo também é o mote das projeções do FMI para o crescimento da economia brasileira em 2022. Em sua estimativa o PIB brasileiro deverá crescer apenas 1,5%. A imprensa replica essas projeções sem pestanejar, naturalmente. Contudo, o destaque é menor quando é a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes, falar de sua estimativa. Guedes contraria o FMI e estima um crescimento do PIB de 2,5% em 2022. E foi além. Disse que o FMI vai errar de novo em sua projeção. O ministro atribui o erro na estimativa ao “barulho político” em torno de medidas do governo e o avanço das reformas no Congresso Nacional. No ano passado, o Fundo chegou a prever queda de 9,1% no PIB por causa da pandemia de Covid-19, mas o resultado não foi tão negativo (recuo de 4,1%), graças a programas que garantiram transferências de renda a vulneráveis e manutenção de empregos. Guedes participou de um evento promovido pelo Atlantic Council, em Washington (EUA). O ministro está na capital americana participando de reuniões do FMI e do Banco Mundial. Nas projeções para 2022, o FMI se soma a economistas que também esperam um crescimento mais tímido no ano que vem. Na mediana do Boletim Focus, coletado pelo Banco Central, a expectativa está em alta de 1,57%. A equipe econômica do governo tem criticado as previsões. Guedes afirma que o FMI tem errado com frequência em suas estimativas para o Brasil e tem reiterado que “os perdedores continuarão gritando e nós, trabalhando”.
Projeções e estimativas
Naturalmente, uma das funções dos economistas é fazer projeções futuras e estimativas sobre o que está por vir. Entretanto, tais projeções não devem ser interpretadas à risca e seria muito salutar à imprensa que desse espaço para opiniões e estimativas diversas, ao invés de aderir, apenas, a uma unanimidade burra, como diria Nelson Rodrigues, que afirmou que “toda unanimidade é burra”. As Ciências Econômicas são um campo complexo do conhecimento, contando com inúmeras variáveis e correntes de pensamento, muitas delas, divergentes entre si. Outro dado importante é que as decisões humanas e o cenário político costumam influenciar a economia. As Ciências Econômicas não deveriam receber uma abordagem da imprensa de ciências exatas, pois, dependem de fatores e variáveis modificados pelas ações e comportamentos humanos, desde governantes até o setor produtivo e o consumidor. E o comportamento humano não é exato, não é passível de previsões pautadas por uma lógica matemática e imutável. Todos sabem, por exemplo, que a Bolsa de Valores é muito influenciada por efeitos psicológicos a agirem sobre seus investidores, pelo clima do momento e do país em questão. Quem já não viu expressões como “pessimismo nas Bolsas”? Ou “otimismo marca o pregão na Bolsa”. Em suma, a subjetividade dos investidores exerce grande influência em resultados palpáveis.
Inflação, tendência mundial
Tenho observado, ainda, uma abordagem sobre a inflação no país como se fosse um problema isolado enfrentado apenas no Brasil. Pouco se destaca a crise econômica enfrentada pelo Reino Unido, por exemplo. Lá, evidentemente, são outros fatores a influenciar, como o problema do Brexit. Mas, o Reino Unido passa por uma crise séria, com escassez de alimentos nas prateleiras do comércio, falta de mão-de-obra e inflação. O pós-pandemia, aliás, tem agravado a situação econômica de diversos países, promovendo alta na inflação, a exemplo dos EUA, que também enfrenta crescimento nos preços ao consumidor. Segundo Paulo Guedes, a alta na inflação tem sido uma tendência mundial. E ele aponta um percentual médio de 5% de alta em diversos países. No Brasil, além da pandemia, há crises conjuntas, a exemplo da escassez hídrica e energética, e da alta nos preços dos combustíveis. Tudo isso afeta a inflação.
“Oráculo” dos economistas
Enfim, pensou eu, economia é um assunto bastante complexo, que depende de muitas variáveis. Não sou economista, mas, assim como muitos, gosto de dar meus pitacos. O que não tem me transmitido muita seriedade e compromisso com a realidade são determinadas abordagens sobre o futuro da economia por demais pessimistas, colocadas na imprensa de maneira sensacionalista, taxativa, como se economistas e jornalistas econômicos estivessem diante de um oráculo certeiro, capaz de lhes dar previsões inequívocas sobre o que acontecerá no futuro. Um pouco de comedimento seria mais lógico. Pois, transmitir apenas pessimismo pautado em estimativas e projeções não ajuda em nada ao crescimento do país.
Afinal, como citei anteriormente, o clima de uma sociedade, de uma nação, fatores psicológicos, enfim, muito influenciam no desenrolar da economia. Se todo empreendedor e investidor fosse dar ouvidos a economistas, não fariam nada, não sairiam do lugar. Cairiam aos prantos, em desolação total. Como bem disse o brilhante e saudoso economista Roberto Campos: “Há três caminhos para cair em desgraça. O mais rápido é o jogo; o mais agradável são as mulheres e o mais seguro é consultar um economista”. E para reflexão, também, finalizo com outra citação de mais uma personalidade brilhante, o escritor peruano Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura: “ Às vezes, os economistas são melhores que os escritores a contar contos de fadas”.