Imprensa faz crítica a “politização” da internação de Bolsonaro, mas esquece que opositores também politizam o fato
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Imprensa faz crítica a “politização” da internação de Bolsonaro, mas esquece que opositores também politizam o fato

Com a internação hospitalar do presidente Bolsonaro (sem partido) para tratar de uma obstrução intestinal, em hospital de São Paulo, não demorou a mídia estampar nas manchetes dos jornais um suposto retorno da “politização” da facada sofrida em 6 de setembro de 2018, às vésperas das eleições presidencais. Isso porque, em um momento de crise em seu governo em decorrência da CPI da Pandemia, Jair Bolsonaro estaria se aproveitando da “conveniência” política para reavivar a imagem de “mártir imolado”, perante a opinião pública. Críticas à divulgação de imagens íntimas, em leito hospitalar, sem camisa, por exemplo, seriam uma demonstração desse marketing pessoal em torno da “martirização” de um homem público, alimentando o populismo de seu governo.

O fato incontestável que a imprensa parece esquecer é que a facada, em si, sofrida pelo então candidato Bolsonaro foi claramente de motivação política. O criminoso Adélio, conforme apuraram as investigações, não teria outro motivo para cometer o atentado a não ser o ódio político-ideológico ao então candidato. Logo, todas as consequências e menções ao atentado não poderiam ser desvinculadas de um viés político, uma vez que o crime, em sua origem, deu-se por tais razões. Se Bolsonaro teria sido oportunista, visando sensibilizar o eleitorado perante suas condições físicas, é assunto que escapa ao controle dos marqueteiros de plantão. Afinal, quantos, desde então, duvidam de que ele realmente tenha sofrido a facada? Não somente petistas e esquerdistas duvidam da veracidade da facada, mas, crescem, entre o público antibolsonaro de direita, essas especulações.

“Jogo de cena”

Da mesma forma como crescem as especulações atualmente em torno da internação para tratar da obstrução intestinal. Seria necessária realmente uma internação prolongada para tratar de uma “simples” obstrução intestinal? Ou seria apenas “jogo de cena” para prolongar sua estada no hospital unicamente para fazer “cortina de fumaça” à CPI que avança ao núcleo do governo?

Quando se trata de política, a única coisa perceptível é que se torna impossível não politizar todas as situações. Não estariam politizando, também, uma doença séria como a obstrução intestinal em uma pessoa que sofreu um atentado a faca na região do abdômen, os críticos do presidente da República, ao especularem que tudo não passa de “jogo de cena”, e que, até, a facada teria sido fake?

Politização é via de mão dupla

Não estariam politizando, também, aqueles jornalistas que não contêm seus ímpetos de militantes de esquerda ao declararem publicamente que desejam a morte do presidente, como fez a jornalista Barbara Gancia em razão dessa última internação do Bolsonaro? Escreveu a ex-colunista da Folha de São Paulo, na quarta-feira (14), nas redes sociais: “Às 17:00 de hoje darei início a mais uma novena, com reza de 3 terços diários, para que Deus defina de forma inequívoca os destinos de Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro, levando-os desta para pior. Juntem-se a nós, fiéis. O amor de Cristo nos une pela justiça divina”, disparou.

Exploração da imagem x informação

Bolsonaro e os filhos têm sido criticados, ainda, por divulgarem constantemente imagens íntimas no leito hospitalar. Jornalistas e críticos nas redes sociais veem com maus olhos uma suposta exploração de sua imagem, sem camisa. “Lá vem ele, de novo, expondo despudoradamente seu suposto martírio”, debocham. “Onde está a cicatriz da facada?”, outros perguntam. Contudo, se já se duvida da facada, e mais ainda da gravidade de seu problema mais recente de obstrução intestinal, o quanto duvidariam se não vissem frequentes imagens dele internado?

Francamente, há críticas desnecessárias. Não sendo ingênuos, bastando um pouco de experiência em acompanhar a vida política do país e sua história, a conclusão é que a política faz parte do dia-a-dia em variadas dimensões. Não há o que não se politize na vida pública e privada de um político. A partir do momento em que uma pessoa entra para a vida pública, numa carreira política, qualquer gesto seu, ou ausência, serão politizados. Para o bem e para o mal.

Morte de Tancredo Neves

Quer fato mais politizado que a morte de Tancredo Neves e todo o período em que permaneceu no hospital? E, naquela época, não havia redes sociais. Sequer, havia imagens do político hospitalizado, que era para ter sido nosso presidente da República. Especulações e fofocas não faltaram à época. Falou-se de tudo. Que teria sido assassinado. Que já estaria morto muito antes da divulgação do falecimento. Enfim, quem está na chuva é para se molhar. Ingressar na política é isso: nada escapará aos olhos e línguas de adversários e opositores, que acusarão o outro daquilo que cometem. Politizar tudo, de certa forma, faz parte do jogo político. Só não deveria valer mentir e criar factoides. Mas, vence aquele que convence melhor a opinião pública, independentemente de quantas mentiras e fake news propaga-se. Lamentavelmente. Outra crítica infundada é a de que Bolsonaro já estaria fazendo campanha para 2022. É claro que está. Assim como todo e qualquer político que visa ser eleito ou reeleito.

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