Guerra na Faixa de Gaza é mais um motivo para polarização política no Brasil
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Guerra na Faixa de Gaza é mais um motivo para polarização política no Brasil

A guerra deflagrada entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que detém o poder político e de governo na Faixa de Gaza, tem acirrado a polarização político-ideológica no Brasil. Esquerda e direita batem boca nas redes sociais a respeito de um suposto lado certo e outro errado no complexo e histórico conflito entre os dois povos vizinhos no Oriente Médio. Como resultado, há aqueles que radicalizam seus pontos de vista, expressando apoio incondicional ou a Israel ou aos palestinos. Mas, ainda há manifestações que extrapolam os limites da sanidade mental, indo mais além e relativizando, minimizando, o ataque terrorista do Hamas a Israel.

Justificando o injustificável

Para esses ultra-radicais, a barbárie do Hamas em Israel não apenas teria explicações dentro de um contexto, mas, também, justificativas. Quando foi que a polarização política no Brasil chegou a esse nível em que se justifica ataques terroristas a população civil de forma tão covarde, violenta, cruel, bárbara como aconteceu em Israel? Não ocorrem aos envolvidos em debates acalorados sobre essa guerra – que se revela mais preocupante ainda no contexto geopolítico que a da Ucrânia – que é perfeitamente possível apoiar a causa palestina ao mesmo tempo em que se repudia com veemência o terrorismo do Hamas. Aliás, o referido grupo terrorista islâmico, sequer, conta com o apoio de todos os palestinos, não representa integralmente o povo palestino, tendo se revelado, também, altamente prejudicial aos que dizem defender e governar, usando-os como massa de manobra oprimida e como “escudos humanos” durante os ataques de Israel.

Fé e política

A polarização, também, tem induzido a defesas apaixonadas a Israel por parte de conservadores cristãos que têm colocado sua fé religiosa acima de uma postura crítica a possíveis erros e injustiças cometidas pelo governo de Israel contra os palestinos. Infelizmente, há pessoas que têm dificuldades em dissociar povo e nação de seus governantes. Judeus e palestinos podem não estar nem um pouco satisfeitos com seus respectivos governantes, assim como muitos brasileiros não estão, no momento. Ou não estiveram em relação ao governo passado. Seria justo e sensato que estrangeiros julgassem brasileiros pelos governantes que temos ou tivemos? Seria razoável torcer contra ou a favor do Brasil e seu povo pelas atitudes de nossos governantes? Da mesma forma, não seria justo e racional defender apaixonadamente ou acusar palestinos ou judeus pelo que fazem seus respectivos governantes.

Imprensa e o Hamas

Outro ponto a considerar, é a postura de alguns veículos da grande imprensa que têm encontrado dificuldades em classificar de “terrorista” o Hamas. Quem sequestra pessoas, faz reféns, decapita bebês, ataca idosos, invade território alheio com o intuito de atirar em civis desarmados, deliberadamente, não merece outro nome que não o de “terrorista”, pois, trata-se de táticas que violam tratados internacionais sobre os limites de uma guerra. Enfim, é assustador verificar que há brasileiros que têm minimizado o que o Hamas tem feito com a justificativa de defesa da causa palestina. O Hamas é uma organização terrorista que, também, não poupa a própria população palestina que é usada como “escudo humano” nos ataques perpetrados por Israel. E que, em seu estatuto, deixa claro que é terminantemente contra a existência do Estado de Israel. Não se pode responsabilizar o governo de Israel, em sua política de anexação de território, pela barbárie perpetrada pelo Hamas ao povo judeu. Esta facção terrorista tem como fundamento o emprego do terror, violando tratados internacionais de guerra, e é incapaz de estabelecer negociações civilizadas, independente do que Israel faça ou deixe de fazer, jamais aceitará a presença de Israel e de judeus naquela região devido ao fundamentalismo islâmico em seu cerne. Somente com o extermínio do Hamas e a realização de eleições livres e diretas na Faixa de Gaza pode-se começar a pensar em negociações para a paz, estabelecendo-se um governo democrático.

Presidência do Conselho de Segurança da ONU

A direita no Brasil tem cobrado um posicionamento mais duro do governo brasileiro contra o Hamas. É importante distinguir o posicionamento do Itamaraty, da diplomacia brasileira, de uma posição do presidente Lula. Tradicionalmente, a diplomacia brasileira tem se colocado de maneira neutra nesta questão entre Israel e Palestina, tendo defendido a existência dos dois estados livres e soberanos, visando apoiar a causa palestina, também. O presidente Lula tem seguido essa tradição e já expressou em comunicado oficial que irá defender essa posição na presidência do Conselho de Segurança da ONU, cadeira que o Brasil ocupa neste momento. Lula disse ter ficado “chocado“ com a violência perpetrada em Israel pelo Hamas, mas, sem citar o nome do grupo terrorista. A direita tem encarado como um posicionamento “fraco“ do presidente Lula contra o terrorismo. Uma manifestação de repúdio ao terrorismo do Hamas, mais dura e veemente, teria sido muito mais solidária a Israel. Mas, o Brasil também não pode esquecer de se mostrar solidário ao povo palestino, envolvido numa disputa por território de mais de setenta anos, sem ainda uma solução para esse conflito. Jogar mais lenha na fogueira, declarando apoio incondicional a Israel, talvez, não seria o melhor posicionamento ao Brasil, uma vez que se trata de uma disputa de território que conta com narrativas bastante controversas de ambos os lados. Há intransigências e intolerâncias tanto da parte dos palestinos como dos israelitas, mutuamente. Nenhum dos lados tem se mostrado disposto a ceder, do contrário, o conflito já teria sido solucionado. O presidente Bolsonaro também foi duramente criticado por não ter repudiado com veemência a invasão da Ucrânia pela Rússia, é importante lembrar. Mas, não houve toda essa cobrança da oposição porque a esquerda brasileira é simpatizante a Rússia.

Neutralidade

Diante de mais uma guerra em curso no mundo, que pode crescer e envolver outros países do Oriente Médio, é prudente e humanitário procurar não tomar partido de forma tão polarizada. Aquela disputa não tem nada a ver com o Brasil, nossa cultura e tradições. Não temos uma História pautada em grandes participações em guerras. Somos tolerantes a todos os povos e etnias, e religiões. O povo brasileiro costuma apresentar natureza pacífica quando se trata de guerras, realmente. Contamos com outros problemas internos de violência, mas, de natureza e motivações bastante diferentes que as guerras do Oriente Médio ou do Leste Europeu. Assim, seria mais condizente a nossa cultura tão somente buscar uma neutralidade de caráter humanitário, sem disseminar ódio ou preconceito contra nações, povos e etnias. E torcer e orar por um acordo de paz a contento para os dois lados em guerra, o mais breve possível e com o menor número possível de mortos e feridos, entre palestinos e israelenses.

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