Dona Maria deixou Minas Gerais em busca de uma vida melhor em Pinhais

Dona Maria deixou Minas Gerais em busca de uma vida melhor em Pinhais

por Noelcir Bello

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Maria Dias Freire nasceu em Minas Gerais e trabalhou na roça durante muitos anos. Quando ainda bebê, sua mãe deixou que seus tios a adotassem para que pudesse casar pela segunda vez.

Aos 15 anos, o sogro percebeu que ela sofria muito morando junto com seu avô e os tios. Então, resolveu arranjar um casamento com o seu filho, mas o namoro seria à distância. “O meu marido, Pedro, vinha me visitar, mas ele ficava na sala e eu na cozinha. Minha família nunca deixou que eu estudasse, muito menos ir à Igreja para fazer a catequese”, contou.

Moradora de Pinhais desde 1989, conheceu sua mãe depois dos 70 anos, quando retornou para Minas Gerais.

Uma longa caminhada para poder se casar

Casou-se na Igreja no dia 03 de julho e, naquele tempo, primeiro as pessoas casavam-se na Igreja, por isso, dias depois, em 10 de julho, casou também no civil. Para poderem oficializar a união, andaram o dia todo. Saíram a pé de casa, às 08:00hs, e chegaram ao cartório por volta das 16:00hs, acompanhados dos padrinhos.

Maria lembra que a vida de recém-casados não era nada fácil e nem sempre tinham o que comer. Só depois de um ano engravidou e mesmo com dores trabalhava na roça. Tiveram dez filhos, todos em casa. Muito devota, participava ativamente da Tradição Católica realizada no mês de maio e, em umas das apresentações que a família iria realizar, seu filho acabou incendiando a casa. “No dia que minha filha iria se apresentar carregando a bandeira de Maria, meu filho incendiou a casa. Enquanto fui levar almoço para o meu esposo na roça, ele acabou queimando toda roupa destinada a esta apresentação”, contou.

Seu falecido esposo resolveu se mudar para o Paraná. Venderam tudo o que tinham e vieram com uma “maçaroca” de dinheiro, com as notas amarradas, já que a quantia era muito grande. “Viemos com um caminhão Pau de Arara. Foi uma longa viagem. Quando chegamos, emprestamos o dinheiro para o novo patrão, que era viciado em jogo, e ele nunca mais devolveu. Mais uma vez, ficamos algumas vezes sem ter o que comer”, disse dona Maria.

Na época, moraram em Ouro Verde e depois se mudaram para Toledo. Cansada de sofrer sem a perspectiva de uma vida melhor para os filhos, dona Maria convenceu seu Pedro a se mudarem pra Curitiba. Encontraram uma casinha velha no Tarumã e lá viveram por alguns anos.

A sorte começou a mudar

Uma das filhas trabalhava no extinto Hospital Santa Ana e, como tinha um salário, começou a pagar o carnê do Baú. Certo dia, ela desistiu de pagar e jogou o carnê no lixo. Dona Maria viu, recolheu o carnê e começou a pagá-lo. “Eu tirava dinheiro da comida para conseguir pagar o carnê em dia”, afirmou.

Assim, a sorte começou a mudar. Foi sorteada e chamada para ir ao programa do Silvio Santos. No programa, ela ganhou um fusca. “Dos quatro carros que vieram pra Pinhais, naquele dia, o meu foi o de menor valor, mesmo assim meu genro vendeu o fusca por cinco mil. Comprou o terreno para mim por 1200, ao lado da Associação da Sanepar e também pagou as contas dele em Curitiba. Ainda sobrou dinheiro”, lembrou.

Dona Maria mora no centro de Pinhais desde 1989 e lamenta não poder ter assistido o velório do Tancredo Neves, já que não tinha televisão. Quando chegou à cidade, o bairro não tinha a maioria das ruas, só havia uma linha de ônibus que passava na Rua Uganda. Era um povoado cheio de árvores, sem luz, não tinha água encanada. “A gente pegava água de um poço da vizinha. Também não havia lugares para levar as crianças para passear, por isso eles brincavam ao redor de casa e o passeio era ir pra igreja aos domingos”, disse.

Até hoje, seus vizinhos continuam sendo os mesmos, apenas reformaram as casas. Dona Maria aprendeu a ler sozinha em casa, para conseguir ler a bíblia. Nesta época, lembra que até tentou ir aprender na escola, mas garantiu que cabeça não ajudava muito.

Na igreja encontrou o conforto nos momentos difíceis

Foi casada por 56 anos, mas, infelizmente seu esposo não resistiu a um AVC, inclusive perdeu sete irmãos pelo mesmo motivo. Seu filho Josias também faleceu ao cair de um abacateiro no quintal da casa dela em Pinhais e sua filha mais velha faleceu por complicações de uma doença rara, mesmo tendo passado por quatro anos de tratamento.

O que aliviou sua dor até hoje foi o seu envolvimento com a igreja, inclusive tendo trabalhado por dois anos como voluntária no Projeto Evangelizar, em Curitiba. Aos 78 anos, ela adora plantar suas verduras e temperos em seu quintal.

Muito orgulhosa, dona Maria agradece a Deus por ter conseguido criar todos os filhos. Avó de 25 netos, tem ainda oito bisnetos, sendo que o mais velho tem 17 anos. Sempre levou os filhos para a escola e depois passou a ajudar a cuidar dos netos, e ainda os leva pra escola com muita alegria.

Exemplo de vida

Dona Maria controla a alimentação, evitando sal, frituras e consumindo muita salada. Também, para manter a vitalidade, faz alongamento, caminhada e já participou de diversas atividades do Centro de Convivência do Idoso de Pinhais. Ao finalizar o nosso bate-papo, nossa entrevistada deixou um recado aos jovens. “Se cuidem. Não bebam, não fumem, dirijam com cuidado, tenham fé, creiam em Jesus e, em tudo que forem fazer, sempre coloquem Deus na frente”, concluiu.

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