terça-feira, 21 de maio de 2024
“Discurso de ódio” de Lula contra Moro gera ilações sobre plano do PCC para matar senador

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

“Discurso de ódio” de Lula contra Moro gera ilações sobre plano do PCC para matar senador

“Discurso de ódio” quando vem da esquerda vira “discurso de ódio do bem”? Ironias a parte, creio que não se pode subestimar a declaração do presidente Lula durante entrevista a TV Brasil 247, na terça-feira (21). Contou o presidente, sem cerimônias, que, quando estava na prisão, toda vez que chegava um promotor, um delegado, uma autoridade e lhe perguntavam se estava bem, dizia que só estaria feliz quando conseguisse ferrar o Sérgio Moro. Na verdade, o petista usou um palavrão para expressar o que gostaria de fazer com o então juiz federal.

A confissão do presidente da República, talvez, não surpreenda quem o conhece bem. Na ocasião, Lula disse ter sucumbido a mágoas na prisão por sentir-se perseguido injustamente por um juiz. A forma sistemática com que disse ter repetido na prisão, somada a todo o comportamento do agora presidente eleito, toda sua retórica revanchista, do “nós contra eles” dá sinais de que há uma obstinação do petista em busca de um “acerto de contas” contra todos que lhe prejudicaram e a seu partido.

Pedido de impeachment

A gravidade da declaração motivou, inclusive, parlamentares da oposição a se mobilizarem para protocolar um pedido de impeachment do presidente. Obviamente, Arthur Lira, presidente da Câmara, não deverá dar espaço a colocar algo nesse sentido na pauta de votação. De qualquer forma, deixa-se registrado que não passou batida uma grave confissão como essa, incorrendo em crime de responsabilidade. Se Lula não teve constrangimento em confessar algo desse teor, usando de um termo de baixo calão, diante de jornalistas que, embora, de um veículo de esquerda, ainda, assim, não são pessoas de sua intimidade. Imaginem o que diz sobre o senador Sérgio Moro a seus interlocutores íntimos e da mais alta confiança?

Operação da PF

Coincidentemente, no dia seguinte a veiculação da entrevista, a Polícia Federal deflagra uma operação com mandados de prisão de membros da organização criminosa PCC, e de busca e apreensão, resultando na prisão de nove pessoas em quatro estados e no Distrito Federal. As investigações apontaram para um plano da quadrilha para matar Sérgio Moro, além de um promotor do GAECO que atua contra o crime organizado e outros agentes públicos. Matar, sequestrar e extorquir estavam nos planos dos criminosos. O motivo seria retaliação a decisões que prejudicaram os objetivos da quadrilha. Uma delas foi a proibição de visitas íntimas, além da transferência de líderes como, Marcola, para presídios de segurança máxima. A transferência dos líderes dificultou a atuação do PCC. Moro, enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública tomou decisão nesse sentido. Uma gravação veio a público, aliás, em que aparece um integrante da quadrilha, conhecido como “Elias” dizendo que com o PT há diálogo, um “diálogo cabuloso”.

Coincidência

Não há elementos para associar a declaração de Lula contra Moro ao plano do PCC. Mas, naturalmente, a direita já tem feito essa associação, alegando que não se trata de coincidência os dois fatos. Seria leviano afirmar que Lula teria contratado o PCC para matar Sérgio Moro sem, ao menos, indícios concretos. Mas, é impossível não especular alguma ligação do PT ao PCC após a conversa vazada do criminoso ”Elias”.

Autonomia da PF

De concreto, o que temos são dois fatos. O primeiro é a autonomia preservada da Polícia Federal, até o momento, no governo Lula. A PF deflagrou uma operação que fatalmente prejudicaria a imagem do presidente devido a confissão feita pelo petista, no dia anterior, a TV Brasil 247.

O outro fato é o discurso de ódio propagado pelo presidente. Mesmo considerando que a vontade de prejudicar Moro tenha representado “meras memórias do cárcere”, a fala de uma liderança como Lula pode, sim, colaborar para a propagação de um discurso de ódio contra o senador Sérgio Moro por parte da esquerda. Algo semelhante ao que Bolsonaro disse sobre “metralhar petistas”. Todavia, até mais grave, pois, Lula referiu-se a uma pessoa em específico por razões pessoais. Enquanto Bolsonaro usou de uma retórica genérica, bastante impessoal.

“Ódio do bem”

Mas, ”o amor venceu”, como dizem os eleitores do presidente petista. E talvez tudo se resuma a um certo “ódio do bem” quando se trata de combater quem se opõe aos interesses de um partido e de uma ideologia que se considera detentora do monopólio do bem. Mesmo que, para atingir seus objetivos, os inimigos tenham de ser, no mínimo, neutralizados.

Combate ao crime organizado

Sérgio Moro, por sua vez, não se intimidou e “partiu para cima“ do crime organizado, em seu pronunciamento no Senado. Prometeu lutar para endurecer o combate a essas poderosas quadrilhas que estão fazendo a festa, por exemplo, no Rio Grande do Norte.

Como presidente da República, já, Lula, deixou claro que considera Moro um inimigo pessoal. O problema é que, agora, se trata de um senador, e, não, mais, um juiz, o que claramente prejudica a democracia.

“Sincericidio”

Dizem que o peixe morre pela boca. A confissão de Lula foi uma grande mancada, visto que atenta contra a ordem democrática. Um presidente da República não poderia, jamais, incorrer em tamanha sinceridade em público, considerando-se que pode inibir, constranger, a atuação de um senador no seu direito de exercer a independência dos poderes sem a sensação de estar sendo ameaçado por um representante de outro poder. Parece que o petista esquece que, agora, é uma autoridade da categoria de um presidente da República e isso pode pesar contra ele, mais tarde, se continuar sem controle do que fala em público. Seus adversários agradecem.

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