domingo, 19 de maio de 2024
Depoimento de Wilson Witzel na CPI da Pandemia escancara palanque eleitoral erguido a desafetos de Jair Bolsonaro

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Depoimento de Wilson Witzel na CPI da Pandemia escancara palanque eleitoral erguido a desafetos de Jair Bolsonaro

O depoimento do ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, à CPI da Pandemia destacou-se por um misto de vitimismo e tom acusatório em relação ao presidente Bolsonaro. Apesar de ter sofrido impeachment por acusações de desvio de recursos para a Covid-19 em seu estado, declarou-se inocente e, de quebra, comparou-se a Lula: disse que terminará provando sua inocência na Justiça, pois, teria sido alvo de um tribunal de exceção.

O objetivo da CPI da Pandemia, todos sabem, não é abordar questões políticas desvinculadas do enfrentamento à Covid-19, seja pelo Governo Federal ou governos estaduais ou municipais. Mas, Witzel falou pouco da parte que lhe cabia. Ao contrário, optou pelo tom espetaculoso com frases de efeito para ganhar mídia desempenhando o papel de vítima perseguida ao mesmo tempo em que insinuava acusações contra o presidente da República. Inclusive, bancou o “bom moço justiceiro” muito empenhado em desvendar o caso do assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco. Segundo seu depoimento, como governador, teria estado muito empenhado em solucionar o crime, ao contrário de Bolsonaro que queria interferências em nomeações de pessoas relacionadas à investigação do caso. Agora, ele adota essa narrativa inventada de que teria sido o grande responsável pelo andamento da investigação. Um Witzel arrependido, após quebrar placa em homenagem a Marielle Franco junto ao deputado Daniel Silveira? Ou um camaleão estratégico e oportunista? Acredito que se trata de um verdadeiro escárnio Witzel se colocar como grande “salvador” do caso Marielle. Até porque governador não tem a prerrogativa de interferir, de mandar, em investigações do Ministério Público e da Polícia Civil. E vale lembrar que a investigação da morte da vereadora já vinha caminhando desde 2018, antes de Witzel chegar ao poder.

“Bomba”

As insinuações contra Bolsonaro, diretamente, aliás, foram além. De acordo com ele, Bolsonaro estaria com medo da concorrência político-eleitoral, tendo se afastado dele, desde que o ex-governador declarou intenção de se candidatar à presidência da República. Ainda disse que houve um fato, relacionado a intervenção federal em seu governo, que deverá dizer em depoimento sigiloso à CPI… Estaria blefando? Se esse fato realmente existiu, o ex-governador teria prevaricado ao guardar esse segredo há tanto tempo…

Em resumo, o depoimento de Witzel falou de tudo um pouco, mas, apenas, sobre o que interessava ao ex-governador. Porém, em nada esclareceu sobre a investigação proposta pela CPI. O que o caso Marielle tem a ver com a CPI? O que a disputa político-eleitoral entre Bolsonaro e Witzel tem a ver com supostos desvios de recursos federais no Rio para a pandemia? Se Witzel tem um fato gravíssimo contra Bolsonaro, deveria ter dito quando era governador. Ou ido à polícia ou ao Ministério Público. Ao invés de fazer demagogia em uma CPI criada para investigar a gestão do enfrentamento à pandemia. Tudo soou como uma grande palhaçada, desvirtuando os objetivos da CPI e garantindo palanque a Witzel para posar de inocente perseguido, “justiceiro” do caso Marielle e alucinando com acusações que remetem a nada mais que um blefe.

Desculpas esfarrapadas

Lamentavelmente, nada explicou sobre o superfaturamento em sua gestão, os hospitais de campanha não utilizados, e deu desculpas esfarrapadas como “governador não tem obrigação de conferir contratos”. Limitou-se a acusar o Governo Federal de discriminação a governadores no envio de verbas para a pandemia. O Rio teria sido um desses estados. Para fechar com chave de ouro, disse que corre risco de vida, que estaria sendo ameaçado de morte. Diante de tantas acusações a Bolsonaro, se Witzel “amarelar” e não for até o fim em relação à “bomba” que diz ter, não passará de mais um palhaço disposto a “enfeitar” o palanque eleitoral da CPI a adversários do presidente. Até o ex-ministro Sérgio Moro entrou na jogada com uma história um tanto difícil de acreditar. Witzel apelidou Moro de “garoto de recados” de Bolsonaro enquanto ministro. “O chefe falou para você parar de falar que quer ser presidente. Se não parar de falar, infelizmente, a gente não vai poder te atender em nada”, teria dito um subserviente Moro a Witzel.

Mais palanque eleitoral do que isso, com Witzel fazendo marketing eleitoral de si mesmo, e Renan Calheiros ávido para que o ex-governador contasse sobre a “bomba” que teria contra Bolsonaro, não há. O perigo é esse discurso vitimista colar na opinião pública e, daqui a um tempo, o ex-governador encarar um pleito ancorado nessa narrativa. No Brasil, tudo é possível. Há eleitores dispostos a engolir qualquer história.

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