sexta-feira, 17 de maio de 2024
Deltan Dallagnol cancelado na UFPR revela a quantas anda a doutrinação ideológica nas universidades

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Deltan Dallagnol cancelado na UFPR revela a quantas anda a doutrinação ideológica nas universidades

Seria cômico se não fosse trágico. O ex-deputado federal Deltan Dallagnol (NOVO-PR) foi impedido, na sexta-feira (17/11), de dar uma palestra na Universidade Federal do Paraná (UFPR) porque sua participação foi cancelada devido à pressão do movimento estudantil da instituição. O mais irônico é que o tema do painel que o ex-procurador da Lava-Jato iria ministrar era “A liberdade de expressão e o combate à corrupção”. Mas, ao que tudo indica, na UFPR não há espaço para a liberdade de expressão.

Pedido de liminar na Justiça

Dallagnol, indignado, mediante o vereador Rodrigo Marcial, entrou com um pedido de liminar na Justiça do Paraná para que o evento seja imediatamente reestabelecido. “A Faculdade de Direito foi extremamente cordial, extremamente veloz nas respostas até descobrir que o evento seria com o Deltan Dallagnol. Depois disso, demoraram dias para trazer algum retorno ao nosso pedido, mesmo sabendo da proximidade do evento. Apresentaram justificativas conflituosas pelas quais o evento não poderia acontecer. Foi somente no dia anterior ao evento, que deram um parecer definitivo”, afirmou o vereador. Deltan Dallagnol havia sido convidado pela faculdade de Direito para ministrar a palestra, que iria ocorrer no salão nobre da instituição. O Diretório Central dos Estudantes (DCE), no entanto, realizou um ato contra a ida do lava-jatista e, por este motivo, o Setor de Ciências Jurídicas retirou a reserva do auditório e impediu a realização do evento. Em nota, o DCE comemorou o que caracterizou como uma vitória: “Essa é mais uma vitória do movimento estudantil e todo o campo progressista, democrático e popular da nossa instituição”, disse o movimento.

Em nota, a Universidade Federal do Paraná informou que o evento não foi autorizado pelo Setor de Ciências Jurídicas, que não recebeu a confirmação do professor que se responsabilizaria pela palestra. “Este evento foi anunciado, pelos supostos organizadores, sem qualquer autorização ou confirmação, por parte da Direção, de reserva do Salão Nobre ou de outra sala do Setor de Ciências Jurídicas”, disse a instituição.

“Fascismo” e o encerramento do debate

Essa postura da UFPR não surpreende, considerando o notório posicionamento dos alunos e de boa parte dos professores e reitorias da instituição no que se refere a adesão e apoio a apenas “um lado” da narrativa político-ideológica no país. O movimento estudantil tacha o ex-deputado federal de “fascista”. Dallagnol retruca alegando que “fascistas” são eles, do movimento estudantil. Quem seria verdadeiramente fascista? O ex-procurador foi aluno da UFPR, mas, atualmente, é cancelado, impedido de expressar suas ideias nesta mesma instituição.

Pluralidade de ideias e democracia

É triste, lamentável, verificar o quanto as coisas têm piorado no meio estudantil onde não há mais espaço para a tolerância ao divergente, a pluralidade de ideias e o embate político-ideológico. Conforme o próprio ex-deputado constatou: “depois, há quem duvide que exista doutrinação ideológica nas universidades”. Não é novidade para ninguém que o movimento estudantil sempre defendeu o campo progressista. Contudo, quem tanto lutou contra a censura e a falta de liberdade de expressão no passado, hoje, revela-se um dos maiores censores. Definitivamente, o movimento estudantil caducou, tornou-se obsoleto e portador de uma única voz bradada em coros e frases feitas que não passam por uma linha de raciocínio baseada na realidade. É um movimento emburrecedor da juventude, construído para a mera doutrinação ideológica que não agrega inteligência, tampouco, espírito democrático. Se Deltan, a Lava-Jato e toda a direita seriam fascistas como quer o movimento estudantil, que se conceda uma oportunidade ao ex-deputado de ser derrotado no campo das ideias. Que se conceda a palavra a ele e estejam liberadas as vaias, inclusive. Mas que não se retire o direito dele falar. Do contrário é censura, sim. Censura burra e covarde. Quem não conta com capacidade intelectual e moral para debater civilizadamente ideias e opiniões, confrontar fatos e argumentos, só resta calar, censurar. Vergonhoso o que tem acontecido no meio universitário brasileiro. “A UFPR é a faculdade onde estudei e me formei em Direito. Além disso, a universidade é o ambiente por excelência de respeito à pluralidade e diversidade de ideias. Assim, os verdadeiros fascistas são aqueles que tentam calar as vozes de quem é de direita. É absurdo pensar que a universidade tenha barrado e censurado justamente uma palestra em que eu falaria sobre liberdade de expressão”, disse o ex-procurador.

Embotamento da juventude

Justamente a juventude, a que deveria ser mais aberta e permeável à pluralidade de ideias e ao debate sobre o contraditório, tem sido a mais suscetível a influência de uma ditadura do pensamento único. Tem se revelado a mais intolerante e obtusa quando se trata de expandir a mentalidade para cogitar hipóteses antagônicas. É muito preocupante o embotamento mental a que estão sendo submetidos os jovens universitários. Possivelmente, a necessidade de pertencimento e aceitação dentro do grupo tenha impedido a livre expressão de ideias e opiniões entre os próprios estudantes. Quando se chega a esse ponto de autocensura por medo, vergonha e constrangimento, é sinal de que a doutrinação alcançou as camadas mais profundas da mente. Absolutamente, espantoso.

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