A decisão do bilionário Elon Musk de fechar o escritório de representação da rede social X (antigo Twitter), no Brasil, só contribui para jogar mais lenha na fogueira do movimento pró-impeachment do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Pois, o motivo para Musk ter encerrado as operações do escritório, no sábado (17/08), teria sido, segundo o empresário, uma ameaça de prisão, feita por Moraes, a administradora do X no Brasil, Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição, caso a plataforma não cumprisse, em 24 horas, decisão judicial impondo o bloqueio de contas de sete usuários bolsonaristas da rede. O despacho ainda determinou o afastamento dela do X e multa diária de R$20 mil.
“Censura”
Elon Musk publicou nota explicando a decisão de fechar o escritório classificando de “censura” a decisão de Alexandre de Moraes que não foi cumprida pelo X. “A decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas se tivéssemos concordado com as exigências de censura secreta (ilegal) e entrega de informações privadas a Alexandre de Moraes, não haveria como explicar nossas ações sem ficarmos envergonhados”, escreveu Musk em post no X. A nota acrescenta que o ministro teria ameaçado de prisão a funcionária da plataforma X em uma ordem secreta, compartilhada na rede social: um suposto despacho de Moraes que consta no site do STF com o número da petição “12.404”, mas que não pode ser acessado por estar sob sigilo.
Escalada do conflito
A escalada do conflito entre Musk e Moraes deu-se em razão de uma decisão do ministro, no último dia 8, em que determina ao X o bloqueio de sete perfis de bolsonaristas, dentre eles, o do senador Marcos do Val (Podemos -ES). O X não cumpriu a decisão de Moraes e publicou uma nota classificando-a de “censura”. Então, veio a suposta ameaça de prisão da administradora do X no Brasil. Musk alegou que a decisão de fechamento do escritório reflete a preocupação com a segurança de seus funcionários no país. Os quarenta colaboradores do bilionário no Brasil já foram demitidos.
Problema legal
Obviamente, o fechamento do escritório do X no país, ao mesmo tempo em que a rede social continua disponível para o uso em território brasileiro, traz um problema legal. De acordo com a legislação brasileira, toda rede social que queira operar no país deve contar com escritório de representação sediado em território nacional. Alexandre de Moraes, forçosamente, terá de determinar o banimento da plataforma X no país, uma vez que, sem representação no Brasil, a empresa não se encontra mais sujeita às leis brasileiras, abrindo espaço para a atuação impune de uma diversidade de criminosos, a exemplo de redes de pedofilia, de tráfico, de perfis que fazem apologia ao terrorismo, ao nazismo, entre outros.
Revolta da direita
O aumento da tensão entre o bilionário e o ministro joga mais lenha na fogueira do movimento pró-impeachment de Moraes. Gera mais um motivo para a direita revoltosa “pedir a cabeça” do ministro. O X, aliás, tem se transformado num grande reduto da direita e extrema-direita, tanto no Brasil como em outros países onde atua, após a compra do antigo Twitter por Musk.
Interferência nas eleições
Inclusive, não faltam especulações por parte da esquerda e dos moderados de centro que o objetivo de Musk seria interferir na política de determinados países, a partir do X como uma rede social onde a direita e a extrema-direita encontram total liberdade para a exposição de sua ideologia, ideias, opiniões, fatos, além de fake news e teorias da conspiração. A jornalista Daniela Lima, da Globo News, não teve constrangimento ao expor sua opinião a esse respeito. Disse que Musk quer interferir, até, nos rumos das eleições municipais no Brasil ao descumprir decisões de Moraes que pedem o bloqueio de perfis de bolsonaristas.
‘Teoria da conspiração‘
Possivelmente, Daniela Lima tenha caído na tentação de acreditar em uma ‘teoria da conspiração’ criada pela esquerda e haja um grande exagero quanto às verdadeiras aspirações políticas de Musk quanto ao Brasil. A realidade é que o Twitter já anda mal das pernas, financeiramente. Houve notícia de que já perdeu 2/3 de seu valor e que dinheiro da Tesla teria de ser usado para cobrir o rombo do X. A propósito, apesar de Elon Musk assumidamente colocar-se como um militante de direita (ou de extrema-direita), é bastante questionável até que ponto vai essa militância. Quando se trata da China, uma ditadura comunista onde o X é proibido, o empresário não fala nada. Afinal, a fábrica da Tesla – empresa de sua propriedade que fabrica carros elétricos – atua na China. Talvez, a militância do bilionário vá até onde ele possa lucrar com suas empresas e projetos. Um empreendedor idealista, sim, mas, possivelmente, até a página dois.