terça-feira, 14 de maio de 2024
Cerco se fecha a Carla Zambelli e “caso de polícia” pode comprometer Bolsonaro

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Cerco se fecha a Carla Zambelli e “caso de polícia” pode comprometer Bolsonaro

A prisão do hacker da “Vaza-Jato”, Walter Delgatti Neto, conhecido como o “hacker de Araraquara”, em operação da Polícia Federal, fecha o cerco à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). E possivelmente ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A deputada bolsonarista estaria sendo perseguida injustamente ou realmente teria cometido crimes que justificariam sua cassação?

“Herói da Vaza-Jato”

Não é inverossímil supor que o hacker tenha mentido em depoimento à PF quando disse que Zambelli o teria contratado para invadir o sistema das urnas eletrônicas. Afinal, daria para confiar no depoimento de um criminoso que não somente invadiu o sigilo telefônico de mais de mil autoridades no país, mas, também, conta com uma ficha criminal que inclui estelionato e tráfico de drogas? O “hacker de Araraquara”, além de tudo, virou uma espécie de herói da esquerda em 2019, quando invadiu conversas no Telegram de procuradores da Lava-Jato. Conversas entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, inclusive, que vieram a público por meio de publicações do jornal de esquerda The Intercept. O reboliço todo causado pela apelidada “Operação Vaza-Jato” trouxe novos elementos que embasaram a anulação de diversos julgamentos da Operação Lava-Jato. E foi responsável pelo abalo, senão, destruição, da reputação da referida Operação.

Moro X Zambelli

Quer dizer, Delgatti, o notório hacker que trabalhou em favor da esquerda, teria ganhado a confiança da bolsonarista Zambelli? Ao que tudo indica, foi isso, mesmo. O que faz sentido quando lembramos das desavenças e trocas de acusações entre Moro e Zambelli por ocasião da saída do então ministro da Justiça de Bolsonaro, em abril de 2020. A parlamentar deve ter guardado mágoa imensa de Sérgio Moro ao ponto de unir-se a seu inimigo…

Incoerências

Mas, o que ainda não está fazendo sentido, são as explicações da deputada. Zambelli nega ter pago R$13.500 para o hacker invadir o sistema de urnas eletrônicas. O valor realmente seria muito baixo para um serviço extremamente complexo. É realmente duvidoso. Disse que teria contratado o hacker para somente executar serviços em seu site, linkando-o com suas redes sociais. Ora, mas, seria necessário um hacker para realizar algo tão simples que qualquer técnico em informática o faria? A parlamentar referiu-se a pagamentos de cerca de R$3 mil, mas, também disse que o ajudou financeiramente com viagem a Brasília. Enfim, tanta vontade de ajudar um criminoso sem nenhuma intenção, também, criminosa, soa estranho, não?

Auditoria nas urnas eletrônicas

O hacker, segundo Zambelli, a teria procurado oferecendo serviços ao PL de auditoria nas urnas eletrônicas, nas últimas eleições presidenciais. Zambelli disse que o levou a encontro com o presidente da sigla Valdemar da Costa Neto mas, como não sabia qual seria o espectro ideológico do hacker, teria aconselhado o cacique do partido a não contratá-lo. A pedido de Delgatti, a bolsonarista ainda contou que o levou para um breve encontro com o então presidente Bolsonaro, pois, o hacker disse que teria muitas informações sobre tecnologia das urnas eletrônicas a passar ao presidente. Bolsonaro, de acordo com Zambelli, teria se limitado a perguntá-lo se as urnas eletrônicas seriam seguras ou passíveis de serem fraudadas. Ao que o hacker teria lhe respondido que nenhum sistema seria absolutamente seguro e inviolável.

Espectro ideológico

É estranho, muito estranho, Zambelli ter dito em coletiva de imprensa que não sabia do espectro ideológico do hacker. Delgatti havia trabalhado para a esquerda, tendo ganhado notoriedade na imprensa com a Vaza-Jato, e, mesmo, assim, ela não sabia de que lado ele estaria? As justificativas da deputada não têm sido nada coerentes.

Falso mandado de prisão

Delgatti, por sua vez, acrescentou em depoimento que o pedido de Zambelli, também, teria incluído hackear o email e telefone celular do ministro Alexandre de Moraes, caso não fosse possível hackear as urnas eletrônicas. Bem como invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça para expedir mandado de prisão contra Moraes, o que teria ocorrido entre os últimos dias 4 e 6 de janeiro. Realmente, neste período, correu um boato nos acampamentos em frente aos quartéis sobre a “prisão de Moraes”. Uma fake news que fez muito sucesso entre bolsonaristas acampados, como pôde ser verificado em vídeos que circularam na internet onde militantes foram vistos comemorando a falsa notícia. Isso faz total sentido… Onze alvarás de soltura também teriam sido expedidos irregularmente pelo CNJ, segundo o hacker, devido a invasão que teria promovido ao sistema.

Cassação de Zambelli

É lógico supor que a Polícia Federal não deve estar somente embasando-se nos depoimentos do hacker. Deve estar trabalhando com provas e indícios. Se as acusações de Delgatti se confirmarem, Zambelli, seguramente, estará em uma situação muito difícil. Já se especula um pedido de cassação de seu mandato, bem como se comenta que o próprio PL não a querer mais em seus quadros. Antes “fritar” Zambelli a deixar que a deputada termine por prejudicar ainda mais o ex-presidente.

Afastamento de Bolsonaro

Aliás, Bolsonaro teria se afastado da deputada desde o lamentável episódio que protagonizou às vésperas das eleições de 2022, quando correu nas ruas de São Paulo, com arma em punho, atrás de um petista que a teria ofendido. O ex-presidente e seus apoiadores acreditam que a cena grotesca com a tresloucada parlamentar teria contribuído significativamente para sua derrota eleitoral. O que é bastante plausível, uma vez que a cena aconteceu um dia antes das eleições e só fez por dar mais um argumento a esquerda contra a posse de armas, uma das bandeiras mais caras ao bolsonarismo.

Enfim, por mais que se trate do depoimento de um criminoso “de carteirinha”, como se revela Delgatti, torna-se impossível defender Zambelli e dar credibilidade a sua defesa, até o momento. A deputada, se fosse minimamente inteligente, jamais teria confiado quaisquer serviços, lícitos ou não, a um hacker que virou o “herói da Vaza-Jato”, por este caso ter sido decisivo para a volta da esquerda ao poder.

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