Centrão sinaliza que pode mudar de rumo
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Centrão sinaliza que pode mudar de rumo

“Antes tarde do que nunca”.Essa foi a sensação que se teve após o discurso do novo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, quando enfatizou a necessidade de seguirmos a ciência no combate a pandemia. ”Agora, seremos uma pátria de máscaras”. Também, defendeu a vacinação acelerada, prometendo vacinar três vezes mais, chegando a 1 milhão de vacinados por dia.

A troca de ministro veio tarde, quando o país beirava os 300 mil mortos por Covid-19, e a situação vinha se tornando insustentável para o governo prosseguir com Pazuello no comando da pasta. Houve uma pressão crescente do Centrão – base aliada de deputados que apoiam o governo – e que tentou emplacar o nome da cardiologista Ludhmila Hajjar, sem sucesso.

Queiroga foi a opção do governo, um nome indicado pelo Senador Flávio Bolsonaro. Sendo pessoa de confiança da família Bolsonaro, o novo ministro provavelmente terá de exercer a função de “malabarista”, como bem definiu o jornalista Felipe Moura Brasil, na Rádio Band News. Afinal, tem o compromisso de combater a pandemia com base na ciência ao mesmo tempo em que não pode bater de frente com o discurso pró-economia do presidente da República.

Bolsonaro, por sua vez, falou em cadeia nacional com um novo discurso. Surpreendentemente, passou a defender a vacinação em massa e a negar que alguma vez tenha sido contra as vacinas. Porém, no dia seguinte, demonstrou que mantém certas defesas controversas: o “kit Covid-19“ para tratamento precoce, por exemplo, indo na contramão do que a maioria dos médicos da linha de frente, inclusive, chefes de UTIs, dizem a respeito da ineficácia de medicamentos como, Hidroxicloroquina e Invermectina no tratamento precoce da doença.

A conferir, então, quais serão as próximas medidas do Ministério da Saúde, se haverá uma mudança de rota no enfrentamento a pandemia. A apresentação de um cronograma detalhado para atingir a meta prometida de vacinar 1 milhão de pessoas por dia deve ser o primeiro passo.

REMÉDIOS AMARGOS

Enquanto aguarda-se as primeiras ações do novo ministro da Saúde, já há uma grande certeza: quem sinaliza que pode mudar de rota é o Centrão. O discurso recente do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) foi contundente. Lira não deixou dúvidas, ameaçou, sutilmente, aplicar remédios constitucionais “amargos“ caso o Governo Federal não demonstre capacidade de uma política razoável e sensata no enfrentamento da pandemia.

Quando se referiu a remédios constitucionais amargos, possivelmente, tenha se referido a uma CPI da Covid, para investigar a condução do ministro Pazuello no MS. Ainda falou de um remédio constitucional “fatal”. Para bom entendedor, meia palavra basta: referiu-se a abertura de um processo de impeachment. O presidente da Câmara ainda acrescentou que o Congresso Nacional não estará mais disposto a continuar votando pautas do dia-a-dia, como se estivéssemos em tempos normais, se, lá fora, continuarem morrendo, no país, 2 mil, 3 mil pessoas por dia de Covid. Ou seja, mais uma maneira elegante de dizer que a base de apoio ao governo pode ruir se não houver esforços claros e assertivos no controle da pandemia.

SEM RUMO

Bolsonaristas não têm levado a sério a ameaça de Lira, endossada por discurso semelhante do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Alegam que o Centrão apenas está querendo mais cargos e dinheiro. Todavia, agora já não se trata de cargos e dinheiro, mas, sim, de que não interessa a ninguém, em sã consciência, continuar apoiando um governo que não encontrou o rumo no enfrentamento da pandemia, mesmo após um ano.

Que deputado vai encontrar vantagem em estar ao lado de Bolsonaro quando este não representa uma liderança nacional firme e segura no combate a pandemia? Parlamentares devem satisfação a seus eleitores e o Congresso Nacional não quer ter sua imagem manchada, por mais um motivo, ao assumir um papel de omissão diante da falta de uma liderança nacional. A questão é simples: onde há vácuo de poder, de liderança, este vácuo automaticamente passa a ser preenchido. Tanto que foi criado um comitê de enfrentamento da pandemia, com a participação do Governo Federal, parlamentares e governadores.

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