sábado, 11 de maio de 2024
Brasil deveria aprender com experiências da Europa e cancelar o Carnaval 2022

João Aloysio Correa Ramos

Diretor dos jornais do Grupo Paraná Comunicação: A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias

Brasil deveria aprender com experiências da Europa e cancelar o Carnaval 2022

Festas de final de ano chegando e, depois, o Carnaval 2022. Muitas cidades já se preparam para o Carnaval, a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro. Em contrapartida, outros municípios menores, a exemplo de 45 deles no estado de São Paulo, anunciam o cancelamento da folia de Momo em razão da pandemia, que ainda não acabou.

Ao contrário, a pandemia recrudesce na Europa, com diversos países voltando às restrições, adotando novamente protocolos sanitários que haviam sido abandonados, a exemplo de lockdown para não vacinados, uso de máscaras e outras medidas. A situação da Alemanha é das mais graves. O país já atinge 100 mil mortos e 5 milhões de infectados. Áustria, Holanda, países do leste europeu, não estão com a pandemia controlada, também. E até Portugal, que estava bem, meses atrás, voltou a apresentar crescimento no número de casos e a fazer lockdown. O Reino Unido, que teve uma adesão maior a vacinação, cerca de 80% da população, apesar de não estar em situação tão preocupante, volta a apresentar crescimento discreto no número de casos.

Quarta onda na Europa

A OMS fala em quarta onda de Covid-19 na Europa. E criticou a realização do Carnaval no Brasil. Quem, também, está fazendo um alerta importante sobre o risco de descontrole da pandemia no Brasil com o Carnaval é o médico sanitarista fundador da Anvisa, Gonzales Vecina Neto, que tem dado entrevistas a imprensa dizendo que ainda não é o momento de fazer Carnaval, em 2022. E ele recomenda evitar grandes festas no Ano Novo, também.

Realmente, o que mais preocupa em relação ao Carnaval é a chegada de estrangeiros não vacinados, europeus e norte-americanos, principalmente.

Pandemia de não-vacinado

Em alguns países da Europa, como Alemanha, há um percentual significativo, cerca de 30 a 40% da população, que não está vacinada. Unicamente, porque não querem receber a imunização contra a Covid-19. O risco de estrangeiros infectados trazerem o vírus para cá no Carnaval não pode ser negligenciado. Estamos com 60% da população brasileira imunizada com duas doses. Mas, duas doses podem não ser suficientes com o passar dos meses. Como sabemos, toda população acima de dezoito anos terá de tomar uma terceira dose de reforço após cinco meses da segunda dose. Ou seja, até o Carnaval, grande parte da população ainda não estará imunizada com a terceira dose. E se estrangeiros trouxerem para cá uma nova variante?

Variante Delta Plus

Especula-se que a variante que pode estar causando a quarta onda na Europa seja a variante Delta Plus. É de conhecimento da ciência que quanto mais o vírus infecta as pessoas, vacinadas ou não, mais ele sofre mutações, havendo o sério risco de surgir uma variante que não alcance cobertura vacinal. Então, onde está a preocupação de tantos prefeitos com a saúde pública que anunciam o Carnaval em 2022?

Arrecadação e lucros com Carnaval

Rio e São Paulo, evidentemente, não querem perder dinheiro com o cancelamento do Carnaval. Há forte pressão de todos os setores envolvidos para realizar o Carnaval, a exemplo do turismo, das escolas de samba, dos patrocinadores, das emissoras de TV. A arrecadação dos municípios agradece quando chegam as festividades carnavalescas. Mas, creio que não vale a pena o risco. Arrecadar muito no Carnaval para, depois, ter de fechar comércio de novo a partir de março valerá a pena?

Bolsonaro contra o Carnaval

Surpreendentemente, o presidente Bolsonaro disse, em entrevista a uma rádio da Bahia, que não concorda com a realização do Carnaval em 2022. E admitiu que a Europa entra na quarta onda e que a pandemia voltou a recrudescer em diversos países. Bolsonaro ainda foi além ao alertar que, se houver Carnaval e a pandemia voltar ao descontrole no país, novos fechamentos de comércio farão a economia quebrar de vez. E ainda lembrou que não pode tomar decisões a respeito do Carnaval nos municípios, pois, o STF decidiu pela autonomia de cada prefeito no tocante a medidas de enfrentamento a pandemia. Inclusive, governadores e prefeitos não deram a mínima para o início da pandemia na China, que já atingia a Itália em fevereiro, e tocaram pra frente os carnavais nos municípios. Com muitos italianos, brasileiros e estrangeiros, em geral, transitando pra lá e pra cá, entre Itália e Brasil. Deu no que vimos. Prefeitos e governadores só tomaram uma atitude quando o quadro já estava grave, após bem arrecadarem com o Carnaval. Já vimos esse filme, antes. Será que querem repeti-lo? Será que o Brasil não aprende nada com as experiências prévias na Europa em todas as ondas?

Outra pergunta interessante é o posicionamento da Rede Globo sobre o Carnaval. A campanha “fique em casa no Carnaval” creio que jamais será vista. Escolas e universidades, toda a educação no país, sofreu um duro revés, um retrocesso com a pandemia, mas, o Carnaval não pode sofrer retrocesso, não pode perder seus lucros bilionários? É lamentável a inversão de prioridades no país. Há universidades que não voltaram às aulas presenciais em alguns estados, mas tem quem queira Carnaval, onde o ambiente é totalmente descontrolado, como disse o médico Vecina, ao explicar que ambientes sem controle de entrada de vacinados e não-vacinados oferecem muito mais risco.

Ironia

Enfim, não deixa de ser uma grande ironia, a essa altura da pandemia, ver Bolsonaro mais “preocupado“ com as infecções por Covid-19 (e até concordando com a OMS) do que tantos prefeitos e governadores. Todos estão fazendo política, na verdade, e mais interessados em lucros e arrecadação do que com a saúde da população. Mas, não deixa de ser algo inusitado verificar a inversão de posicionamento do presidente versus governadores e prefeitos.

Desafio futuro

A única certeza é a de que, muito provavelmente, a pandemia a nível mundial ainda vai durar mais tempo do que se pensava e que, talvez, a imunização pura e simplesmente não traga soluções a contento. Ao menos, tão rapidamente quanto se esperava. Uma terceira dose já está sendo necessária, possivelmente, apontando para uma diminuição da eficácia das vacinas com o passar dos meses. Bolsonaro “cantou essa bola” quando insinuou que as vacinas só tenham prazo de validade de seis meses, na referida entrevista a rádio da Bahia. Com isso, não quero dizer que a vacinação deve ser descartada. Todos devem se vacinar, não há dúvidas. Sem as vacinas, estaríamos muito piores. O caos não teria fim. Contudo, a necessidade de uma terceira dose de reforço para todos acima de dezoito anos aponta para uma perda de eficácia com o passar dos meses. Do contrário, não seria necessária. A vacina contra a gripe é aplicada uma vez ao ano. Já a da Covid-19, com a necessidade de, no mínimo, três doses em menos de um ano, demonstra que combater este vírus é um desafio ainda não superado, mesmo com as melhores e mais modernas vacinas presentes no mercado.

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