A grande expectativa após o primeiro debate do segundo turno na Band, realizado no domingo (16/10), é em torno dos reflexos que possa ter causado nas intenções de voto do eleitorado. Uma pista, talvez, desses reflexos foi apontada pela última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira (19/10). O levantamento, realizado entre segunda -feira e quarta-feira, aponta uma ligeira oscilação favorável a Jair Bolsonaro. Ambos aparecem no limite do empate técnico, segundo avaliação do instituto. Lula teria 52% dos votos válidos e Bolsonaro 48%, para uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Votos brancos e nulos somam 4% e 1% de indecisos. Um detalhe importante é que 2% disseram ter mudado de voto após o debate na Band.
Muito possivelmente, houve mudança de opção de voto após o debate, conforme o levantamento aponta. E a tendência é que estes votos tenham migrado para Bolsonaro, daí a ligeira oscilação positiva para o presidente. Essa hipótese se dá justamente pelo bom desempenho do candidato à reeleição durante o debate. A propósito, a TV Band merece elogios pela condução de um debate de muito profissionalismo, imparcialidade, isenção, uma postura bem diferente de uma certa emissora muito conhecida. A Band deu exemplo de bom jornalismo, de ética, realizando um debate em que houve tempo e oportunidade para os candidatos desenvolverem suas ideias, argumentarem e contra-argumentarem. Sem baixarias e tumultos, em suma, permitindo ao público avaliar o conteúdo debatido e as capacidades de ambos. Acredito que deverá se revelar um debate histórico, memorável, a não ser que outro melhor aconteça até o final da campanha.
Nervosismo de Lula
Em relação ao desempenho dos dois adversários, o notório, de imediato, foi o nervosismo de Lula frente a presença calma e autoconfiante de Bolsonaro. O presidente demonstrou surpreendente inteligência emocional, tranquilidade, segurança, mesmo quando atacado, a exemplo da questão da pandemia e das vacinas. Em alguns momentos, exibiu fina ironia, mas, tudo com elegância, sem desferir impropérios e grosserias. Lula, por sua vez, exibia nervosismo e ansiedade constantes, perceptíveis em sua tensa expressão facial, quase engessada, e no esfregar de mãos a todo tempo. Não se via o carisma e a descontração costumeiros do petista, tão cativantes a seu eleitorado.
Talvez, o forte de Lula não seja os debates… Vide o histórico debate com Collor, na Globo, em 1989, onde o “caçador de marajás” deu um banho de retórica e argumentação. A despeito de todo favoritismo que a emissora atribuia a Collor, é inegável que havia nele, também, uma notável capacidade de oratória e argumentação.
“Catucadas” de Bolsonaro
O presidente não chegou a dar uma surra em Lula o debate inteiro, mas, foi dando “catucadas” até cansar o adversário. No terceiro bloco, o domínio de Bolsonaro foi muito perceptível. O presidente da República dominou a cena com questionamentos sobre corrupção, sobre a Petrobrás. Pisou no calcanhar de Aquiles do petista… Embaraçado, Lula não conseguiu afirmar que não houve corrupção, destacando que em seu governo houve total liberdade para investigar e que a Lava Jato não precisava ter causado desemprego.
Ficou mal para Lula, também, não ter conseguido esclarecer por que, em seu governo, manteve dirigentes corruptos na Petrobrás. Também, não respondeu quem pretende nomear para ministro da Economia. Por que tanto mistério quanto ao ministro de uma pasta tão importante?
Pauta da Lava Jato
É bem provável que Bolsonaro tenha sido orientado por Moro, presente ao debate, no que se refere a perguntas sobre corrupção. E Bolsonaro seguiu o script muito bem, apresentando informações com firmeza, objetividade e segurança, a exemplo da compra de refinarias sucateadas como a de Pasadena. O debate traz um indicativo de que a dobradinha com Moro deve reerguer a pauta anticorrupção durante a campanha, tendo em vista cativar o eleitor perdido de Bolsonaro, as “ovelhas desgarradas”, que deixaram de apoiar o presidente por não verem essa pauta avançar conforme o esperado durante o governo.
“Picanha e cerveja”
Não caiu bem a Lula, ainda, mencionar com seriedade o papo de “picanha e cerveja”, durante as considerações finais. Talvez, esteja enganado, mas, soou algo um tanto cômico, abordado sem a devida seriedade, gerando uma conotação anedótica ao petista. “Ele fica louco quando falo em picanha e cerveja”, disse Lula com leveza e humor. Porém, terminou convidando o eleitor a participar dessa patuscada de desejar picanha e cerveja. Enfim, no fundo, parecia tentar levar a sério a proposta, perdendo espaço para pontuar suas considerações finais com algo bem mais contundente de seu plano de governo. No final das contas, ficou parecendo que nem o próprio Lula se leva a sério, limitando-se a slogans e frases feitas antigas e humorísticas que, muito provavelmente, não convencem mais depois de tantos anos e tantos fatos passados. É provável que o discurso de Lula tenha se tornado obsoleto, ultrapassado, em 2022. Num mundo pós -pandemia, em ameaça de Terceira Guerra Mundial, um mundo bem mais desafiador. Mas, isso são especulações. As urnas, em 30 de outubro, darão a resposta.