A manifestação popular em apoio ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, na Avenida Paulista, no dia 25, domingo, demonstrou, sem surpresas a atentos observadores da cena política, a força do bolsonarismo e da direita brasileira. Até o presidente Lula, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, reconheceu que “foi grande. Não podemos negar os fatos”.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foram cerca de 650 mil manifestantes. Para a PM de São Paulo, 750 mil. Já a USP, a partir de cálculo realizado por meio de um software, pasmem, divulgou que o número de populares teria sido em torno de somente 185 mil. Bolsonaristas entusiasmados calculam que teriam sido em torno de 1 milhão de pessoas ou mais, pois havia manifestantes nas pequenas vias transversais a Avenida Paulista, também. Isso sem considerarmos que houve bastante flutuação de pessoas conforme o horário do dia. O ato começou pela manhã e estendeu-se pela tarde. Nem todos ficaram do início ao fim, debaixo de um sol quente. Então, possivelmente, passou muito mais gente por lá que os números oficiais.
Bolsonarismo resiste
Discussões matemáticas a parte, o óbvio é inegável. Havia muita gente. Quem pensava que o bolsonarismo estaria morrendo, enganou-se. Bolsonaro obteve algum ganho com o sucesso do ato em seu apoio? Juridicamente, não. Em nada deverá afetar positivamente esse apoio popular, que deverá demonstrar ao mundo por meio de imagens do ato na Paulista. Mas no campo político, é evidente que sua força ainda persiste, mesmo inelegível. O ex-presidente deverá continuar sendo o principal cabo eleitoral de muitos candidatos nestas eleições municipais e em 2026. Na atualidade, no país, não há outro político que consiga reunir tanta gente nas ruas. Tanto que, alguns possíveis pré-candidatos à presidência da República em 2026, estavam lá, na Paulista, visando conquistar o eleitorado: os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO). O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, emedebista, também, foi, juntamente com Silas Malafaia e dezenas de parlamentares.
“Arrego” e “borracha”
Bolsonaro, em tom de pacificação, pediu “arrego” em seu discurso. Disse que gostaria de passar uma borracha no passado e pediu anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. Do ponto de vista jurídico, corre o risco de ser prejudicado no inquérito da Polícia Federal por uma fala em que menciona a “minuta do golpe”.
Minuta
Ao discursar, falou que a “minuta do golpe” tratava, na verdade, de um decreto de Estado de Defesa. Ou de Estado de Sítio, conforme confundiu os dois expedientes previstos na Constituição Federal. Seu argumento era deixar claro que não se tratava de algo fora “das quatro linhas da Constituição Federal” e que não chegou a executar nenhum procedimento preparatório previsto na Carta Magna para implementar essa prerrogativa constitucional concedida ao presidente da República. Ao defender-se, visando convencer a plateia de que não houve nenhuma intenção de, sequer, decretar Estado de Defesa ou de Sítio, pode terminar por se complicar ainda mais no inquérito. A PF tem dito que deverá usar essa fala dele no inquérito como uma confissão, um “ato falho”, de que ele saberia da existência da “minuta do golpe” e que estaria envolvido com isso. Porém, os advogados de defesa do ex-presidente alegam que houve má interpretação da Polícia Federal sobre a “linha de tempo” referida no discurso. Bolsonaro teria tomado conhecimento da minuta, apenas, após terminar o mandato. Ou seja, ao discursar na Paulista, estaria analisando, em retrospecto e hipoteticamente, sobre uma minuta cuja existência teria chegado a seu conhecimento muito depois de quando redigida, já em 2023. De fato, a Polícia Federal não tem nada de concreto para afirmar, a partir desse discurso, que Bolsonaro sabia da existência da minuta durante o exercício de seu mandato somente porque tentou explicar na Paulista que a minuta não tratava de golpe, mas de Estado de Defesa cujos atos preparatórios sequer teriam sido iniciados.
Pautas implícitas
Da parte de Lula, o presidente da República acertou ao não subestimar a força da oposição, da direita, do bolsonarismo. Contudo, foi, no mínimo, controverso, polêmico, ao dizer que teria sido uma manifestação em favor do golpe. Para Lula, quem participou, apoiaria um golpe de Estado perpetrado por Bolsonaro. Muito embora, não houvesse faixas e cartazes contra ou a favor de nada ou ninguém, a pedido de Bolsonaro, a fim de não complicá-lo, ainda mais, com o “Xandão“, não é difícil supor que havia de tudo um pouco entre os manifestantes. Mas, não dá para generalizar e afirmar que todos os presentes, ou a maioria, apoiariam medidas radicais como, golpe de Estado, intervenção militar, fechamento do STF e outras pautas já defendidas por uma minoria em atos pró-Bolsonaro.
Anti-petismo, pró-Israel
Aos apoiadores de Bolsonaro, juntaram-se pessoas que não estavam lá somente por “culto a personalidade” do ex-presidente, como a esquerda costuma classificar. É claro que há aqueles que idolatram o ex-presidente. Assim como idólatras de Lula ainda são encontrados. Mas a essência do que mobilizou tanta gente no domingo foi a defesa dos ideais de direita, bem como expressar indignação com tantos acontecimentos recentes da vida nacional, em especial, protagonizados pelo STF. O anti-petismo e protestos contra o governo Lula, também, devem ter mobilizado muita gente, que se expressou de forma indireta, a partir de inúmeras bandeiras de Israel, em uma referência a fala do presidente Lula sobre a guerra em Gaza e comparações ao genocídio nazista. Aliás, Lula defendeu-se dizendo que não citou a palavra “holocausto”. Netanyahu é quem teria colocado essa palavra na boca dele. Mas não nega que falou em genocídio nazista. O que dá na mesma. Trata-se de sinônimos.
Manifestantes “golpistas”
E ao tachar todos que foram a Paulista de “golpistas”, Lula perde uma oportunidade de buscar a pacificação do país acirrando ainda mais a polarização. Mas, parece que, tanto Lula quanto Bolsonaro, não estão nem um pouco interessados em enfraquecer a polarização. Pelo contrário. Afinal, ambos, ao que tudo indica, estão, ainda, capitalizando politicamente com isso. Resta saber até quando sairão “no lucro”. Bolsonaro já está inelegível e pedindo anistia. E Lula tem de lidar com um requerimento de impeachment endossado por 140 parlamentares.