Com o avanço da vacinação anti-Covid-19 por todo o país, e uma ligeira queda no número de óbitos e na taxa de contágio, o clima geral é de que a pandemia praticamente já acabou. Aglomerações em bares, festas, baladas e shows continuam, com mais força do que antes, em diversas localidades do país. Mas, conforme a imprensa vem alertando diariamente, é preciso manter todas as medidas sanitárias, a exemplo do uso de máscaras, do distanciamento social, do uso de álcool em gel, mesmo entre vacinados com duas doses. Isso porque vacinados também transmitem o vírus e, quanto mais o vírus circular, maior a probabilidade de surgirem novas variantes. O grande risco é o surgimento de uma cepa viral para a qual não haja cobertura vacinal. Ou seja, uma variante contra a qual as vacinas disponíveis não consigam garantir a imunidade.
Aliás, a variante Delta é bastante preocupante no sentido de ser mais infecciosa, de maior transmissibilidade, e, ainda, pelo fato das vacinas disponíveis apresentarem mais dificuldade de garantir a imunidade contra ela. Com a variante Delta, todo cuidado é pouco. Estudos têm demonstrado que a proteção com apenas uma dose de qualquer vacina disponível é insuficiente, o percentual de imunidade tende a cair. Já é consenso que para garantir uma imunidade maior contra a variante Delta são necessárias duas doses, ao menos. Para idosos e imunossuprimidos, a aplicação de uma terceira dose já é dada como certa.
Recusa em ser vacinado
Além de todos os desafios proporcionados pelas características próprias do comportamento do Sars-CoV2 e suas sucessivas variantes, outro desafio tem sido persuadir determinadas pessoas a se vacinarem. Municípios têm verificado que há um percentual importante de pessoas que não estão comparecendo para tomar a segunda dose da vacina quando convocadas. Seja por medo de possíveis efeitos colaterais da vacina, ou por não acreditarem na eficácia dos imunizantes.
Teorias da conspiração e fake news
Há ainda um grupo populacional que gera maior preocupação: os crédulos em fake news e teorias da conspiração. Não é difícil encontrar, entre pessoas de nosso convívio, amigos, colegas, parentes, pelo menos, um deles, que se recusa a tomar o imunizante por acreditar em teorias conspiratórias absurdas, a exemplo da crença descabida de que vacinas seriam um veículo para o implante de um chip no organismo humano. Tal chip seria uma forma de governantes e poderosos “ocultos” controlarem o comportamento da população. Alguns deliram de forma mais ousada: o chip seria a própria “Besta do Apocalipse” e conteria o número 666.
Há a turma dos que acreditam que os imunizantes contra a Covid-19, na verdade, não teriam sido desenvolvidos para salvar vidas, mas, para matar a população e causar esterilidade. A redução da população mundial em 2/3 seria a meta do chamado “governo oculto”.
Vírus e suas mutações
Outra teoria sem pé nem cabeça muito disseminada na internet é a de que a causa do surgimento das variantes do Sars-CoV2 seria a própria imunização da população com as vacinas. Realmente, a imaginação humana vai longe… Mas, ao menos, se estivesse amparada em um pouquinho de lógica científica, vá lá… Mas, nem isso. Ora, é inerente a qualquer vírus sofrer mutações genéticas que dão surgimento a sucessivas cepas, à medida em que se dissemina por entre a população. Vírus mutam constantemente, essa é a natureza de todos os vírus, conforme infectam cada vez mais as pessoas, um de seus hospedeiros naturais. As mutações são a forma que encontram de sobreviverem, de não serem extintos, afinal, eles buscam uma forma de continuarem infectando organismos vivos a partir do desenvolvimento de estratégias para enganar os sistemas imunológicos. Em suma, vírus evoluem seu material genético para que possam sobreviver às constantes batalhas que enfrentam ao entrarem em contato com os sistemas imunológicos dos organismos vivos que infectam.
Fake news matam
Lamentavelmente, chegamos a um ponto em que fake news estão matando pessoas. Quando se trata de fake news sobre saúde pública em meio a uma grave pandemia, é preciso combater essa desinformação com o máximo vigor. Campanhas de esclarecimento na mídia costumam ajudar, mas não alcançam plenamente seu objetivo quando os adeptos das fake news se recusam a acreditar no que diz a imprensa. É importante que, cada um de nós, ao tomar conhecimento de que um amigo, colega ou parente está amparando-se em fake news e teorias da conspiração, tente esclarecê-lo. Que, ao menos, tente. Sabemos que é extremamente difícil conversar com fanáticos, pessoas equivocadas em suas crenças. Mas, sempre há aqueles que podem ser “salvos” desse “mundo paralelo” em que vivem. Há aqueles que caíram nessa narrativa fantasiosa porque não detêm conhecimento e entendimento corretos sobre questões complexas de teor científico. Falta entendimento a essas pessoas. Um pouco de paciência ao explicarmos a elas, de forma gentil e respeitosa, pode fazer a diferença. Uma diferença que poderá salvar não somente a vida desse cidadão, mas a de outras pessoas que ele possa vir a infectar.
E sempre lembrando que vacinas não são 100% eficazes, portanto, haverá um pequeno percentual de vacinados com duas doses cujos sistemas imunológicos não responderão bem ao imunizante. Por isso, a manutenção das medidas sanitárias é tão fundamental. O uso de máscaras impede ou diminui a transmissão do vírus, inclusive, a transmissão entre vacinados tem de ser contida. É preciso barrar ao máximo a transmissão do vírus de pessoa para pessoa, até que ocorra uma diminuição significativa da taxa de contágio. A partir daí, poderemos respirar aliviados porque a pandemia estará realmente controlada.