Uso racional da energia: conceito, efeitos econômicos e sociais

Uso racional da energia: conceito, efeitos econômicos e sociais

A humanidade, em toda a sua história, tem, ano após ano, aumentado a sua necessidade por energia, bem como a forma em que esta energia é utilizada. Nos últimos 50 anos, o consumo mundial de energia mais que duplicou e, para isto, a sociedade precisou aumentar primeiramente a extração da energia química acumulada no petróleo, carvão, gás natural e outras fontes de energia não renováveis.

Na década de 70, os países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) impuseram aos Estados Unidos um embargo para exportação de petróleo destes países, que originou a chamada “Crise do Petróleo”.

Este embargo, por sua vez, proporcionou um grande impulso de investimentos em novas tecnologias, principalmente as chamadas energias renováveis, incluindo a energia fotovoltaica.

Nesta época, a energia nuclear crescia rapidamente, até o momento que aconteceu o acidente nuclear de Chernobyl, em 26 de abril de 1986. Este acontecimento acabou por desestimular os governos democráticos a continuar a aumentar o uso da energia nuclear, devido à rejeição e medo popular.

Hoje, com apenas 10% da energia mundial advindo de fontes renováveis e o consumo de petróleo e carvão chegando a níveis jamais alcançados no mundo, um apelo para que a sociedade faça o uso racional da energia se faz urgente e precisa ser popularizado.

Quando falamos em uso racional da energia utilizamos dois conceitos. O primeiro é o conceito da economia de energia pelo não uso, e o segundo é o conceito da eficiência energética.

O conceito da economia de energia está vinculado a processos internos nas empresas e nas residências como, por exemplo, apagar as luzes em ambientes que não estão sendo utilizados ou desligar uma câmara fria que está sem uso, ou seja, reduzir ou racionar o uso dos equipamentos, tanto residenciais, como industriais.

Por outro lado, o conceito de Eficiência Energética, ou geração virtual de energia, é baseado na energia que não é utilizada quando se faz uso de equipamentos. Neste caso, conseguimos realizar o mesmo trabalho com menos energia utilizada e, neste caso, chamamos de Eficiência Energética.

O conceito da Eficiência Energética, apesar de simples, possui aplicações das mais diversas áreas, seja na nossa residência ou em um foguete espacial enviado ao espaço pela SpaceX.

Primeiramente, podemos definir o conceito com palavras simples. Eficiência Energética é o resultado da realização do mesmo trabalho com um consumo de energia menor. Realizar este trabalho com menos energia pode ser facilmente entendido com o exemplo de um equipamento que foi projetado para uma determinada função ser substituído por outro, que realiza a mesma tarefa, todavia, com um consumo energético menor.

A Eficiência Energética tem um interesse especial quando falamos da energia elétrica, pois permeia a sociedade como um todo e aumenta a cada dia o seu protagonismo, devendo ser parte ativa das políticas públicas nacionais. Como exemplo básico, temos a substituição de lâmpadas incandescentes ou fluorescentes compactas por lâmpadas LED.

No caso da lâmpada incandescente, o seu funcionamento acontece pela passagem de corrente elétrica em um filamento de tungstênio que acaba por aquecê-lo e este aquecimento gera luz no espectro visível e não visível. O problema da lâmpada incandescente é que grande parte da luz gerada, e que está fora da percepção do olho humano, é dissipada em forma de calor, que não serve para o objetivo da iluminação.

Já a lâmpada LED, concentra a energia utilizada em luz na faixa do espectro visível e, portanto, é muito mais eficiente. Uma lâmpada LED de 7 watts realiza o trabalho (iluminar o ambiente) de uma lâmpada incandescente de 60 watts.

Esta diferença de 53 watts em 50.000 (cinquenta mil) horas de vida útil equivale a aproximadamente 265 vezes o valor de aquisição da própria lâmpada. Um incrível retorno de 26.500%. Nada mal!

Este exemplo simples pode ser extrapolado para os motores utilizados na indústria.

O custo no ciclo de vida de um motor elétrico é distribuído, aproximadamente, da seguinte forma: 4% é o custo de aquisição, 2% é custo da manutenção e os outros 94% é o custo relacionado ao consumo da energia elétrica ao longo da sua vida útil. Portanto, um motor cuja eficiência seja 20% superior em relação a um motor ineficiente, geralmente recondicionado, deixa de consumir de energia elétrica o equivalente a 470% do valor de aquisição de um motor novo.

Portanto, nem sempre economizar “consertando” os motores da sua indústria ou comércio é um bom negócio. Os refrigeradores, sistemas de refrigeração industrial, sistemas de aquecimento, trocadores de calor e muitos outros equipamentos que encontramos em nossas residências ou nos comércios e indústrias devem ser de alta eficiência energética para que a nossa demanda por recursos naturais sejam atenuados e os investimentos postergados.

O uso racional da energia elétrica tem um papel muito importante para a matriz energética brasileira, principalmente em períodos de escassez hídrica, pois esta diminuição do consumo permite que os reservatórios das hidrelétricas sejam menos utilizados para a geração de energia. Nestes períodos, geralmente as termo-elétricas são acionadas de forma que as bandeiras tarifárias entram em vigor para cobrir os custos deste tipo de geração de emergência, afetando a nossa economia.

Segundo nota técnica do MME, como consequência do P&D em eficiência energética e do PEE (Programa de Eficiência Energética), foi “gerada” a economia de 9.000 GWh/ano e redução de demanda na ponta de 2,8 MW, onde para cada R$ 0,08 investidos em PEE são economizados 1 kwh.

Com o programa do PROCEL, foram economizados 21,6 bilhões de kWh, que é 4,48% do consumo nacional de energia elétrica no período. O kwh gerado virtualmente, por projetos de eficiência energética, custam menos de 8% dos valores cobrados, país afora, pelas concessionárias de energia.

Nos últimos anos, a legislação Brasileira tem enfrentado grandes modificações nas leis que regulamentam os projetos de P&D e PEE no setor elétrico, e os legisladores estão, neste momento, preparando a modernização do setor elétrico brasileiro. No entanto, existem pontos que podem afetar e levar o Brasil na contramão do mundo e a ter grandes prejuízos econômicos e sociais.

A lei 9.991/2000, em que trata da obrigatoriedade dos investimentos por parte das concessionárias de energia em projetos de P&D e PEE, em uma de suas alterações determina que: “a partir de 1º de janeiro de 2023, para as concessionárias e permissionárias cuja energia vendida seja inferior a 1.000 (mil) GWh por ano, o percentual mínimo a ser aplicado em programas de eficiência energética no uso final poderá ser ampliado de 0,25% (vinte e cinco centésimos por cento) para até 0,50% (cinquenta centésimos por cento)”.

Portanto, na prática, os recursos das grandes concessionárias aplicados em PEE podem sofrer uma redução de 50% no seu orçamento anual.

Vale ressaltar que até 80% desses recursos podem ser aplicados em comunidades de baixo poder aquisitivo, o que fortalece ainda mais a componente social e econômica da Eficiência Energética.

Após o que foi exposto podemos concluir que o uso racional da energia, além de preservar os recursos econômicos, preserva o meio ambiente, evitando a emissão desnecessária de CO2 na atmosfera, fruto da queima de combustíveis fósseis. Além disso, as políticas nacionais em 2023 sofrerão perdas significativas no seu orçamento, gerando perda de empregos no setor, geração de energia mais cara que a oriunda dos projetos de PEE e redução dos projetos que beneficiam as comunidades carentes em todo país.

Bruno Herbert é presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO)

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