Um país para brasileiros e cidadãos do mundo

Um país para brasileiros e cidadãos do mundo

Neste 7 de Setembro, o transcurso dos 199 anos da Independência remeteu-me à reflexão sobre o crescimento de 35%, entre 2010 e 2020, do número de brasileiros morando no Exterior, conforme demonstra o mais recente levantamento do Itamaraty. Agora, são 4,2 milhões os que buscam melhor sorte em outras nações. Perdemos valores e talentos formados aqui e que, no meio de sua jornada, descrentes das perspectivas e oportunidades em nossa terra, tentam uma nova vida em outro lugar.

Obviamente, é legítimo o livre-arbítrio de cada cidadão sobre o seu destino. Porém, cabe procurar entender os motivos que os encorajam a ir embora, para que não continuemos a estimular o êxodo, e ponderar a respeito do que cada um de nós pode fazer pelo Brasil, contribuindo para buscar a solução dos seus problemas e transformá-lo num país melhor. Temos imenso potencial não explorado, na área da bioeconomia, por exemplo, que pode ser convertido em fomento econômico e desenvolvimento. Por outro lado, não crescemos de modo sustentável nos últimos 40 anos, dos quais perdemos 20, com medíocres índices de expansão do PIB.

Cabe um alerta aos políticos, autoridades dos três poderes e à sociedade, no sentido de que é necessário construir uma visão de futuro, por meio de uma agenda eficaz, focando corações e mentes, por meio de uma trajetória melhor do que tivemos até agora. Ocorreram avanços importantes nas últimas quatro décadas, que não podem ser ignorados, como mais inclusão social, vagas para todos nas escolas, a despeito da persistente baixa qualidade do ensino, a criação do SUS, que demonstra sua importância na pandemia, ampliação da infraestrutura e a própria Constituição de 88, que, embora anacrônica em alguns princípios atrelados à normalização da economia, é um marco institucional relevante.

Cada brasileiro pode e deve atuar na sua esfera, visando edificar uma nação mais ética e solidária e capaz de exercer todo o seu potencial de crescimento, para nos levar a um melhor patamar educacional, cultural, econômico e social. Trabalhar dentro do Brasil para torná-lo melhor é uma decisão plausível, numa realidade que já conhecemos e na qual temos plena consciência sobre os desafios a serem enfrentados. Também seria interessante termos capacidade de atrair de volta os que emigraram, bem como talentos de todas as nacionalidades e etnias, para ajudarem a construir um país com melhores perspectivas de progresso e inovação, com educação avançada e protagonista no novo contexto do desenvolvimento sustentado e responsabilidade socioambiental.

Cedo ou tarde, os que partem acabam descobrindo que também há problemas em todas as nações, inclusive no mundo desenvolvido. Por isso, é importante refletir sobre a pertinência de enfrentarmos os nossos próprios obstáculos, como os tributários, a insegurança jurídica e física, a burocracia exagerada, o peso insustentável do Estado pouco eficiente, a ausência de um eficaz projeto de fomento industrial e a dispersão de políticas públicas.

Quase dois séculos após a Independência e 33 anos depois da promulgação da Constituição de 1988, temos de evoluir, criando consensos de modo equilibrado e um projeto viável de país. Tal atitude é decisiva para estimular as pessoas a ficarem aqui, a despeito de um mundo mais nômade, no qual a tecnologia permite que se trabalhe em qualquer lugar da Terra. Sem dúvida, porém, o principal fator de estímulo à permanência dos brasileiros é lhes oferecer concreta perspectiva de esperança e uma nova visão de futuro, com uma consistente agenda que contemple as atuais e as próximas gerações.

Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

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