A disputa pela Prefeitura de Curitiba ganhou destaque nacional, no dia 13, quarta-feira, a partir do vazamento à imprensa de uma possível pré-candidatura do ex-governador e deputado federal Beto Richa (PSDB) à Prefeitura de Curitiba pelo PL, com o apoio do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. De acordo com o veiculado na imprensa, Richa estaria “fechado com Bolsonaro” para sua filiação ao PL, após encontro na sede do partido em Brasília, durante a semana. A costura do acordo foi feita pelo deputado federal Filipe Barros (PL-PR) e teria o aval, também, do presidente nacional da sigla, Valdemar da Costa Neto.
Infidelidade partidária
A provável filiação estaria prevista para o início do mês de abril. O único entrave “porém” foi a necessária saída de Richa do PSDB, partido que o elegeu deputado federal em 2022, o que pode acarretar-lhe punições por infidelidade partidária. Na noite de quarta-feira, o PSDB manifestou-se afirmando que não deverá autorizar a desfiliação.
Guinada no PL
Muitos devem estar se perguntando: o que teria acontecido para Bolsonaro decidir apoiar um ex-tucano que nunca demonstrou afeição ao conservadorismo, tendo construído uma carreira política mais centrista, para não dizer, progressista? Beto sempre foi tachado, aliás, de “progressista” pelos bolsonaristas, vale lembrar.
“Fator Kassab”
O “fator Kassab” exerceu um peso considerável nessa decisão. Bolsonaro e Gilberto Kassab não conseguem se entender. O ex-presidente já disse recentemente que não quer alianças, nestas eleições municipais, entre o PL e o PSD, partido presidido nacionalmente por Gilberto Kassab. Bolsonaro inclusive chamou Kassab de “farsante”, em fevereiro passado, quando o ex-prefeito de São Paulo elogiou o presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas (PL-SP), por ambos estarem abertos ao diálogo entre si. Com a proibição de alianças entre os dois partidos, o PSD de Ratinho Junior e Rafael Greca fica impossibilitado de qualquer união nas eleições municipais de 2024 com o PL.
Mágoa
Para piorar, Bolsonaro teria ficado indignado com Greca por este ter elogiado o presidente Lula e o novo ministro do STF, Flávio Dino. Um pouco mais de lenha na fogueira foi jogada pela ausência do governador Ratinho Junior no ato da Paulista, em apoio ao ex-presidente, no último dia 25. Bolsonaro teria ficado muito chateado com a ausência do governador do Paraná.
Candidatura competitiva
O ex-presidente, ainda, gostaria de um candidato forte, competitivo, no PL, para concorrer a Prefeitura de Curitiba e garantir uma alternativa a frente ampla que está sendo construída pelo governador Ratinho Junior, presidente do PSD no Paraná, e Greca, para a eleição do vice -prefeito e Secretário de Estado Eduardo Pimentel (PSD-PR) à Prefeitura de Curitiba.
Insatisfação no PL de Curitiba
Ao que tudo indica, a filiação de Beto Richa ao PL já vinha sendo dada como certa por caciques políticos. Tanto que, houve uma ala no PL de Curitiba, mais conservadora, indignada, revoltosa, com a provável chegada de um “ex”-tucano. O presidente do Diretório Municipal do PL de Curitiba, Paulo Martins, anunciou no final da tarde de quarta, dia 13, sua saída da presidência do Diretório, pelas redes sociais. Paulo Martins, jornalista e ex-deputado federal, aguarda, ainda, apoio de Bolsonaro a sua pré-candidatura a prefeito de Curitiba.
Vaga de Sérgio Moro
O ex-deputado federal, na verdade, está de olho na vaga de Sérgio Moro (União-PR) no Senado, caso a candidatura do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro seja casada pela Justiça Eleitoral. Martins perdeu a vaga no Senado, em 2022, para Sérgio Moro, por uma pequena diferença: 33,5% a 29,1% dos votos válidos. Se a candidatura de Moro for cassada, eleições suplementares ao Senado no Paraná deverão ser realizadas. Paulo Martins, que atualmente cumpre expediente no gabinete do governador Ratinho Junior, quer lançar pré-candidatura a prefeito de Curitiba apenas para cacifar seu nome ao Senado. Outro nome cogitado a pré-candidato a prefeito de Curitiba pelo PL era o do deputado estadual Ricardo Arruda. A informação na imprensa é a de que o Diretório Municipal de Curitiba teria sido pego de surpresa sobre esse acordo em Brasília, entre Bolsonaro e Beto Richa.
Disputa acirrada
O que teria desanimado o ex-presidente, também, a lançar nomes “fracos” para a Prefeitura de Curitiba seria a baixa competitividade de Martins e Arruda diante de uma disputa acirrada com outros nomes fortes, além do sucessor de Greca, Eduardo Pimentel. Um levantamento divulgado em dezembro passado, do Paraná Pesquisas, apontou o nome do ex-prefeito de Curitiba e deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR) em primeiro lugar nas intenções de voto para prefeito da capital, com 16%; seguido do deputado federal Ney Leprevost (União Brasil-PR). Beto Richa aparece com 13,5% seguido de Eduardo Pimentel.
“Metamorfose ambulante”
Resta saber se o eleitorado conservador de Curitiba aprovaria esse acordo, no mínimo, inusitado. Para não dizer, absurdamente incoerente. A julgar pela reação da militância conservadora nas redes sociais, seria um desastre, provocando debandada e racha no PL. Bolsonaro obteve cerca de 70% dos votos válidos em Curitiba, nas eleições de 2022. Beto Richa também já foi muito popular na cidade e no estado, como prefeito e governador, respectivamente. Mas é (ou era) tucano de corpo e alma, historicamente adepto da social-democracia, com, pelo menos, um “pezinho” no progressismo. O eleitorado bolsonarista-raiz de Curitiba engoliria essa abrupta metamorfose do filho do saudoso governador José Richa?
Atualização: Até o fechamento desta edição, as informações na imprensa dão conta de que houve um recuo na filiação de Beto Richa ao PL, a partir da tarde de quinta-feira (14.03). O PSDB não autorizou a desfiliação do deputado federal Beto Richa. No PL, a militância nas redes sociais reagiu muito negativamente à possível filiação de Beto Richa. Ao que tudo indica, o PL curitibano deverá apoiar a pré candidatura de Paulo Martins a prefeito de Curitiba. E Beto Richa segue como pré-candidato a prefeito da capital pelo PSDB.