Após a presepada protagonizada pelo STF, de liberar a condição de elegibilidade do ex-presidente Lula ao anular suas condenações, o petista tem se sentido livre, leve e solto para articular uma candidatura da esquerda que reúna uma frente ampla contra o presidente Bolsonaro, em 2022. Convém não subestimar a capacidade política e eleitoral do ex-presidente… Dotado de muito timing para não perder oportunidades.
A destruição da Lava Jato mediante a atuação do STF foi o primeiro passo, seguida da anulação de suas condenações e da garantia da volta de sua condição de elegível. Depois, veio o golpe contra Moro, julgado “parcial” pela mesma Corte. De agora em diante, Lula não tem parado em sua estratégia de articular uma frente ampla contra o bolsonarismo, pensando nas eleições presidenciais de 2022. Tem se aproximado de lideranças do Centro, inclusive, de opositores que votaram a favor do impeachment da Dilma. Também, tem conversado com o mercado, com o empresariado, a exemplo de suas conversas com o empresário Josué Alencar, filho do saudoso ex-vice-presidente José de Alencar.
Ancorado nas últimas pesquisas de intenção de votos, que já o colocam a frente de Bolsonaro num eventual segundo turno, o petista trabalha para reconquistar o eleitorado do Nordeste, seu grande berço eleitoral entre a população de baixa renda. Aliás, segundo as pesquisas de intenção de votos, é nessa região onde ele já recupera seu prestígio, vencendo Bolsonaro nas simulações. O Sudeste já é outra região em que Lula apresenta vantagem em relação ao presidente da República. Bolsonaro ainda lidera no Norte, Centro-Oeste e Sul, conforme os institutos de pesquisas. Porém, no somatório geral do eleitorado, diversas pesquisas apontam Lula vencendo Bolsonaro no segundo turno. Um quadro bastante preocupante para bolsonaristas e antipetistas, enfim, para toda a direita no país, liberal ou conservadora.
Por mais que se alegue que institutos de pesquisas costumam inflar números conforme os interesses de quem paga o levantamento, não se pode subestimar a grande probabilidade de que esses números estejam próximos da realidade atual. Pois, o fato é que Bolsonaro tem perdido apoio popular. A CPI da Covid-19 também deverá se revelar a grande pedra em seu sapato, com o senador Renan Calheiros como relator. Tem sido notório verificar nas redes sociais eleitores bastante decepcionados com o atual governo, deixando de apoiá-lo. Lula e toda a esquerda aproveitam-se dessa má fase do governo para obterem vantagem política. Uma aproximação com o PSOL também já vem sendo assinalada por Lula, que declarou apoio a uma candidatura do deputado federal Marcelo Freixo ao governo do Rio, em 2022. Não é difícil imaginar PT e PSOL aliados em 2022 para derrotar Bolsonaro. Freixo se saiu muito bem nas eleições municipais de 2016, indo ao segundo turno com Marcelo Crivella. Guilherme Boulos é outra liderança forte em São Paulo, tendo ido ao segundo turno em 2020, eleições municipais, contra o candidato a reeleição Bruno Covas. E vale lembrar que São Paulo e Rio são grandes termômetros eleitorais do país. O PSOL é um partido que tem crescido muito, mostrando-se como a alternativa da esquerda ao petismo. Tem conquistado especialmente a classe média antenada a ideias progressistas, defensora do politicamente correto, dos direitos das minorias, do ambientalismo, enfim, uma parcela do eleitorado mais escolarizada que é formadora de opinião.
Se Lula conseguir unir o Centrão em torno de um discurso pacificador para formar um governo de coalizão, somando o apoio que certamente terá de toda a esquerda, há um sério risco da direita perder feio nas próximas eleições. O voto do eleitorado de baixa renda do Nordeste, mais o voto do eleitorado da “lacração” do PSOL pode lhe render uma tendência aglutinadora em torno do antibolsonarismo, movimento que começa a ganhar força.
Outro risco é a formação de múltiplas candidaturas fracas a presidente em 2022, pulverizando os votos. E levando uma maioria a apoiar Lula no segundo turno contra Bolsonaro, se a pecha de “genocida” persistir. A CPI da Covid-19 provavelmente vai repercutir nas eleições presidenciais. E se não houver uma formação urgente de uma forte candidatura de terceira via, que faça frente a polarização Lula x Bolsonaro, é bem provável que a esquerda volte com tudo ao poder em 2022. Nem tanto por seus próprios méritos, mas, por muitos erros estratégicos de uma direita ainda insipiente e mal consolidada em termos de militância e articulação política. Tudo indica que cairemos na mesma armadilha de 2018, só que, dessa vez, será o antibolsonarismo contra o antilulismo, no lugar do petismo contra o bolsonarismo.