A prisão da influenciadora digital Deolane Bezerra em uma operação da Polícia Civil de Pernambuco contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais não causa surpresa a observadores de um mínimo bom senso. Afinal, uma fortuna adquirida em tão pouco tempo é de causar, no mínimo, sérias suspeitas. Mas o que ainda surpreende é a quantidade de seguidores que influenciadores do naipe de Deolane conseguem arregimentar nas redes sociais. Não faltam, inclusive, quem defenda a inocência dela e de tantos outros influenciadores que vêm sendo investigados e acusados de crimes.
“Advogada de porta de cadeia”
É certo que todos devem ser considerados inocentes até que a Justiça prove o contrário. Entretanto, o que causa espanto é a disposição de tantos seguidores em “botar a mão no fogo” pela defesa da inocência da investigada. Somente a idolatria pode explicar a admiração que tantos seguidores nutrem por influenciadores tão fúteis e vazios de conteúdo quanto Deolane Bezerra. A influenciadora, empresária e advogada criminalista, vulgo “advogada de porta de cadeia”, detém mais de 20 milhões de seguidores apenas no Instagram. Em podcast, a criminalista disse que gosta de defender bandidos pois eles não bancam os inocentes a exemplo de outros tipos de clientes. O quê teria Deolane Bezerra de tão interessante, em termos de conteúdo, além da sinceridade sobre sua vida profissional dedicada a defender traficantes, para atrair uma multidão de seguidores?
Luxo e ostentação nas redes sociais
Um conteúdo nas redes sociais de muito luxo, ostentação, mesmo, consumismo exacerbado e a construção de uma imagem de sucesso financeiro e profissional. Um estilo de vida e imagem sonhados por tantos brasileiros. Somados a isso, a influenciadora simboliza o sonho de consumo de muitos quando o assunto é investimento em beleza e imagem pessoal a partir de múltiplos procedimentos estéticos que a deixaram no “shape” padrão. Como se costuma dizer, imagem é tudo. É capital, é investimento. E o povo brasileiro, lamentavelmente, gosta disso. Gosta, ama, admira, idolatra figuras públicas que apresentam uma história de quem galgou o sucesso, a superação e a transformação pessoal. Mesmo que tudo seja construído muito mais por aparências e mentiras do que por verdade, consistência e essência.
Reino da mediocridade
O fato alarmante sobre o país e a cultura nacional não têm sido as recentes investigações e denúncias contra influenciadores digitais. O alarmante é verificar que influenciadores vazios de conteúdo útil e proveitoso conquistem tantos seguidores e fãs.
Influenciadores e a criminalidade
Deolane Bezerra não é a única. Para piorar o cenário, temos os casos recentes do influenciador digital Nego Di, que acaba de ser denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul por estelionato, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e contravenção penal, a partir da promoção de rifas virtuais ilegais.
Amizade de Pablo Marçal
Tempos atrás, foi a vez de outro escândalo envolvendo o nome de um famoso influenciador do mundo fitness: Renato Cariani. Este é acusado de tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro. Mais um influenciador idolatrado por uma horda de seguidores que tem amizade, aliás, com outro influenciador digital que vem “tocando o terror” na disputa pela Prefeitura de São Paulo: Pablo Marçal. O candidato a Prefeitura de São Paulo, vale lembrar, foi condenado por estelionato ao colaborar com quadrilha que aplicava golpes contra aposentados em empréstimos bancários mas é um “fenômeno“ nas redes sociais, tendo se destacado por exercer atividades de coach de desenvolvimento pessoal. Sócio de Cariani, Marçal, agora “fenômeno” na política,disse, em entrevista ao Roda Viva, na TV Cultura, que acredita na inocência do amigo influenciador fitness. “Eu era inflamado igual ao Boulos, pesava cem quilos… Quando conheci o Cariani mudei e blá blá blá”… A realidade brasileira é triste, enfim… São figuras públicas com esse tipo de conteúdo que conquistam grande parte do povo brasileiro. Por consequência, conquistam o eleitorado, quando tais influenciadores ingressam na política.
“Gado” e a manada
Milhões de seguidores para a Deolane, outros tantos milhões para Pablo Marçal, outra multidão para o influenciador de esquerda Felipe Neto… Esses números explicam muita coisa sobre o povo brasileiro, a realidade político-social do país. Dizem que “seguir” é coisa de gado que segue a manada. Pois, bem, se é assim, gado é o que não falta no país. E seguimos adiante para o abatedouro da ignorância, da falta de caráter, da mediocridade. Além de decência, inteligência e caráter, tem faltado muita autoestima ao brasileiro. Só se deixa influenciar por gente que mal se conhece quem não se garante como ser humano e cidadão. Quem precisa seguir “famosos” e “famosinhos de redes sociais” deve estar se sentindo muito perdido. Em resumo, um bando de brasileiros perdidos seguindo gente mais perdida, ainda. É o que temos para hoje, no Brasil.