por Samuel Sabino
A maioria dos crimes de corrupção, sobretudo os que se concentram no alto escalão das empresas e da política, envolvem o suborno. Essa, infelizmente, é uma prática comum em diversos países, esferas e existe desde quase sempre. A ideia de se ganhar algo “a mais”, do que o combinado parece até natural em algumas negociações.
Não é incomum que negócios sejam fechados em algumas empresas, enquanto um “bônus” é negociado em meio a festas com prostitutas e drogas, que também integram parte das táticas de convencimento do cliente, e é claro do suborno. A vantagem tem que ser observada. O caso é que tais métodos são, muitas vezes, ilegais, mas em sua totalidade antiéticos.
A vida profissional é feita de escolhas. Estamos o tempo inteiro escolhendo, e com isso construindo nossa conduta. Diversos pormenores envolvem cada situação, e o limite entre e o ético e o antiético, o legal e o ilegal, muitas vezes é tênue. Nem sempre são situações escrachadas como a que citei acima. Se fosse simples escolher não haveria porque falar de suborno, ou questionar atitudes que constroem uma conduta antiética.
O caso é que mesmo que se respeite a lei, a postura que foge da ética ainda marca a empresa, criando uma ferida que pode fazê-la sangrar sem que se perceba, e quando uma situação de definição se apresentar, a empresa pode não resistir à reputação que se criou em cima dela.
Dentro dos projetos e seus prazos e orçamentos, transitamos entre ações de responsabilidade. Ao questionar o suborno com prática dentro de empresas e organizações públicas, questionamos a responsabilidade que foi ou não levada em conta em uma decisão. Uma empresa irresponsável se faz pouco confiável, indigna de novos clientes e por vezes abandonada por clientes antigos.
Há duas questões a se considerar no quadro geral: a reputação e o suborno. A reputação considera o agora e o médio/longo prazo, determinando uma visão micro e macro das situações. É preciso considerar uma dupla reflexão, considerando vantagens e desvantagens do agora e do depois para que se tome uma decisão que não afete negativamente a reputação de uma empresa.
Já o suborno, em si, nada mais é do que receber ou oferecer algo de valor aonde se responde a expectativas egocêntricas de imediato, em curto prazo. O suborno está ligado a vantagens de um diminuto grupo de pessoas. O suborno só considera o universo micro das situações. O ganho imediato ofusca de forma a seduzir, sem pensar que consequências posteriores podem custar vidas, empregos, mais dinheiro, e até mesmo a própria empresa.
A conduta, idealmente, deve transitar pela lei e ética. No caso da lei, quando esta é quebrada há consequências mais imediatas, como multas, dívidas ou perdas. Ele traz grandes prejuízos e por isso o suborno nem sempre transgride sua esfera, pois as consequências são pesadas. É por isso que o campo fértil é quando o suborno esbarra no antiético apenas, pois suas consequências são menos imediatas, não geram prejuízos em curto prazo ligados ao crime.
A lei responde com a multa, e a ética com valores e a identidade da empresa. O problema é que esse último não é visível “no bolso”, por assim dizer. Ao menos não diretamente, já que a reputação começa a ser afetada, e aí sim, contratos novos serão perdidos.
Sempre que se está diante de uma situação de suborno se deve considerar: a prudência, a honestidade, autenticidade (não quebrar protocolos), a responsabilidade. Se você consegue convidar esses quatro princípios à sua tomada de decisão eles te blindarão contra uma atitude do suborno no âmbito ético.
É necessário que essas coisas sejam trazidas à discussão para o esclarecimento. Pensar o suborno é conduzir uma empresa de forma realmente honesta no dia a dia. É importante lembrar que a ética antecede a lei, e por isso que sendo ético não se fere a lei, e há a certeza de que tanto no imediato, quanto no futuro, a empresa não sofrerá por atitudes mal tomadas no presente.
A quebra da reputação raramente é recuperada, sobretudo quando se tratando de suborno. Isso deveria ser mais questionado no dia a dia empresarial, afinal dentre todos os funcionários, ate que ponto isso é claro em cada um? Alguém já questionou isso dentro de sua empresa? Se não, o que é a maioria dos casos, sua empresa está vulnerável e suscetível ao suborno e outras práticas de corrupção.
É papel da ética interiorizar isso, gerando valores na empresa que a acompanharão para um futuro próspero e sem riscos.
Samuel Sabino
Fundador da consultoria Éticas Consultoria, filósofo, mestre em bioética e professor.