Sergio Moro destrói própria reputação ao não declarar voto sobre indicação de Flávio Dino ao STF
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Sergio Moro destrói própria reputação ao não declarar voto sobre indicação de Flávio Dino ao STF

Por 47 votos a 31, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, teve seu nome aprovado no plenário do Senado para uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Conforme o que se especulava, o indicado do presidente Lula foi aprovado pelo Senado. Em votação secreta, a escolha de um ministro do STF costuma gerar muita curiosidade e burburinho em torno de qual teria sido o voto de cada senador.

Levantamento do Estadão

Nem todos optaram por declarar o voto publicamente. Apenas, cerca de vinte senadores da oposição que participaram de levantamento do Estadão disseram que votariam contra. Todos, naturalmente, da oposição ao governo, entre nomes como, Flávio Bolsonaro, Magno Malta, Damares Alves, Rogério Marinho, Eduardo Girão, Hamilton Mourão, Plínio Valério e outros.

Moro “escandalizando“

Entre os senadores que deixaram dúvidas por não terem declarado voto, esteve Sérgio Moro. O senador pelo Paraná causou grande alvoroço nas redes sociais após ter sido flagrado, na sabatina da CCJ, falando ao pé-do-ouvido com Dino. Moro ainda riu enquanto falava com o indicado do presidente petista, para piorar sua imagem perante seu eleitorado de direita, principalmente, aquele mais conservador. Moro estaria de conchavo com Dino? Teria virado a casaca? Quê intimidade é essa com um inimigo comunista? A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, até, ironizou, comentando: ”quanta cumplicidade”…

Civilidade

O senador do União Brasil até tentou se explicar, justificando que prefere manter a cordialidade e civilidade com adversários. Não haveria nada demais, para ele, cumprimentar e conversar descontraidamente com um adversário político. E realmente não há nada demais num mundo civilizado onde adversários políticos não são o mesmo que inimigos, portanto, podem conversar com uma certa camaradagem. E esclareceu que riu porque achou graça ao ouvir de Dino: “estou esperançoso com o seu voto”. E alguém conseguiria não rir ao ouvir comentário tão espirituoso de um adversário político?

Câmera indiscreta

A justificativa de Sérgio Moro teria sido convincente e encerrado o assunto, se não houvesse um outro fato midiático bombástico que dominou o noticiário. O flagra de um fotojornalista do Estadão que conseguiu capturar uma imagem da tela do celular de Moro durante sabatina na CCJ. A invasão de privacidade do fotojornalista tem rendido muito no noticiário. A conversa flagrada realmente é comprometedora e deixa o senador em maus lençóis perante seu eleitorado. Na imagem, é possível ler uma conversa do senador com seu assessor que lhe avisa que o flagra de sua conversa ao pé-do-ouvido com Dino estava dando o que falar nas redes sociais. Mas que, na avaliação do assessor, o assunto logo seria esquecido. O assessor finaliza com um conselho fatal: só não declare seu voto em Dino, porque, se o fizer, o assunto jamais será esquecido nas redes sociais. Ao que Moro responde: ”vou manter meu voto secreto, é um instrumento de proteção contra retaliação”.

Revolta e indignação

O flagra do fotojornalista bastou para causar uma onda de indignação e revolta contra o senador, por parte de seus apoiadores. “Decepção”, “traição ao eleitorado”, foram as conclusões a que se chegou, de acordo com comentários nas redes sociais.

O senador novamente tentou se explicar, sem sucesso, a julgar pelas reações nas redes. Disse que o assessor o aconselhou a não declarar o voto “em hipótese” de voto favorável a Dino. Entretanto, quem acreditaria que se trataria de uma hipótese, uma vez que Moro confirma na conversa que não deverá declarar seu voto?

Pegou mal, muito mal, para a imagem de Sérgio Moro perante grande parte de seu eleitorado. Moro pode até ter votado contra a indicação de Dino. Afinal, somente vinte senadores declararam voto, faltando onze que votaram contra para chegar a 31. Mas, se tivesse votado contra, por que não teria declarado publicamente a fim de tranquilizar seu eleitorado? Seria medo de retaliações, conforme evidenciou na conversa com assessores?

Cassação de Moro

Ao falar em retaliações, certamente, deve ter se referido a eventuais julgamentos futuros no STF ou TSE. Já é de conhecimento público que Moro está sendo julgado pela Justiça Eleitoral do Paraná por acusação de crime de caixa dois na campanha eleitoral. E eventualmente poderá ter seu caso levado a instâncias superiores em Brasília. Muito se comenta na imprensa que sua cassação estaria sendo dada como certa.

Hipótese remota de conchavo

Moro teria feito conchavo com Dino para obter proteção no STF? É no que bolsonaristas e direitistas indignados apostam. Uma hipótese, acredito, bastante improvável. Um acordo dessa natureza não se daria entre partes que não tenham nutrido grande e sólida cumplicidade ao longo do tempo. Creio que não haveria confiança mútua entre ambos para chegarem a esse ponto. A hipótese mais plausível é a de que Moro realmente tenha medo de retaliações do STF, por isso, optou por não declarar seu voto. Um voto que, muito provavelmente, foi contrário a indicação de Flávio Dino. A conversa ao pé-do-ouvido deve ter sido apenas “politicagem” de quem prefere deixar dúvidas para a direita e a esquerda sobre seu voto. Muito provavelmente, o senador deve estar com muito medo de ter seu mandato cassado e não anda com coragem de se indispor tão abertamente com um futuro ministro do STF. Mas, daí a concluir-se que ambos teriam feito acordo em troca de um voto que é secreto, já seria muita imaginação simplista de uma militância que distorce a realidade, interpretando-a de maneira pueril, como se tudo fosse muito “preto no branco”. Mas, em política, muitas vezes, as coisas estão mais para “cinquenta tons de cinza”. O medo, enfim, é sempre mau conselheiro.

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