Senhor Nelson, um morador de Pinhais que conhece a cidade como poucos

Senhor Nelson, um morador de Pinhais que conhece a cidade como poucos

por Noelcir Bello

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Esta semana visitamos o Sr. Nelson Chane da Silva no dia do seu aniversário. Com recém completados 80 anos de vida, Nelson nos contou muitas histórias de Pinhais, Piraquara e Curitiba.

Nascido no bairro Laranjeiras, no município de Piraquara, nosso entrevistado contou que, quando criança, ele e seu pai iam de carroça fazer as compras em um mercado que havia ao lado do presídio de Piraquara. “Quando criança, a gente andava de carroça. Era tudo muito simples naquela época. Em 1958, eu ia para o meu trabalho no Alto da XV, em Curitiba, através de um carreiro no bairro Laranjeiras pois não havia ônibus. Aliás, nem estradas havia. As avenidas Iraí e João Leopoldo Jacomel não existiam e cada morador tinha seu próprio poço com sete metros de profundidade, para abastecer de água sua casa”, comentou Nelson.

Ele lembra ainda que havia muito gado pelos campos, que se estendiam de Piraquara até o Capão da Imbuia, e os mesmos eram carregados em caminhões para serem levados aos frigoríficos. Ali se instalaram a colônia de alemães que vendiam leite e gado. Também era muito comum encontrar lindos cavalos nas pastagens, porém, já na época, as fazendas sofriam ataques de ladrões que carregavam os animais como se fossem os donos.

O Trabalho na Cia de Água e Esgoto

Ao se casar em 1969, foi morar na região do Parque Castelo Branco e trabalhava na empresa Água e Esgoto, atual SANEPAR. Nelson era responsável pela manutenção da rede de água, desde a roçada até o conserto da tubulação da rede. “Tudo era um banhado só. A gente tinha que levar a baliza para colocar a tubulação. Fazíamos tudo com muito sacrifício, pois não havia tecnologia para realização do trabalho. Muitas vezes a gente ficava coberto de agua até a cintura”, lembrou.

Nelson comentou que a água vinda da Serra era bombeada até os Bombeiros de Piraquara, onde havia a caixa d’agua que abastecia Curitiba, chegando pelo depósito do Tarumã e depois Alto da XV, até chegar ao Alto do São Francisco, no centro histórico, se estendendo ainda, até as Mercês.

Em 1972, a empresa mudou de nome e passou a se chamar Sanepar e o governo deu aos funcionários o direito de escolha: ou permaneceriam funcionário da empresa e ganhando mais, ou do governo, com salário menor, porém com estabilidade de emprego. “A gente não sabia que haveria problemas na hora da aposentadoria. Nem o governo e nem a empresa assumiram o patronato meu e dos meus amigos, por isso, quando completei 70 anos, tive uma aposentadoria bem abaixo daquilo que recebia como salário”, lamentou.

A primeira Vila de Pinhais

Nelson lembrou do restaurante do Inspetor de Polícia, Carlos Pullmann, na Avenida Maria Antonieta, onde os funcionários da Rede almoçavam e sua família buscava frango assado para o almoço de domingo. Aliás, esta foi a primeira Vila de Pinhais. “Conheci Jacob Macanhann. Este era um cara muito bom, andava muito de charrete e ajudava muita gente. Lembro que eu andava de cavalo junto com meu pai e lá do Bairro Alto era possível ver tudo, até o Presídio do Ahú, em Curitiba. Para pescar, a gente tinha uns “minhocão” de mais de um palmo de comprimento”, disse.

As notícias circulavam apenas por conversas entre amigos e demoravam dias para as informações se espelharem. “Uma vez, estávamos trabalhando, onde era a Esplanada, quando passou um jato, deixando aquela listra de fumaça no céu. Aquilo virou o comentário da região, pois ninguém fazia ideia do que teria sido aquilo. Ninguém nunca havia visto algo assim e só depois de muito tempo ficamos sabendo que era um avião. As bombas para água nos davam muito trabalho para ligar. Ao estragar a válvula de retenção na base, tínhamos que subir na torre com baldes de água para encher o reservatório e só então ligava novamente”, lembrou.

O crescimento de Pinhais

O primeiro Hospital de Pinhais, segundo Nelson, foi o Cotrauma. Antes dele, era necessário ir até Piraquara para ser atendido. “Ao adoecer algum familiar, era preciso procurar um carro pela vizinhança. Haviam poucos e só após encontrar um é que a gente conseguia levar o paciente ao hospital”, comentou.

De acordo com o nosso entrevistado, a terra para aterrar os terrenos veio dos barrancos e valetas abertas para as estradas e a construção das casas. Após muitas valetas abertas, a água passou a empossar com menor intensidade e isso ajudou a tornar os bairros mais enxutos e próprios para morar. “De frente ao posto de saúde do Esplanada, o seu Armelindo resolveu abrir uma banca, mas não sabia vender as coisas e decidiu ir até Curitiba para aprender com um turco. Então passou a administrar o local que existe até hoje ali no Pineville. Aliás, naquela época eu frequentava o local toda a tarde. Armelindo também foi mais um a comprar o terreno da falecida dona Clara, proprietária de um comércio ali perto da Expresso Azul. Ela foi a primeira corretora de imóveis da região. Foi a dona Clara que construiu a igreja Nossa Senhora do Pilar, na Vila Esplanada/Pineville”, apontou.

Saúde de Ferro

Aos 80 anos, Nelson acredita que seu vigor e saúde se deve ao fato de que comia muita carne de porco, dobradinha, comidas naturais e de ter andado a vida toda de bicicleta. Ainda gosta muito de subir montanha, levantar cedo e sair fazer caminhada pela cidade. “Fui jogador de bocha, participei de campeonatos e fui fumante, mas, graças à Deus, fazem uns 15 anos que larguei o vício. Não abro mão de tomar minha cervejinha, mas sempre com moderação. Tem horas que eu não acredito que as coisas mudaram tanto. Ao andar por Pinhais, vejo a evolução, especialmente no Governo Luizão”, finalizou.

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