Há 137 anos, em 13 de maio de 1888, o Brasil vivenciava o fim da escravidão, com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. A lei liberava, naquela época, mais de 700 mil escravos no país. Os desafios que viriam, já a seguir, não foram poucos. A abolição não resultou, de forma automática, em igualdade social e econômica para a população negra, que continuou a enfrentar exclusão e preconceito.
O tema teve avanços ao longo das décadas, mas ainda hoje traz desafios, especialmente ligados às oportunidades para a população negra. Esta foi a pauta tratada durante a 2ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, realizada na noite do dia 21, em Quatro Barras.
O tema da conferência reflete os anseios atuais – “Igualdade e Democracia – Reparação e Justiça Social”, ocorrendo, de fato, na prática.
“A construção que ocorreu lá trás, na época da escravidão e das políticas de segregação racial, impacta na sociedade até hoje. Isto reflete nas estatísticas da violência, que acomete principalmente a população negra, como também na reduzida ocupação de cargos de liderança por pessoas negras”, disse o promotor de Justiça de Matelândia e palestrante Dr. André Luiz Querino Coelho.
Ao longo da palestra, o promotor lançou uma reflexão sobre democracia, igualdade e reparação – desafios que a sociedade enfrenta até hoje.
Durante as boas-vindas ao público presente, a secretária da Mulher e dos Direitos Humanos de Quatro Barras, Ieda Tolardo, reforçou a importância da conferência como instrumento de criação de políticas de promoção da igualdade e de combate ao racismo.
“A diversidade é a nossa grande riqueza. Buscar direitos iguais é a nossa grande missão e superar a discriminação é a nossa tarefa. A todos nós cabe parte desta responsabilidade”, destacou Ieda.
O promotor de Justiça da Comarca de Quatro Barras, Dr. André Luiz de Araújo, enfatizou que o racismo não é um assunto pessoal, mas coletivo, que ‘atravessa a garganta do país’ até hoje.
“Enquanto não tratarmos as prioridades como prioridades, vamos seguir apagando incêndios. É preciso falar e tratar as feridas do país”, disse ele.
A mesa de autoridades foi composta também pelo presidente do Conselho Municipal de Igualdade Racial (COMPIR), Edson Nunes, que citou os desafios na reconstrução cultural do país, quanto à igualdade racial, e a própria mobilização da sociedade e dos segmentos frente a este tema; e pelo representante do Poder Legislativo, Daniel Albuquerque.
O evento, organizado pela Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos de Quatro Barras e pelo COMPIR (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Social), seguiu com a palestra e mediação dos eixos temáticos da conferência, ministrada pela procuradora de Quatro Barras, Dra. Renata Kroska. Os participantes foram divididos em grupos para discussão dos eixos e elaboração das propostas, votadas logo em seguida na plenária. As propostas agora serão encaminhadas à 6ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial, com a participação de delegados eleitos durante a conferência.