A Gazeta da Região Metropolitana: Quais as atribuições da Secretaria Municipal Extraordinária para o Desenvolvimento da Região Metropolitana de Curitiba?
Thiago Bonagura: A secretaria é recém-criada na gestão do Eduardo Pimentel. Na verdade, ela foi reativada. Chamava-se “Assuntos Metropolitanos”, na época do Cássio Taniguchi. Depois, foi desativada e reativada na gestão do Greca com o nome de Desenvolvimento da Região Metropolitana, ganhando um novo status direcionado à integração e desenvolvimento da RMC. Atualmente, é vinculada a Secretaria de Governo. Não tem um orçamento próprio, um corpo técnico robusto. Então, a gente faz a articulação, a interlocução com os municípios. Essa articulação é muito importante, é a chave para resolver problemas comuns diversos, atender as demandas. A integração é fundamental, pois, há diversas demandas em comum que precisam ser atendidas de forma conjunta, a exemplo da gestão do lixo urbano, a destinação e processamento dos resíduos. Cada município faz sua coleta separadamente, mas a destinação e o processamento são feitos pelo consórcio. E tudo é levado ao aterro sanitário em Fazenda Rio Grande.
A Gazeta: Quais outras áreas demandam esse olhar integrado?
Thiago Bonagura: São diversas, a exemplo do transporte público. Uma parte é feita pelo sistema integrado administrado pela AMEP – Agência para Assuntos Metropolitanos do Paraná, do Governo do Estado. E há, também, a integração com Curitiba, administrada pela URBS, quando os ônibus fazem a ligação com Curitiba. O município de Pinhais, por exemplo, tem o transporte público 100% integrado onde o usuário paga somente uma passagem, inclusive, no trajeto para Curitiba, ida e volta. São poucos os municípios que têm o transporte 100% integrado. O transporte é um dos itens da mobilidade urbana. Há, ainda, as ciclovias, as canaletas, a acessibilidade, o VLT, que está sendo discutido, uma linha que sairá do aeroporto até o Centro de Curitiba.
A Gazeta: Conte-nos um pouco de sua experiência profissional e como isso o qualifica para o cargo?
Thiago Bonagura: Nasci em Curitiba, mas fui criado em São José dos Pinhais. Há mais de vinte anos trabalho em áreas referentes a Região Metropolitana. Quando me formei em Jornalismo, além de São José, trabalhei lá na Região da Suleste, que engloba nove municípios, como, Pien, Campo do Tenente, Quitandinha, Mandirituba, Agudos do Sul, Lapa… É uma microrregião da Região Metropolitana onde participei ativamente da criação da Associação dos Municípios da Região Suleste. Aprendi a identificar quais eram as dificuldades daqueles municípios. Na época, era bem difícil. Um estudante que precisasse fazer uma faculdade em Curitiba encontrava muita dificuldade com transporte, pois, não havia linhas com passagem barata. Ou ele tinha de estudar em Mafra, Santa Catarina, ou vir pra Curitiba pagando passagem cara num ônibus de viagem. Ou teria de juntar uma turma e fretar uma van. Mais tarde, trabalhei por dez anos na Prefeitura de Pinhais, a convite do então prefeito Luizão Goulart. Foi quando vi a situação estando do outro lado. Do lado do poder público, onde pude conhecer os desafios da gestão, a exemplo dos entraves legais, da morosidade, dos trâmites. Quando o Luizão foi presidente da ASSOMEC – Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba, acumulei esse trabalho, também, na entidade. Foi onde realmente passei a entender melhor a realidade dos municípios. Para finalizar, nos quatro anos de mandato do Luizão como deputado federal, também, trabalhei com ele. Fui o encarregado de liberar as emendas parlamentares para os municípios. Mais uma grande oportunidade para conhecer, de verdade, as demandas e características de cada município. Um exemplo é Doutor Ulysses, que não pode ser comparado com Araucária, com Pinhais, São José. Quando se pensa em Região Metropolitana, frequentemente, só se pensa nos municípios do primeiro anel, que são vizinhos da capital. Mas há microrregiões mais afastadas onde 80%, 90% da população vive em áreas rurais. São demandas diferentes nesses municípios que quase não têm infraestrutura urbana. Muitos têm um orçamento muito baixo, diferente de municípios como Pinhais, Araucária e São José dos Pinhais.
A Gazeta: Você já tem recebido visitas de prefeitos e vereadores?
Thiago Bonagura: Sim, vários. Eles trazem diversas demandas. Uma delas é conseguir comercializar em Curitiba os produtos locais desses municípios. Tijucas do Sul, por exemplo, tem um potencial turístico fantástico, além da produção de alimentos orgânicos. Inclusive, há um trabalho para tornar o município a Capital dos Orgânicos. Como esses produtores vão conseguir entrar no mercado de Curitiba já que existem muitas regras, brechas e lobby? Se conseguirmos quebrar essa barreira será bom para todos, inclusive, o consumidor curitibano, que terá mais opções. Cerro Azul tem uma produção muito forte de ponkan. As frutas chegam a ser desperdiçadas lá por falta de oportunidades para vender em Curitiba. O atravessador paga o preço que ele quer e o produtor fica sem alternativa. Precisamos abrir esse mercado, contribuir para que esses produtores participem de férias em Curitiba. Levar incentivo para a produção de diversos produtos a exemplo de geleia, doces, cosméticos feitos com a fruta. Isso fortalece o mercado desses municípios e, também, o de Curitiba.
A Gazeta: O que precisa melhorar nas relações entre Curitiba e os municípios da Região Metropolitana?
Thiago Bonagura: É preciso um olhar mais positivo e construtivo sobre a Região Metropolitana. Frequentemente, quando se fala em Região Metropolitana, em Curitiba, há aquela visão equivocada de que os municípios são apenas sinônimos de problemas. A própria grande imprensa de Curitiba ainda tem essa percepção, de modo geral, só costumam fazer matérias destacando problemas, dificuldades dos municípios vizinhos a Curitiba. Mas há muita coisa boa acontecendo nos municípios que podem ser melhor exploradas pela imprensa, o que contribui para a visão do público, também, mudar.
A Gazeta: Sobre o Turismo, também, haveria essa postura separatista de Curitiba para com a RMC?
Thiago Bonagura: Sem dúvidas. Curitiba recebe anualmente 7 milhões de turistas. Mas ainda são poucos que aproveitam para conhecer a Região Metropolitana por desconhecimento, falta de divulgação ao turista que chega em Curitiba. Quando você viaja a uma capital do Nordeste, por exemplo, frequentemente os roteiros incluem municípios vizinhos, a exemplo de praias, dunas, passeios diversos. O mesmo precisa acontecer aqui. Estamos trabalhando com as agências para isso. Temos de capacitar equipes. Levantamos essa bandeira e o Instituto do Turismo executa. Já trabalhei aqui, na superintendência, e estávamos desenvolvendo um aplicativo para o turista, com dicas, sugestões de passeios na Região Metropolitana. Vamos retomar essa iniciativa. Um software moderno, atualizado, com todas as informações para o turista. Muito mais fácil que procurar no Google, que pode não contar com informações atualizadas e apresentar um viés que pode não ser o mais interessante ao turista. Pinhais, Colombo, Quatro Barras, Lapa e outros municípios contam com muitas atrações turísticas. São José dos Pinhais tem o Caminho do Vinho. Colombo e suas vinícolas. Pinhais com o Parque das Águas, a Rota da Cerveja. Enfim, são muitos atrativos. Já fizemos reunião com as secretarias e departamentos de Turismo dos municípios para tratar disso.
A Gazeta: O que a população da Região Metropolitana pode esperar da sua Secretaria?
Thiago Bonagura: Uma das ações mais objetivas é melhoria dos acessos, a exemplo da Rua Apucarana, em Pinhais. Fazer uma ponte para melhorar a ligação com o Bairro Alto. Há a obra da trincheira na Rua Paulo Kissula com a Rodovia João Leopoldo Jacomel, também. No projeto do Bairru, em Pinhais, onde era o Autódromo, temos a importante ligação pela Avenida Ayrton Senna, onde a responsabilidade é dividida entre Curitiba, Pinhais e o Governo do Estado. Será feita uma grande revitalização da área. Lá inclusive tem uma área de invasão em Curitiba, mas bem próxima aos limites do município com Pinhais. Esse problema precisa ser resolvido. A Cohapar já está trabalhando nisso. Conversando com a Amep, falamos de construir um grande Corredor Metropolitano para fazer a ligação com Quatro Barras indo para São José e passando por Pinhais e Piraquara. Em Curitiba, há a obra de ligação da ciclovia que sai do Jardim Botânico até Piraquara, passando por Pinhais, ligando todas as ciclovias. Teremos uma grande extensão de ciclovias unindo os municípios. Pinhais já tem toda estrutura de ciclovias, faltando a ligação com Curitiba. Em Piraquara, falta fazer uma parte.
A Gazeta: E para a área do Esporte?
Thiago Bonagura: Vamos retomar a Copa Metropolitana de Futebol e a Corrida das Nascentes. A Corrida tem um circuito que começa na nascente do Rio Iguaçu em Piraquara e percorre seis municípios: Piraquara, Pinhais, Colombo, Almirante Tamandaré, Campo Magro e Curitiba. São equipes de doze participantes em revezamento, num percurso de 110 km.
A Gazeta: E como é trabalhar com o prefeito Eduardo Pimentel? Quais atributos você identifica no prefeito?
Thiago Bonagura: Em primeiro lugar, o acesso fácil a ele, a abertura ao diálogo que é incrível. Acima da média. Já tivemos reunião com ele e é perceptível o quanto ele acessível a todos. Outro atributo é a grande disposição em trabalhar. O prefeito é jovem e tem muita vontade de fazer as coisas acontecerem. Tanto que, em trinta dias de gestão, já conta com um bom rol de ações. E quanto a Região Metropolitana, o prefeito tem uma visão bastante diferenciada. Ao invés de dar as costas a Região Metropolitana, tem demonstrado um real interesse em promover a integração e o desenvolvimento de toda Grande Curitiba. Tanto que ele já reafirmou que espera resultados concretos da nossa Secretaria. O Pimentel está vindo com uma nova metodologia de trabalho, em toda a gestão, aliás. Há muitas coisas boas em Curitiba, mas, também, muita coisa que precisa melhorar. Definiu uma equipe nova, equilibrando experiência com critérios técnicos, muito mais que critérios políticos.
A Gazeta: Qual mensagem gostaria de deixar para a população da RMC?
Thiago Bonagura: Quero contribuir para representar os municípios nos mais diversos setores. Estudando cada área, identificando demandas, conversando com todos os prefeitos. Tenho bom diálogo com a ASSOMEC, que tem o prefeito de Colombo, Helder Lazzarotto, como presidente. Fiquei feliz em contar com o prefeito de Piraquara, Marquinhos, como presidente do Pró-Metrópole. Participo ativamente da comissão do Pró-Metrópole, onde são realizadas ações específicas unindo todos os órgãos que têm um olhar para Região Metropolitana. Também, fiquei feliz em contar com a prefeita de Rio Branco do Sul, Karime Fayad, na presidência do Consórcio Multi-Finalitário, que era um consórcio só da saúde e passou a contar com diversas finalidades. E ainda temos a deputada estadual Marli Paulino na presidência da Comissão da Região Metropolitana, na Assembleia Legislativa. A partir da minha experiência e boas relações, vou contribuir com trabalho. Tenho esse respaldo de contar com essas boas relações e a ideia é levar bons resultados aos municípios. Não ficarei satisfeito sem resultados concretos.