No Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Ruth Cardoso, no Uberaba, crianças de 1 a 5 anos, das turminhas do berçário ao pré-escolar, ajudam a reduzir a produção de lixo e fazer a gestão dos resíduos sólidos.
Em meio às atividades e brincadeiras do dia a dia, os meninos e meninas estão aprendendo a separar materiais orgânicos dos recicláveis, reduzir o consumo de descartáveis e dar a destinação correta para cada material.
A conscientização é resultado do projeto Sustentabilidade Mais Tempo de Vida, da Secretaria Municipal da Educação.
Uma das primeiras mudanças feitas no Ruth Cardoso a partir do projeto foi a substituição dos copos descartáveis usados pelas crianças para beber água por garrafinhas plásticas. Cada uma das 260 crianças do CMEI usava no mínimo quatro copos por dia. As garrafas foram doadas por uma rede de farmácias e ajudaram a reduzir pela metade o consumo de 30 mil copos que eram usados por mês na unidade. Cada criança tem a sua garrafinha, identificada com o nome e higienizada diariamente pelas professoras da unidade.
O local onde as garrafas ficam armazenadas também colabora com a preservação do meio ambiente. Caixas de madeira usadas por um dos pais da unidade para o transporte de frutas e verduras foram transformadas em suporte colorido e versátil para acomodar as garrafinhas. A separação de todo o material usado nas salas de atividades é feita pelas próprias crianças que já sabem até ensinar o que pode ou não ser reciclado. “Nesta lixeira vão os papeis de atividades, os copos e o que for de plástico. Papel de nariz e resto de comidas vão na outra lixeira”, ensina a Ana Luiza dos Santos, de 5 anos.
Cores diferenciadas, figuras e objetos divertidos sinalizam as lixeiras e que tipo de material cada uma pode receber. A orientação constante das professoras é outra motivação para que cada criança, mesmo as menores de 2 ano já saibam a forma mais adequada de destinar os materiais. “Estamos em processo de conscientização das crianças que vão crescer compreendendo seu papel na sociedade e no mundo”, diz a pedagoga da unidade, Marcia Rizzi.
Sustentabilidade
Desenvolvido desde 2013 pelo Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Educação, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o projeto Sustentabilidade Mais Tempo de Vida visa fortalecer a educação ambiental na rede de ensino. O projeto já está implantado em escolas, gibitecas, unidades administrativas e Faróis do Saber de praças e agora será levado para CMEIs e Centros de Educação Infantil conveniados. O Ruth Cardoso iniciou como projeto-piloto.
O objetivo é desenvolver nas crianças e nas profissionais das unidades uma nova consciência socioambiental a partir do conjunto de ações propostas pelo projeto. A apresentação do Sustentabilidade Mais Tempo de Vida e alguns resultados já alcançados no CMEI Ruth Cardoso – que implantou o projeto no ano passado – foram mostrados na quarta-feira (29) para diretoras e pedagogas das unidades escolhidas para o projeto piloto na educação infantil. O encontro foi no Centro de Formação Continuada da Educação, no Centro.
A implantação do projeto envolve gestão de resíduos sólidos, com medidas adotadas nas unidades para a redução dos materiais e a capacitação de representantes nas unidades para observar, orientar e acompanhar a separação e correta destinação dos resíduos sólidos gerados no dia a dia. É desenvolvido em três grandes linhas: a gestão de resíduos sólidos e a construção das diretrizes curriculares de educação ambiental da rede de educação municipal; formação continuada dos profissionais da área e a promoção de discussões sobre desenvolvimento sustentável.
“Por meio de um conjunto articulado de ações buscamos a mudança de comportamento a partir da educação socioambiental, numa parceria que amplia o olhar da comunidade educativa sobre geração de resíduos e sustentabilidade”, diz a coordenadora do projeto, Narali Marques da Silva.
Além de orientações sobre a implantação do projeto e materiais para o desenvolvimento, as professoras e pedagogas acompanharam uma apresentação sobre compostagem feita pelo coordenador do projeto Solo na Escola, da Universidade Federal do Paraná, Jair Alves Dionísio. Também foram divulgadas no encontro informações sobre a lei 17.505, que instituiu a Política Estadual de Educação Ambiental e a necessidade da adequação das unidades educacionais à nova legislação.
A diretora do Departamento de Educação Infantil, da Secretaria Municipal da Educação, Maria da Glória Galeb, ressaltou durante o encontro o fato de o projeto Sustentabilidade Mais tempo de Vida complementar o trabalho de formação denominado “Eu o outro e o entorno”, que tem sido desenvolvido nas unidades de educação infantil da rede.
“Esta é uma nova oportunidade de desenvolvermos práticas de sustentabilidade que perpassam a formação das crianças e atendem uma necessidade da sociedade atual para a Gestão de Resíduos. Os CMEIs são solos férteis e as práticas implantadas favorecem a formação plena das crianças”, disse Maria da Glória.
Desafio
Durante o encontro a diretora do CMEI Ruth Cardoso, Ligiane Weirich, e a pedagoga da unidade, Márcia Rizzi, apresentaram os resultados do primeiro ano de implantação do projeto na unidade. Iniciar as ações propostas pelo Sustentabilidade mais Tempo de Vida foi um desafio assumido pela equipe do CMEI que conta ainda com a pedagoga Josiane Cordeiro e mais 50 professoras de educação infantil. “A proposta do projeto complementava a minha pesquisa de mestrado feita na área de educação ambiental e relações naturais, mas o que motivou mesmo a implantação do projeto foi o desejo coletivo da equipe em colaborar com a mudança da realidade local da comunidade do Icaraí”, disse Ligiane.
No ano passado, quando o projeto começou a ser implantado, a turma do pré percorreu ruas do bairro e viu de perto a situação do Rio Iguaçu, próximo do CMEI. “Somos ousadas e desejamos que estas crianças cresçam com um novo conceito sobre o consumo e gestão do lixo”, diz Ligiane.
O que começou como brincadeira virou automático para as crianças. A lição é também levada para dentro das casas e multiplicada com os familiares. Com pequenas ações, o CMEI viu reduzir em mais de 50% os resíduos e ainda está colaborando com a geração de renda de algumas famílias. Os brinquedos danificados, descartáveis que não podem ser substituídos e outros materiais são guardados e doados para uma das mães da unidade que trabalha na coleta de recicláveis.
Ouvir a experiência desenvolvida no CMEI Ruth Cardoso incentivou as equipes das unidades que vão implantar o projeto a partir de agora. “Este tema é uma preocupação que devemos inserir no contexto de formação para possibilitar mudanças de hábitos e comportamentos que se estende à comunidade. É uma forma de consciência cidadã que amplia o conhecimento das pessoas sobre a necessidade de separar, reciclar e preservar o meio ambiente”, disse a diretora CMEI Nelson Buffara, no São Braz.