por Noelcir Bello
Nossa reportagem conversou com dois médicos do Programa Mais Médicos, do Governo Federal, que atendem em unidades de saúde de Pinhais. Dr. Leandro da Cruz e Dr. José Hector nos contaram um pouco de suas histórias, suas impressões do SUS (Sistema Único de Saúde) e da saúde em Pinhais.
Dr. Leandro da Cruz
O médico Leandro da Cruz nasceu em Curitiba, morou em Corupá, Santa Catarina, e aos 25 anos foi para Cuba estudar medicina, no ano de 2007, aproveitando uma oportunidade que surgiu através do movimento estudantil.
Participou de uma rígida seleção e foi aprovado para estudar medicina. Ao chegar naquele país, foi novamente submetido a uma bateria de provas e provou ser apto a permanecer no projeto. “Foi uma grande aventura, pois não havia um aporte de bolsa de estudo. O Brasil apenas ajudava na viagem, o restante quem bancava era Cuba, do seu jeito”, lembrou Leandro.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Como foi o processo de formação?
Dr. Leandro: Na época, foram 400 estudantes brasileiros para Cuba. O difícil foi a adaptação à cultura, ao idioma, a alimentação e até mesmo as necessidades básicas. Até o terceiro ano apenas estudamos e após esse período passamos a atender nos hospitais, recebendo apenas apoio básico para compra de produtos triviais, do dia a dia.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Como foi sua chegada a Pinhais?
Dr. Leandro: Depois de formados, retornamos ao Brasil e por ser a primeira turma se fez necessário muitas negociações, com o apoio do governo brasileiro, para que o nosso diploma fosse reconhecido aqui. Os médicos foram selecionados a dedo, com experiência já comprovada, para não denegrir a boa imagem de Cuba na saúde. Fui muito bem recebido em Pinhais. Os munícipes e os colegas de trabalhos são muito solidários.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Existe semelhança na forma como Brasil e Cuba cuidam da saúde da população?
Dr. Leandro: Os dois países dão ênfase a saúde primária, mas acredito que aqui ainda não há médicos suficientes para atender a demanda. Cuba teve um período especial ao passar pelo embargo e como o acesso aos remédios era muito difícil, foram forçados a dar uma atenção especial ao atendimento primário de saúde. Se o SUS tivesse a capacidade total de atendimento, haveria uma queda nos atendimentos particulares. Pra saúde se estabilizar é preciso material, equipamentos, demanda de médicos e um intercâmbio entre médico e sociedade.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Como é feita a avaliação de sua atuação no Brasil?
Dr. Leandro: O Ministério da Saúde faz um acompanhamento periódico. Caso não esteja sendo cumpridas as exigências, bem como se não houver a aceitação da população e da Secretaria de Saúde, o profissional é desligado do Programa. Além disso, existe o prontuário, onde ficam todos os registros de atendimento, o que também faz parte da avaliação. Os colegas médicos criaram ainda um grupo de Whatsapp, chamado Revalida, onde é permanente ocorre a troca de experiências entre os que se formaram em Cuba.
Dr. José Hector Sahagun Flores
O Dr. José Hector nasceu no México e lá também se formou. Trabalhou nos Estados Unidos, no México e agora atua no Brasil. Ao chegar a Pinhais, já sabia que as pessoas precisariam de um tempo para entender os benefícios do Programa Mais Médicos, até pela repercussão causada em todo Brasil após o anúncio do Programa. No entanto, a adaptação foi quase que instantânea. “Gosto muito das pessoas, dos pacientes e a equipe de trabalho. São muito eficientes e os agentes comunitários trabalham muito, facilitando todo o sistema de saúde”, apontou José Hector.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Como foi estudar medicina no México?
Dr. José Hector: No México, depois da faculdade, o formado precisa trabalhar por um ano com o salário básico e morar na unidade básica de saúde, onde pratica tudo sobre as questões médicas e cirurgias ambulatoriais, como forma de retribuir ao país os estudos recebidos. Depois deste ano, temos que prestar um exame para receber o titulo de médico. Se não passarmos, temos que repetir os estudos.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Qual a sua percepção do SUS e a saúde em Pinhais?
Dr. José Hector: O SUS é algo magnífico, apenas não é possível atender toda a demanda. Em Pinhais, o controle da hipertensão, o tratamento da dependência química, os exames pré-natais, o bom suporte na atenção primária de saúde, são programas da Prefeitura Municipal que diferencia a cidade de outros municípios.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Que conselho daria para os munícipes de Pinhais para manterem uma boa saúde?
Dr. José Hector: As pessoas precisam se informar e participar de todas as oficinas oferecidas pelo município, como de hipertensão, diabetes, nutrição, tabagismo, ginástica e alongamento. Existem muitas atividades realizadas pela prefeitura objetivando a manutenção de uma boa saúde. É preciso uma educação em saúde. Precisamos mudar os hábitos alimentares e os comportamentos sociais. As pessoas também não deveriam consumir tanto medicamento.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Por que decidiu vir para o Brasil?
Dr. José Hector: Eu já conhecia o Brasil. Em 2007, morei por quatro meses aqui. Gostei tanto que optei por fazer seu mestrado na Universidade Federal do Paraná, em diagnóstico de combate ao câncer com infravermelho. Quando estava cursando o Doutorado, minha esposa me inscreveu para o Programa Mais Médicos. Lembro que só fiquei sabendo da inscrição quando recebi uma ligação de Brasília para assinar o contrato, com validade de três anos.
A Gazeta Cidade de Pinhais: Qual a sua impressão do Programa Mais Médicos?
Dr. José Hector: Este Programa é um ótimo início, mas o Brasil ainda precisa de mais médicos especialistas. Espero que seja dada sequência ao projeto. É visível o avanço na saúde do país.