Pauta do impeachment deve esfriar, mas, é mais uma carta na manga de Arthur Lira contra o governo
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Pauta do impeachment deve esfriar, mas, é mais uma carta na manga de Arthur Lira contra o governo

Após a comparação desastrosa do presidente Lula, no domingo, dia 18, sobre a reação militar de Israel na Faixa de Gaza, o requerimento para apreciação em plenário de um pedido de impeachment contra o presidente da República já conta com, ao menos, 122 assinaturas. A petição deveria ter sido protocolada no último dia 20, mas, a autora do requerimento, deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), decidiu adiá-la alegando a existência de pedidos extras para adesão ao movimento, que já somariam 138 assinaturas, inclusive, de parlamentares de partidos aliados do governo, detentores de ministérios.

Comparação descabida

Lula classificou a reação de Israel na Faixa de Gaza a um genocídio comparável ao holocausto nazista, criticando, assim, a dura e desproporcional ofensiva israelense contra o grupo terrorista Hamas, mas, que tem matado milhares de civis, inclusive, um percentual estimado de 45% de crianças. Ao criticar a resposta do governo de Israel ao ataque do Hamas sofrido pelo país no último dia 7 de outubro, o presidente Lula excedeu-se em uma comparação descabida e desnecessária. O genocídio nazista ao povo judeu ocorreu em um cenário absolutamente diferente e por motivações que não têm nada a ver com a guerra na Faixa de Gaza. O holocausto nazista constitui-se num fato histórico sem precedentes e incomparável, devido a natureza, métodos e ideologia presentes no nazismo alemão bastante distintos. Lamentavelmente, o presidente Lula cometeu um excesso que merecia um pedido de desculpas ao governo de Israel e ao povo judeu. Mas, Lula tem se recusado a pedir desculpas…

Civis mortos

O petista, como presidente da República, tem todo o direito em criticar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza e a forma com que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem conduzido a reação contra o Hamas. Milhares de civis palestinos, inclusive, muitas crianças, estão morrendo. A Faixa de Gaza encontra-se sendo completamente destruída sem que haja perspectiva de um fim a uma guerra em que não se tem notícias de que o terrorismo do Hamas ou de outros grupos apoiadores como o Hezbollah, do Líbano, sejam efetivamente neutralizados. A percepção de grande parte da opinião pública é a de que se trata de algo contraproducente, uma vez que lutar contra terroristas é algo muito diferente do que travar uma guerra entre duas nações armadas por um poderio militar simétrico onde não haja civis no front de batalha. Crimes de guerra, possivelmente, estejam sendo perpetrados pelo governo de Israel, que não conta com grande apoio popular entre os israelenses. Então, Lula não se encontra completamente equivocado ao tecer duras críticas. Mas, poderia ter medido as palavras. Não havia necessidade de ofender aos judeus numa comparação descabida com o holocausto nazista, revelando desconhecimento histórico ou uma nítida provocação não somente ao governo de Israel mas, ao povo judeu. Para quê botar o dedo na ferida do povo judeu a partir de uma analogia desproporcional e sem embasamento histórico?

Provocação?

Foi esse tom ofensivo e de suposta provocação que tem motivado o requerimento para votação do impeachment, com base na alegação de crime de responsabilidade cometido pelo presidente da República, conforme prevê a Constituição Federal. “Ato de hostilidade contra nação estrangeira expondo a República ao perigo de guerra ou comprometendo-lhe a neutralidade”. Não seria realista dizer que Lula coloca o Brasil em perigo de guerra, mas, sem dúvidas, a fala do petista retira o país da posição de neutralidade gerando uma séria crise diplomática. Netanyahu e a diplomacia israelense reagiram muito negativamente a Lula. O primeiro-ministro de Israel declarou o presidente Lula “persona non grata” em seu país. Lula mandou o embaixador brasileiro em Israel voltar ao Brasil.

“Eixo do mal”

Lula teria se equivocado num rompante ou fez a comparação de forma deliberada e provocativa a fim de causar um rompimento com Israel? Para a oposição ao governo, Lula teria dito de forma deliberada com o intuito de alinhar o país ao chamado “eixo do mal” composto por ditaduras como a da Rússia, do Irã, da Venezuela, de Cuba, da China, da Coreia do Norte, rompendo ideologicamente com as democracias ocidentais.

Parceria Brasil-EUA

Contudo, a parceria entre Brasil e Estados Unidos (principal aliado de Israel) continua forte, após visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conforme se noticiou sobre duas horas de conversa do norte-americano com Lula, em visita ao nosso país. Blinken, apesar de ter dito que não concorda com a fala de Lula, não fez cobranças durante o encontro. Aliás, o próprio presidente Joe Biden já andou criticando os excessos de Israel em Gaza, o que deixou Netanyahu indignado, também.

Parceria Brasil-Israel

O mais lamentável é que Brasil e Israel são parceiros históricos. Nosso país sempre manteve civilizadas relações diplomáticas com Israel. Foi muito bacana ver como Israel foi o único país a ajudar nas buscas às vítimas da tragédia em Brumadinho, por exemplo. A expectativa é a de que não haja confusão entre as relações diplomáticas entre ambos os países e as relações entre “Bibi” Netanyahu e Lula. A briga, espera-se, deve ficar, ”apenas” entre os dois chefes de Estado e não venha a afetar parcerias de diversas naturezas (científicas, econômicas, de tecnologia) entre Brasil e Israel. Declarar Lula “persona non grata” trata-se de algo bastante pessoal referente a Lula e, não, ao Brasil. Temos uma grande comunidade judaica no país, bastante atuante em diversos setores. Que as parcerias entre os países não se percam por causa de lideranças políticas que estão longe de serem unanimidade entre os respectivos povos é o desejo de muitos brasileiros.

Pauta do impeachment

Quanto ao pedido de impeachment, a expectativa é de que o movimento venha a esfriar. Todos sabem que a possibilidade de haver quórum para aprovação em plenário é inexistente. Seriam necessários ao menos votos favoráveis de 342 deputados e de 54 senadores. No entanto, não deixa de representar um enorme desgaste ao governo, que já mantém uma relação bastante conturbada e desafiadora com o Congresso Nacional desde o início do mandato. O requerimento para o impeachment deixa o governo, mais, ainda, nas mãos do Congresso Nacional.

Carta na manga

O presidente da Câmara, Arthur Lira, comenta-se nos bastidores, não deverá colocar em pauta o pedido de impeachment, mas passa a contar com mais uma carta na manga para articular com o governo conforme seus interesses. Sabe-se que não há clima político para um impeachment, no momento, mas, poderá, quem sabe, haver, futuramente. Se a economia patinar, se o déficit fiscal não for sanado, mais um passo em falso do governo, se houver povo nas ruas… Todavia, por enquanto, tudo isso não passa de especulações e de um sonho distante da oposição…

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