por Vanessa Martins de Souza
O país tem sido atingido em cheio pela pandemia provocada pelo novo Coronavírus/Covid-19. Os dias têm sido duros e a expectativa é de que se tornem ainda mais difíceis quando houver o pico de contágio, dentro das próximas semanas. Apesar dos maus prognósticos, é necessário que a população mantenha a calma e evite o pânico.
O pânico, além de não ajudar em nada, costuma atrapalhar, e muito. Um exemplo de comportamento reativo movido a pânico tem sido a iniciativa de estocagem de alimentos. Essa medida é absolutamente desnecessária, pois, pelo que tudo indica, não haverá crise de abastecimento. O setor continua trabalhando e produzindo. O resultado desse comportamento reativo, desesperado, só tende a agravar a situação, gerando inflação, por aumento da demanda, tornando mais caros os alimentos e demais mercadorias, dificultando a compra para quem tem baixo poder aquisitivo. Além dos aumentos ainda existe a possibilidade de falta temporária das mercadorias até que os estabelecimentos consigam se reabastecer. A corrida por álcool gel, por exemplo, fez com que o produto praticamente desaparecesse do mercado. Os poucos estabelecimentos que ainda o disponibilizam estão cobrando “os olhos da cara”. Uma postura lamentável, vergonhosa, que pode ser punida pelo Procon, inclusive.
Rigorosa quarentena
Fundamental, mesmo, nessa triste e grave realidade que enfrentamos, é adotar todas as medidas de prevenção ao contágio amplamente divulgadas pelos meios de comunicação. Infelizmente, o povo brasileiro, na grande maioria, é muito indisciplinado, tendo sido, com muito custo, compelido pelas autoridades a ficar em quarentena em casa. Obviamente, há aqueles que não poderão ser dispensados do serviço ou trabalharem em home office. Mas, os que puderem, devem adotar a quarentena imediata e irrestritamente. Diminuir os contatos sociais em, no mínimo, 75%, tem sido a recomendação dos infectologistas.
Bolsonaro errou feio
Como se não bastasse a resistência de muitos brasileiros em aderir a uma rigorosa quarentena em casa, o presidente da República e parte de seus apoiadores, a partir das manifestações populares nas ruas, em pleno início da pandemia no país, no último dia 15, deram mau exemplo. Bolsonaro incentivou as manifestações, mas depois recuou. No entanto, o presidente compareceu publicamente cumprimentando apoiadores e ainda posando para selfies com vários deles. Deixou de cumprir todos os protocolos para evitar o contágio, pondo em risco sua própria saúde e a dos manifestantes. Tudo isso depois de voltar de uma viagem aos EUA, com membros de sua comitiva já apresentando testes positivos para o novo coronavírus. O que dizer de um presidente da República que deveria, como autoridade pública, um chefe de Estado, ser o primeiro a dar o exemplo e alertar o povo sobre a gravidade da situação?
“Panelaços”
Depois dos “panelaços” em diversas capitais entoando-se “Fora, Bolsonaro”, parece que o presidente se tocou que tal postura poderia provocar uma grave crise política, no mínimo.
Globo superdimensiona “panelaços”
Se Bolsonaro errou vergonhosamente na abordagem à pandemia, no entanto, não se pode isentar a Rede Globo de sua responsabilidade em botar lenha na fogueira. Evidentemente, os “panelaços” teriam de ser noticiados pela emissora. Mas, a percepção é a de que houve um enfoque excessivo aos protestos, com a exibição das imagens por um tempo além do razoável. No entanto, as manifestações em favor de Bolsonaro foram praticamente desconsideradas pela emissora.
“Inimigos da nação”
A despeito de todos os erros de Bolsonaro, em relação a esse cenário nacional gravíssimo, não foi nada ético e decente tentar insuflar os ânimos do povo na defesa de um impeachment ou afastamento do presidente da República. Esse é o pior momento para alimentar uma crise política com um desfecho tão radical. Quem aposta no caos deve ser categorizado como inimigo da nação e do povo brasileiro, seja a imprensa, a oposição, a militância ou simples integrantes da população.
Proteção ao SUS
Mesmo com tantas dificuldades, é tempo de união, cautela, sensatez e serenidade. O momento é de respeito e solidariedade ao usuário do SUS, que infelizmente está sendo contagiado pela Covid-19 e, possivelmente, irá necessitar de leitos hospitalares e de UTIs. Sendo assim, todos nós devemos proteger o SUS, fazendo a nossa parte para evitar o colapso do sistema. Não podemos esquecer de que o Sistema Único de Saúde também necessita de leitos e de UTIs para pacientes com outras doenças. Se a pandemia alastrar-se muito rapidamente, o Brasil chegará a um momento semelhante ao da Itália, no qual terá de escolher quem será tratado e quem deverá ser deixado para morrer, sem qualquer atendimento. Então, sendo assim, alguma dose de empatia e de solidariedade cairia muito bem a tantos brasileiros que só pensam em disputas ideológicas, buscando extrair vantagens até mesmo de tragédias. Isso não é ser politizado, é fanatismo e mesquinharia. Verdadeiro golpe baixo, mesmo, que só pode vir de pessoas desprovidas de um mínimo de senso humanitário.